"Você vai encontrar o amor assim que parar de procurar por ele."
Essa é a frase que passei a minha vida toda ouvindo, e que a cada dia que se passava tinha mais certeza que era a mais pura mentira. A maior baboseira já inventada para distrair os ansiosos.
Estamos sempre buscando amor e a quem amar. Não importa qual o sentido da vida, o momento em que caímos de quatro por alguém e resolvemos desafiar todos os bons conselhos já nos dito e dar a cara a tapa era o que realmente importava. Era sempre o ponto principal. O clímax. Le grand finale.
E foi no momento em que pousei meus olhos em Isabelle Crawford que tive a constatação de que sempre estive certo. Era como se eu tivesse passado a minha vida toda a procura dela antes mesmo de conhecê-la.
No momento em que a vi dando piruetas no gelo, fazendo acrobacias que pareciam perigosas demais para sua pequena estatura, meu coração - esse belo músculo oco responsável por impulsionar o sangue através dos meus vasos - resolveu fazer alguns giros também.
Quando Isabelle Crawford sorriu em minha direção pela primeira vez eu podia jurar que tinha acabado de sofrer um começo de infarto.
E eu nem estou sendo dramático.
Quando eu a vi acenando para mim através do vidro de proteção da arena no nosso primeiro jogo da temporada, senti como se tivesse acabado de levar uma rasteira do jogador adversário e caído com tudo no chão.
Oh, wait.
Eu realmente levei uma rasteira do jogador adversário e o resultado disso foi uma leve contusão na costas.
Isabelle Crawford, eu literalmente caí de amores por você. E desde então, minha vida se tornou um jogo onde seu coração era meu prêmio final. Isso é clichê o bastante?
Quando eu a chamei para sair pela primeira vez, ela recusou.
Sabe a contusão nas costas devido ao tombo? Nada comparado a dor de ouvi-la, com toda sua voz meiga e sorrisos cativantes me dizendo não.
Eu sou tão ruim assim?
Tudo bem que ela era co-treinadora da equipe infantil dos Blackhawks e eu um jogador da liga profissional mas so what? Nós não escolhemos por quem vamos nos apaixonar.
(Mas eu tenho a leve impressão que se pudéssemos, eu ainda escolheria você.)
Mas tudo bem, eu sempre gostei de desafios. Não me entenda mal, conquistá-la não era apenas um capricho que eu precisava dar fim, longe disso. Conquistá-la era tudo que eu mais almejava porque sabia que só assim meu pobre músculo oco impulsionador de sangue teria paz.
Quando eu a mandei um buquê de rosas na minha - talvez - quarta tentativa de fazê-la aceitar meu convite para jantar, ela me ignorou por duas longas e agonizantes semanas.
Eu descobri da pior maneira que Isabelle Crawford odeia flores. Segundo ela, elas tinham cheiro de morte.
(Alguns dias depois descobri que ela prefere cactos em miniaturas e bonsais.)
Quando minhas esperanças já estavam torcidas e esmagadas debaixo de seus tênis, ela me encontrou na saída do treino em uma tarde qualquer e me perguntou se eu não queria sair para almoçar com ela.
Ela realmente o fez. Depois de quatro fucking semanas em que eu tentei conquistá-la, ela me mostrou que não queria ser conquistada.
Aquele almoço terminou com um convite para jantar - meu, obviamente - e com uma singela recusa - o crédito desta é totalmente dela.
Mas daquela vez, o sorrisinho sacana que ela trazia nos lábios me deu a certeza de que talvez rolasse um café da manhã em algum momento não muito distante.
Eu nunca vou entender você, Isabelle, mas pretendo passar minha vida inteira tentando.
Meses depois, quando fomos eliminados dos playoffs, tudo o que eu conseguia pensar era no quanto eu a tinha desapontado, dentre todas as pessoas. Mas, por incrível que pareça, os braços dela foram os primeiros a encontrar meu corpo estático depois dos meus colegas de time.
Naquela noite, eu tive Isabelle em minha cama pela primeira vez. A noite que idealizei por quatro longos meses, terminou comigo dormindo ao lado dela depois de ter passado minutos - ou horas - derramando lágrimas de frustração e desgosto enquanto ela apenas mantinha as mãos nos meus cabelos, num carinho inocente que eu já nem lembrava mais como era a sensação.
Ela não me disse que estava tudo bem. Ela sabia que não estava. Tampouco me disse que tínhamos feito nosso melhor porque sabíamos muito bem que não tínhamos, tudo que ela fez foi deitar ao meu lado em silêncio. E isso valeu mais do que qualquer discurso de consolação que eu já recebi.
Na manhã seguinte entretanto, ela gritou comigo e xingou meu time, como qualquer torcedor tinha o direito de fazer naquele momento. A plenos pulmões ela deixou bem claro que se não voltássemos para dar a volta por cima da próxima vez, ela iria, pessoalmente, bater na nossa cara com tacos de hockey.
E eu aceitei com o maior sorriso que meus lábios já deram porque, apesar de tudo, Isabelle Crawford estava na minha cozinha, bebendo café na minha caneca enquanto gritava comigo.
E foi sensacional.
Dois anos e meio depois, quando eu me ajoelhei no gelo da United Center lotada no meio de um jogo oficial com um anel de noivado em mãos, Isabelle Crawford ameaçou cortar o meu braço fora enquanto eu estivesse dormindo antes de dizer sim.
Sete meses mais tarde, quando eu a vi andando em direção ao altar em que eu me encontrava com um sorriso estampado e seus olhos marejados, senti como se todas as peças do quebra cabeças da minha vida estivessem finalmente se encaixando.
Finalmente, eu tinha encontrado o amor que tanto busquei. Aquilo que procurei durante toda minha vida, achei em Isabelle Crawford.
Meu músculo oco impulsionador de sangue nunca esteve tão feliz.
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Segredos
Short StoryProcuro um amor que seja bom pra mim. Vou procurar, eu vou até o fim. Escrita por @xmar1a Segredos - Frejat Ryan Hartman - NHL