Capítulo 1

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Meus pais eram o estereótipo de pais de sempre: Meio chatinhos, cuidadosos demais e davam atenção quando podiam. Eu não ligava, do fundo do coração, preferia ficar sozinha com meu irmão mais novo que parecia não lidar muito bem com a situação. Meus pais eram donos de um empresa muito grande de cosméticos, então éramos podres de ricos. Eles adoravam se gabar disso, e eu? Foda-se, eu só queria fazer meus planos quieta no meu canto. Meu maior sonho sempre havia sido construir um restaurante, já que eu amava a culinária mais que tudo na vida, mas eu queria uma cidade específica e não uma metrópole gigantesca onde eu ficaria apagada e iria à falência. O que isso tem a ver com meus pais? Nada, só queria falar dos meus sonhos mesmo.

Minha mãe se chamava Kaite. Era uma morena alta, dos cabelos loiros e cacheados em um black maravilhoso. Tinha uma personalidade muito forte e uma atitude sem igual.

Meu pai se chamava Jeon. Eu costumava chamá-lo de "neve", de tão branco que ele era. Careca e dono de lindos olhos castanhos. Meu pai sempre fora o mais carinhoso e observador. Tinha o pulso firme com a minha mãe e era o único que conseguia pará-la quando ela ficava desenfreada.

Meu irmão se chamava Peter. Ele era adotado, porque minha mãe havia operado após me dar a luz. Ele era branco, tinha os olhinhos negros e o cabelo da mesma cor, espalhado para todo lado e muito liso. Peter era muito carente e não parava quieto um segundo, além de amar brincar com legos.

Não parecia, mas mesmo com a ausência éramos uma família unida. Ok, devo admitir, mesmo reclamando nunca havia me faltado absolutamente nada, mesmo minha existência sendo bem clichê. Eles me apoiaram a fazer minha faculdade de gastronomia fora, a melhor de todas, tanto que durou mais que o normal. Fiquei três anos na faculdade de gastronomia, terminando-a quando tinha 20 anos, quase 21. Foi então que a minha mãe teve a brilhante ideia de viajarmos de helicóptero para comemorar. Íamos para outro país onde meus pais tinham uma filial da empresa. Escolheram helicóptero porque minha mãe julgava extremamente chique... Bem, vai entender. Nos arrumamos e arrumamos as malas, viajamos e fomos ao tal país. Foi incrível, tenho que admitir. Consegui provar as comidas de lá, entrei em várias cozinhas de restaurantes por ser filha de quem eu era e consegui estudar legal a gastronomia de lá, comprei diversas coisinhas para o meu quarto, umas roupinhas e fomos em parques e alguns shows aqui e ali. A cidade que paramos era demais, o país era demais, mas eu não o escolheria para morar justamente por ser tão gigante assim. Não, eu queria algo mais pacato e não tão longe de casa para ser realista. Eu tinha o país certo em mente, era nosso país vizinho e a língua era quase a mesma da nossa, era preciso estudar só mais um pouquinho. As noites que eu voltava das saídas, planejava como seria meu restaurante e etc com a ajuda de Peter, que parecia tão interessado como eu. Dizia ele que queria ser um dos gerentes para poder comer todas as batatas-fritas. "Sim", eu respondia "Você vai comer todas as batatas, eu juro".

Ficamos quase duas semanas no país e foi bem cansativo, porque estávamos para lá e para cá nele basicamente todo dia. Era hora de voltar. Pegamos o mesmo helicóptero e o piloto parecia meio preocupado, disse que provavelmente teríamos um pouso forçado se saíssemos naquele dia, mas ela era apressada, disse que jamais aconteceria isso, que havia pago caro no helicóptero e ele devia ser perfeito.

Porra, mãe...

Subimos no helicóptero e ele estava sobrevoando uma mata densa quando tudo começou a ficar estranho. Peter estava deitado no meu colo, minha mãe mexia freneticamente no celular e meu pai comentava comigo sobre a vegetação e dizia algumas curiosidades do local quando o helicóptero começou a inclinar. O piloto começou a gritar e a próxima coisa que eu consigo me lembrar foi de ter sido salva por paramédicos.

Pelo laudo, o helicóptero teria dado algum tipo de tela azul, não sei explicar, e então teria ficado sem resposta e caído. Minha mãe tinha sido partida ao meio. Meu pai tinha ficado sem cabeça. Peter estava vivo, mas em coma porque tinha batido forte demais as costas e tinha risco de ficar paralítico. Eu tinha chances de perder uma perna e um braço, além de ter uma pequena perfuração na costela, mas nada que pudesse tirar a minha vida.

Fiquei internada pelo que pareciam meses. Meus membros estavam bem, minhas costelas também, eu estava OK. Meu irmão teria que usar muletas por um tempo e tomar remédios de ansiedade por toda vida, mas estava bem.

Meus pais haviam deixado uma grande herança que havia sido dividida entre eu e Peter. Durante dias, chorei sem saber o que fazer com a minha vida. Meus sonhos pareciam ter morrido dentro de mim, nada mais parecia ter muito sentido para ser bem sincera, eu só queria ter morrido naquele acidente com meus pais... Mas, cara, não dava pra ser fraca. Meu irmão precisava de mim.

Agilizei o lado da empresa e botei meus tios de frente, garantindo o lucro que iria para mão do meu irmão. Deixei ele com meus avós que logo cuidaram para que ele passasse por diversos médicos para superar o trauma psicológico. E eu? Bem, fui estudar idiomas. Mantive minha cabeça cheia com as provas difíceis do curso intensivo e, por uns meses, esqueci do restaurante. 

Por uns meses, as coisas melhoraram. Eu ainda sentia falta dos meus pais, porém meu irmão estava bem melhor, as empresas estavam bem e eu já estava formada em ambos os cursos. Fiquei pela casa algumas semanas tentando decidir quem eu era de novo, o que eu queria, para onde eu iria... Mas aquela casa, ela parecia me matar devagar...

  — Vó — Chamei, descendo as escadas pela primeira vez em três dias— Eu vou viajar.

Minha avó pausou a novela e me olhou, assustada.

— Para onde?— Perguntou ela, pousando as mãos no peito— Lea, você tem certeza de que...

— Eu não sei para onde, vovó— Respondi, indo até o globo no canto da sala— Você pode ficar aqui com o vovô e cuidar do Peter? Eu não devo demorar. Preciso... De um tempo.

Minha vó franziu os lábios e então veio até mim, depositando um beijinho na minha testa. Ela rodou o globo novamente e parou com o dedo no país vizinho ao nosso... O país que eu queria fazer meu restaurante. Senti um solavanco no peito quando o dedo dela parou nele, como se um forte jato de esperança tivesse sido solto no meu peito depois de tanto tempo.

— A culinária deles é espetacular, já estive lá com o seu avô— Disse vovó—  É pacato e médio, você vai gostar, querida.

Olhei para o país e decidi que ele seria o terceiro ou quarto da lista, porque eu queria muito viajar por aí antes de talvez me estabelecer em um lugar só.

Mas estava decidido: Era hora de sair por aí e me encontrar novamente.

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⏰ Última atualização: Apr 28, 2017 ⏰

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