Capítulo 1

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Capítulo 1


Não existe lugar mais maravilhoso para se viver do que em Ralhon.

Pelo menos era isso que a pequena Íris pensava enquanto mastigava um pedaço de maçã debaixo de sua árvore favorita.

Certamente ela não ganhava todos aqueles brinquedos estranhos que a maioria das crianças possuia e algumas vezes - talvez muitas - faltavam legumes para o bom e velho ensopado que sua mãe preparava, mas, ainda assim, adorava Ralhon e não abria mão de toda diversão que ele sempre lhe proporcionou em tardes de sábado como estas.

Sorrindo para si mesma mordeu mais um pedaço da maçã e se pôs a observar seu melhor amigo, Artur, que insistentemente tentava acertar os pássaros com um estilingue.

- Ai! - bradou quando o garoto acertou uma pedrinha em sua cabeça - Artur, você não tinha um jogo de futebol para ir hoje?!

Ele apenas deu os ombros e mirou em um passarinho mais a frente, esticou bastante o elástico do estilingue conseguindo vitoriosamente acertar a ave que caiu desfalecida.

Satisfeito guardou no bolso seu carinhosamente apelidado "instrumento de guerra" e sentou-se ao lado da garota.

De fato ele havia um jogo de futebol para comparecer e provavelmente os garotos estavam repletos de raiva pela sua falta de comprometimento, mas a verdade é que ele odiava futebol e trocaria todos os jogos do mundo apenas para ficar ao lado de Íris. Não apenas porque era sua melhor amiga desde sempre, mas porque Íris era simplesmente a garota mais encantadora que ele já vira em toda sua vida.

Todos paraciam ser iguais em Ralhon, muitos loiros e com olhos que variavam em diferentes tons de azul e verde. Até mesmo ele era assim.

Exceto Íris.

Seus cabelos eram extremante pretos com leves ondulações. Os olhos? bom, eram uma das coisas mais excepcionais do conjunto: escuros como dois buracos negros capazes de sugar qualquer um que se atrevesse a encara-los.

E esses pensamentos Artur jamais falaria em voz alta.

- Cortaram sua língua por acaso? - Íris o tirou de seus pensamentos secretos.

- Não estou com muita vontade de ir ao jogo hoje, entretanto você é tão irritante que posso até mudar de ideia - a garota sorriu e empurrou se amigo de leve.

O fato é que ela adorava a sua companhia e odiaria saber que ele estava ocupado demais fazendo qualquer outra coisa a não ser estar com ela. Isso obviamente soava um tanto obsessivo mas o que ela poderia fazer? A verdadeira felicidade só aparecia quando Artur batia na porta dela pela manhã com seus enormes olhos azuis. Ela nunca entendeu direito a causa dela e de sua família terem a aparência diferente à maioria do reino, mas com Artur ela se sentia única.

- Tá - tentou esquecer os sentimentos esquisitos e focou na única coisa que vinha consumindo seu juízo - O que tanto você queria me mostrar? Fiquei a noite toda na curiosidade!

- Ah! - num estalo o garoto pegou sua mochila que estava jogada em qualquer lugar e começou a vasculhar tirando de dentro uma caixinha branca - Tã dãaa!

Íris olhou sem entender fazendo com que Artur retirasse um aparelho fino e retangular de dentro da caixa.

Ela continuou sem entender.

- Legal, mas o que é isso? - tomou o aparelho da mão do amigo e uma tela brilhante se acendeu deixando-a maravilhada.

- Eu não sei muito bem, o Max disse que é um celular - pegou o aparelho de volta.

- Celo...o quê?

- Celular - o garoto revirou os olhos.

- E como ele conseguiu isso? - a tela do negócio se apagou sozinha.

RalhonOnde histórias criam vida. Descubra agora