Quarta-Feira

28 12 20
                                    

     Em uma quarta-feira tediosa Dr. Friedrich lia seu precioso exemplar de "Cem anos de solidão" embalado pela batida melancólica do relógio de parede tique-taque. Em seus plenos vinte e dois anos era um psiquiatra de respeito em Bad Münstereifel, Alemanha, perante seus amigos refletia a imagem de um velho senhor vivido e não o belo jovem loiro de olhos azuis julgado pelo seu jeito antiquado de viver.

- Dr. Friedrich! O paciente Charlie Brüggemann.- Anuncia sua secretaria com um leve sotaque francês que revela seus traços por trás de suas madeixas ruivas e esvoaçadas.

- Peça-o para adentrar... E nos traga uma xícara de chá- o Dr. Voltou ao seu livro, porém sua secretária ainda o observava – Ande Pia o paciente está esperando. – Pia com um aceno se retira da sala com o barulho do andar um pouco exaltado, pois, mesmo que seu chefe fosse uma ótima pessoa não era fácil de sustentar uma paixão platônica quando o mesmo era rude.

- Sr. Charlie! Sente-se ... qual o motivo que lhe traz aqui? Obrigado Pia pode se retirar.

- Olá Dr.! Não estou aqui por minha vontade... minha filha que me obrigou a vir, Carolaine acredita que estou louco, contudo está não é a verdade!

- Sim entendo. Mas por qual motivo ela acredita em tal hipótese? – Friedrich apenas levanta os olhos para observar o ser em sua frente. Um idoso, possivelmente na casa dos 80, de cabelos brancos e longos amarados em um pequeno rabo de cavalo, roupas pretas com uma jaqueta de couro que tinha o cheiro de bolor e dava a Charlie uma aparência exótica.

- Ah, boa pergunta ... talvez pelo jeito que venho me comportando, sabe... Roupas de couro, estilo playboy, e quando ela discute comigo entro em meu quarto e bato a porta com força e coloco o meu rádio no último volume e começa a tocar Psychosocial, conhece? " I did my time and I want out/So effusive – fade /It doesn't cut/The soul is not so vibrant" posso lhe contar algo? – Ele sorri com os poucos dentes que lhe resta e o Dr. confirma com um aceno – Há algumas semanas Carolaine me pegou bebendo uma cervejinha, não era nada de mais eu não sou uma criança, talvez só seja um adolescente que gosta de experimentar coisas novas, mas ela não entende e acha que tudo que faço é para irrita-la, tenho horários para estar em casa, devo fazer o dever de casa e não posso escutar meu rock.

- Talvez ela está te protegendo, digo é muito perigoso para um senhor de sua idade fazer certas coisas...

- Está me dizendo que sou velho demais para gostar de escutar rock, usar roupas pretas e fazer as coisas como os jovens de sua idade? Sendo que só você que vive neste mundo sem se divertir as outras pessoas não precisa seguir as regras! Mesmo com aparência jovem o Sr. Aparenta-me ser um velho rabugento que vive em um mundo calmo e intelectual. Quer um conselho meu filho?

- Em minhas consultas quem aconselha sempre sou eu, mas porque não lhe dar a chance –Diz o Dr. observando que seu paciente parece mais alguém de 17 anos, que se apaixona, perde a hora, se ilude, deseja fugir de casa, se apaixona novamente e acaba quebrando a cara de novo, escuta rock, fala palavrões, se revolta com tudo e chora por nada, um verdadeiro jovem revoltado com a vida, ao invés de parecer com um Sr. de 80 anos que devia estar lendo um jornal e completando palavras-cruzadas com uma caneca de chá ao lado e pílulas no outro.

- A juventude não é uma idade, como 13 ou 17 anos, ela é um estado de espirito que você pode viver em qualquer idade. E mais uma coisa chame sua secretária para ir ao teatro, ela não vai te amar a vida toda se você não a amar também.- E com isso Charlie deixa a xícara de chá na mesa de centro e se retira com um sorriso e uma piscadela para Dr. Friedrich

♡♡♡
Falar sobre velhice não é fácil, podemos até imaginar como ela é, mas não temos as experiências que ela proporciona.
A única coisa que sei é que não existe idade para ser feliz, basta fazer o que lhe agrada e esquecer os preconceitos impostos por uma sociedade presa em pensamentos pequenos.

Notas da autora: Primeiramente quero agradecer a Deus por te me dado esse privilégio de conhecer a leitura e poder escrever. Quero agradecer a minha família por me fazer enxergar que a vida é maravilhosa e de coração agradeço ao meu avô por ter me ensinado que a vida não para por causa de algumas rugas.

Agora Quero agradecer a todos meus Pad's por me incentivar escrever e com um carinho imenso agradeço a você, meu leitor querido. Obrigada por viajar em meu universo.

♡Até o próximo universo♡

Apenas Viver ☆Concluído☆Onde histórias criam vida. Descubra agora