Vínculos - livro 2

Capítulo Nove

Rebeca

Inalo o ar puro do ambiente em que estávamos, uma fazenda. O cheirinho de terra molhada e a sensação de liberdade me deixa bem mais feliz que o normal, eu estava amando tudo. Amando a idéia de ter saído da favela por uns dias e o melhor é ver o Artur bem mais relaxado e tranquilo, era disso que ele precisava pois os negócios na boca o deixa tenso demais.

Cinco dias haviam passado desde que chegamos aqui, estavamos em uma casa só para nós. A vista é incrível, tem grama por toda parte, uma piscina enorme em frente à casa, sala de jogos, estábulos e uma sauna maravilhosa.

Prendi os fios de cabelos formando um coque frouxo, ageitei o biquíni e me deitei na espreguiçadeira após pôr os óculos de sol.
Eu não tirava da mente o fato de ter os meus filhos sozinhos em casa, à todo momento penso na Alexia e no Lohan aprontando, no Matheus e a Luna, o pior é saber que eu posso chegar e encontrar a casa numa situação decadente.

— Acabei de falar com a Luna, ela afirmou está tudo bem, nossa casa ainda não saiu do lugar — Artur brincou sentando-se em outra espreguiçadeira ao lado — Parece que cresceram.

— Pelo menos isso, pois eu ligo pra Alexia e ela não me atende — Digo o encarando — Como sempre.

— Ela sabe que você vai fazer mil perguntas inclusive se já comeu, tomou banho, dormiu bem e se possível se estão bebendo água — Riu — E a resposta dela sempre será, "mãe não enche".

—Assim você ajuda muito Artur — o belisco de leve — Me preocupo muito com eles.

— Eu também amor, mas eles precisam de um tempo, já estão grandinhos e além do mais o Gabriel e a Beatriz estão na cola dos quatro — Ele inclinou o corpo e beijou a minha boca.

— É, tem razão.

Passo o protetor solar nas pernas e braços e barriga logo entrego para que o Artur, passe em minhas costas. Guilherme se aproximou com umas latinhas de cerveja nas mãos, fez uma dancinha louca nos arrancando gargalhadas e sentou-se na borda da piscina.

— Eu não estou vendo uma coisa dessas! —  Gritou Guilherme com uma das mãos no rosto vendo a Cássia se aproximar de biquíni com uma toalha no ombro.

Artur negou com a cabeça e caiu numa gargalhada. Eles são sempre assim, anos passaram-se e quando o assunto é fazer piada com a cara do outro, se tornam adolescentes.

— Achou oque meu filho? Que eu vestiria uma túnica? — ela rebate — Eu vou tomar banho de piscina e não ir pra igreja.

— Uma túnica nem é pra tanto mas também não precisava colocar um fio e dizer que tá cobrindo porquê essa porra não tá, tô afim de dá tiro em ninguém.

Cássia fingiu nem lhe dá ouvidos e se sentou na espreguiçadeira ao meu lado. Ele tinha ciúmes pois desde que chegamos o responsável pela casa que sempre vem perguntar se precisamos de algo ou coisa do tipo não tira o olho da Cássia, oque fez o mesmo pirar.

                                         • • •

A noite chegou e após jantarmos uma deliciosa comida típica mineira, fomos para os nossos quartos, eu estava completamente exausta o dia foi bem puxado e mesmo sendo pura diversão nos cansou bastante.

— Amanhã vamos em uma festa na fazenda ao lado — Disse o Artur demonstrando uma expressão tediosa.

— E você por acaso quer ir? — Pergunto.

— Não. Eu prefiro ficar aqui nessa cama aproveitando você — Disse ele me fazendo rir — Mas caso eu não acompanhe, o Guilherme é capaz de matar o cara que tanto dá em cima da Cássia , e isso estragaria a nossa viagem além de acabar com a festa dos outros.

— Desde quando você se importa com os outros? — Levantei a cabeça e o encarei.

— Desde que você entrou na minha vida passei a me importar — ele me puxa para um abraço.
Trocamos um selinho demorado.

Deitados, aconchego minha cabeça em seu peito e depósito um beijo alí.

— Estou mega cansada — Digo — Mas talvez devêssemos ligar para os meninos antes de dormimos.

E foi só fechar a boca para o celular do Artur tocar, ele levantou e atendeu caminhou pelo quarto e parou na sacada de costas para mim.

— (...) Cola nesse moleque porra, tá esperando oque?! — Ouvir o mesmo gritar — (...) Alexia não sai do morro, entendeu?

Levantei rapidamente após perceber a sua tensão e nervosismo em cada palavra dita, ele praticamente gritava contra o telefone, me aproximei e o encarei logo o mesmo encerrou a chamada e me encarou puxando um longo suspiro.

— Oque aconteceu amor? — Pergunto ainda confusa — Oque tem Alexia? — meu coração dispara.

— Vinícius bateu na Alexia — ele diz — Eu sinceramente não sei se ela mereceu pra ver se acorda pra vida e nos dá ouvidos, ou se eu devo arrancar a cabeça desse garoto fora por ter tocado nela — Disse impaciente.

— Ai meu Deus! E como ela está?

— Muito bem, e pronta pra aprontar novamente, ela sempre está. — Disse grosso.

— Artur!! — Repreendo — Eu preciso falar com ela — Tomei o celular da sua mão nervosa.

— Hoje não, está tarde e vamos dormir, amanhã a gente resolve isso — Ele tomou o celular da minha mão de volta, e me guiou até a cama.

Eu estava bastante preocupada, porém me aconcheguei no Artur e tentei ao menos imaginar todos bem de alguma forma, o mesmo me confortou em um abraço. Desde sempre ele é assim, continua sendo a minha zona de conforto.