Dia 1.728 _ Mais Um Dia.

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  Hoje acordei tarde. Sei q é tarde pq despertei com o corpo todo dolorido e isso só acontece quando durmo demais. Lentamente, vou tentando me levantar. Doem minhas costas meu pescoço e minha cabeça. Fico sentada, esperando o quarto parar de rodar. Uns cinco minutos dps já consigo me colocar de pé. Faço meu alongamento, esticando braços, pernas e girando a minha cabeça para um lado e para outro.
  Enfim a dor no corpo passou,vou até o balde menor, lavo o rosto, passo o dedo pelos dentes, tomo um gole da água da garrafinha em cima da mesa e cuspo no balde grande
  O balde grande já está ficando cheio e, uma hora ou outra, o Ogro vai vir para esvaziá-lo. Em certos dias, o fedor enche todo o buraco. É um cheiro horrível, chego a ficar tonta
  Tomo meu café da manhã. O Ogro deixou uma maçã, um copo de leite e três torradas no pratinho. Ele deve ter vindo mais cedo do que de costume, porque, mesmo dormindo mais q o normal, sempre acordo qnd ele trás o café da manhã e, hoje, não escutei nada.
  Dps de tomar o café, procuro algo para fazer. Às vezes, leio, outras vezes tento lembrar momentos felizes que já vivi. No entanto,em alguns dias, nem levanto da cama.
  Eu gosto de ler, mas qnd eu o faço por um período mais longo, meus olhos começam a arder. A luz aqui vem de uma pequena lâmpada colocada no teto, e ela, sendo fraca, torna a leitura difícil. Meu olhos ardem. Nem sei dizer quantas vezes já li esse livro, mas não me resta muito com o que me destrair ou me ocupar esses dias.
  Ouço um barulho. É o Ogro. Ele está vindo. Os passos dele são pesados. Escuto a porta abrindo e seu avanço enquanto ele desce. Então a última porta se abre e ele entra.
  - Como você está?- pergunta
  Não respondo. Penso: "É um escroto mesmo". Ele se aproxima, e eu, como já sei o que ele quer, me dirijo a cama, me deito, levanto a minha saia, abro as pernas e espero.
  Ele diz palavras tolas, fala de planos, conta de sua vida, como se eu quisesse saber. Ele tira seu pênis nojento para fora e sobe em cima de mim. Não demora nem cinco minutos. Ele se levanta, se ajeita e chega mais perto para me dar um beijo, mas viro o rosto. Então, ele me bate. Uma, duas, três vezes. Normal.
  Ele se aproxima de novo, agr bem devagar, para me beijar. Sinto o gosto de sangue na boca e, desta vez, não afasto o rosto. Quando ele toca seus lábios nos meus, projeto bem devagar o sangue para fora de minha boca, como um cuspe que se derrama pelos cantos. Ele me olha com nojo, cospe em mim e vai embora.
  Idiota.
  Eu me levanto, me lavo no balde menor e vou para o canto "da arte". Inspiro e expiro bem devagar. Concentro-me e começo a me dedicar a fazer a minha​ arte no barro da parede. Há uns vintes dias que estou tentando esculpir algo com meus dedos no barro duro. Estou fazendo a cena de uma casa de fazenda. Gosto de casas de fazenda. Lembro-me de quando eu tinha uns seis anos e minha mãe me levava à fazenda do meu avô. Tinha um cheiro bom lá, um sentimento de paz e liberdade.
  Liberdade? Eu só posso rir agr. Enfim.
  Minha parede de arte deve ter uns dois metros de altura por uns três de largura. Até agr, devo ter usado um oitavo desse espaço. Portanto, sei q vou ter muita diversão. Claro, se eu tivesse uma colher, uma pazinha ou um objeto qualquer que eu pudesse enviar no barro da parede, quem sabe seria mais fácil de desenhar.
  Quem sabe o Ogro não me dá uma faca?
  Estou muito engraçadinha hoje.
  Por falar em Ogro, lá vem ele de novo, com seus passos pesados.
 

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⏰ Última atualização: Jun 01, 2017 ⏰

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