[5:30 am] Aquele barulho irritante enche meus ouvidos e sinto que é hora de levantar.
Hoje é meu primeiro dia no curso, eu to extremamente animada, e TEM que dar tudo certo.
Reviro meu guarda-roupa e decido usar a seguinte roupa:
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(juro que foi a melhor coisa que eu achei em horas)
Desço as escadas da minha "humilde" (nova) residência que meus pais me deram de presente quando passei na faculdade:
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É bem legal e bem comum aqui em Seattle!
Saio porta afora, e vou em direção ao Starbucks, porque , pra variar, não tem absolutamente nada pra eu tomar de café da manhã.
Peço um dos 50 milhões de tipos de café e corro (pra variar 2.0 eu estou atrasada).
Chego no curso (faltando ainda 15 minutos; ufa) e vejo que é um vasto terreno, com vários blocos distribuídos nele, e cada bloco é uma especialidade cirúrgica. Vou em direção a "pedriathics" e sento em um assento qualquer.
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"— professor, posso ir ao banheiro?" "— pois não!"
Me retiro da sala e vou o mais rápido possível procurando um banheiro para não perder nada da aula, até que vejo um menino, sentado no meio do pilotis, e quando ando mais um pouco, vejo uma lâmina. Ele está se cortando com uma lâmina. Paro. Tento raciocinar. Tem um menino se cortando no pátio. Minha cabeça dá voltas. Não é a primeira vez que vejo isso acontecer. Eu já fiz isso. Por um ex-namorado. A maneira mais inútil de estragar seu corpo, sua vida. Tento ignorar e seguir em frente, fingindo que nem vi. Até que ele tem uma overdose. O QUE ESTÁ ACONTECENDO?????? Vamos juntar os fatos: um menino, num curso de medicina, se cortando e tendo uma overdose. OK, CHEGA DE JUNTAR OS FATOS E É HORA DE AJUDAR O CARA! Tento gritar por ajuda, mas parece que ninguém me ouve. O jeito é eu mesma salvá-lo. Suas pupilas estão quase viradas, e não dá tempo de eu ir até uma sala pegar os equipamentos ou chamar alguém, então, pra ele sobreviver até eu chegar com a vacina pra parar com a overdose, preciso desobstruir as vias aéreas, então faço com o que tenho mesmo! Pego a lamina a qual ele estava se cortando e faço um corte perfeito em sua garganta, e pego um canudo na lanchonete. enfio em sua traqueia e corro pra chamar ajuda! Vou até a enfermaria e nem falo com as enfermeiras! Estou tão tensa que se eu tiver que explicar, não vai sair nada, vou só falar algo do tipo "KSBSBJAUSSBAKSUSH". - Quando volto ao pilotis, aplico a vacina e ele se acalma. Quando me viro pra gritar por alguém, não preciso, pois parece que o curso INTEIRO está em uma espécie de roda ao meu redor, e quando vejo, um grupo de paramédicos levam o rapaz para uma ambulância. Estou PA-RA-LI-ZA-DA e já penso no pior : "vou perder minha bolsa, minha vaga, meu respeito, tudo!" . Até que começam a bater palma (QUE? ok, eu definitivamente não estava esperando isso).
Abro um sorriso do qual ainda não sei o motivo, porque é um absurdo um curso caro daqueles não ter nenhum tipo de supervisão!
Todos, inclusive eu, voltam pra aula, e parece que tudo voltou ao normal (espero).
Quando acaba a aula, vou na direção, e pergunto ao diretor onde o garoto de mais cedo estava internado. Ele me disse e me passou o endereço, complementando: "— Ei! O que você fez hoje, não faça mais. Você se saiu bem, mais, quais eram as chances de um canudo não esterilizado salvar um garoto que estava se matando? Aqui, cada um sabe o que faz." — sentei e o ouvi atentamente — "Esse garoto, é muito inteligente, tem 3 cursos de 3 especialidades diferentes completos, ele sabe as consequências de drogas e lâminas em pulsos. Ele teve uma vida muito difícil. Ainda tem. Apenas não fale nada com ele, não diga que foi você."
Escuto suas palavras, que voltam à minha cabeça o resto do dia. E da semana.
