Eu havia me prometido nunca mais voltar. Um crápula como ele - mas tão gostoso. Isso, gostoso. Como eu me odiava naquela hora. Como eu o amava naquela cama. Tinha o desejo de esbofeteá-lo e gritar-lhe palavras sórdidas e caluniosas - todas verdadeiras. Meu coração batia descompassado sob seu corpo quente. Meu corpo tremia sob suas mãos firmes que cismavam a alcançar cada penumbra de meu corpo estendido sobre o lençol, cada área mesmo por mim desconhecida. E sussurrava em meus ouvidos. Palavras sujas. Palavras belas. Ora gostoso. Ora te amo. Ora delícia. Ora eu já nem mais nada ouvia. Meus olhos reviravam-se na órbita. Minhas unhas arranhavam suas costas. E ele urrava. E ele gemia. E eu me segurava firmemente para não chorar. Como explicar essas lágrimas já há tanto guardadas? Não precisaria. Ele sabia muito bem o porquê. Ele era o porquê. À primeira lágrima que escorresse sobre minha pele ele fugiria, e eu sabia que nunca mais o veria de novo. Gozamos.
Foi bom pra você? Foi, e pra você? Foi. Sempre é. Sempre. Tenho que ir. Você sempre tem. Não me leve a mal. Não levo... As coisas vão mudar. Você sempre diz isso. Eu juro. Você sempre jura. Seu olhar abaixa, melancolicamente. Quantos meses já foram? E quantos meses mais serão? Ele põe a mão sobre minha face, a acariciar. Você sabe que eu te amo. Eu sei, e só eu sei, e mais ninguém. Isso basta. Tem que bastar. E me beija calidamente. Vamos ficar juntos, isso que importa. Isso que espero. É o destino, nosso destino é ficarmos juntos.
Eu já nem mais sabia se acreditava em destino, ou em horóscopo, ou em deuses, ou mesmo no amor. Suas palavras doces me machucavam como que flechas afiadíssimas. Cortavam-me a carne de tal maneira. Dilaceravam-me o peito e a alma. Mas eu tinha de ser forte. Eu tinha de ser forte em nome daquele amor - ou fosse lá o que aquilo fosse. Ao menor sinal de fraqueza, quem eu considerava ser o homem de minha vida iria embora, e eu jamais suportaria isso. Ser-me-ia, de fato, a morte. Eu estava fraca demais para suportar essa despedida. Ou melhor, essa mais uma despedida. Porque eu sabia que essa seria a última.
Tenho que ir. Eu sei. Não sei se poderei voltar amanhã.
Eu engolia a seco. Eu sabia que seria o melhor pra mim, que ele fosse e nunca mais voltasse. Que ficasse de vez com aquele a quem ele escolheu e me deixasse viver em paz. Todavia, eu implorava. E se eu não implorasse, ele voltava mesmo assim, cheio das palavras doces.
Volte, por favor. Não sei se será bom. Bom deixaria de ser se você não mais viesse - apenas volte! Eu tentarei. Apenas volte! Seu olhar abaixava novamente.
Ele sabia do meu desespero. Ele já vira meus surtos. Ele temia. Eu temia. Todos que sabíamos dessa história temíamos - e não era à toa.
E lá se foi ele, vestido e arrumado, pela porta do quarto. Eu, desnudo, permanecia na cama. Desnudado de minhas vestes, de minhas vergonhas e de meus pudores. Desnudado de meu orgulho e de meu amor próprio. Desnudado de minha antiga alegria, e de minha já tão distante vontade de viver mais um dia. Mas eu me prometera viver, só mais um dia. Só mais um dia.
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Segundo Lugar
RomantikUma amante deveras apaixonada acaba se entregando demais ao homem comprometido com quem se deita. Não é a primeira vez que ama dessa forma, e sabe o gosto amargo do arrependimento e da perda. Mas dessa vez ela está comprometida a vencer e nunca mais...