Você tinha dois melhores amigos, a Gabriel, um garoto chato e grosseiro, vivia me perturbando e me enchendo o saco, e Octávio, o príncipe encantado da meninada, assim como Gabriel, era bem branquelo e tinha o cabelo castanho bem liso, vocês viviam sempre juntos, o trio inabalável, embora eles sempre estando implicando comigo, eu não aliviava, batia neles para valer. Nunca foi assim com você, você não era meu príncipe encantado, assim como eu não era sua princesa, você era meu herói, meu 1° amor. Sempre que seus amigos me perturbava, você me defendia, cuidava de mim, zelava por minha segurança, você era meu tudo.
Quantas tardes passamos brincando nos rios de São Pedro? Quantas manhãs assistindo Bom Dia e Companhia no SBT? Ou noites conversando pela grade? O tempo passou, você cresceu e ficou ainda melhor, mais bonito, mais inteligente, educado, simpático, e sempre, sempre responsável, então você tinha uma prima, Chamada Maria Clara, uma menina de olhos azuis, pele branca e cabelos castanhos bem lisos, eu sempre fui ciumenta e paranoica, para mim, ela era sua namorada, e eu não gostava nada disso. Após dias, numa tarde de fevereiro, no seu quarto comendo fandangos, você me diz que ela era filha da sua tia, claro que eu fiquei com o maior carão e você, riu até ficar vermelho, mesmo depois disso, nunca gostei dela, talvez por ela ser nojenta ou por eu ainda guardar mágoa da minha invenção, mas nunca enxerguei ela com bons olhos.
Passaram-se anos e nossa amizade ficava mais forte, sempre juntos, fazíamos tudo, desde explorar a mata, a invadir um estábulo atrás do roseral, éramos cúmplices, crianças bandidas atrás de aventuras, éramos tão jovens, contava tudo para ti, inclusive minhas inseguranças, meus problemas familiares, meu pai de merda, minha avó paterna egoísta, minha mãe cagando para mim, meu padrasto me espizinhando, minha depressão, minha hiperatividade, meu deficit de atenção, até minha falta de viver, contei-lhe minha infelicidade, meu desânimo, minha vontade de morrer, claro que você me deu todo o apoio que eu precisava, você sempre sabia o que dizer para me confortar, em todos meus momentos difíceis, você estava lá, zelando por mim.
Você não sabe o que eu daria para ter você comigo agora, me lembro do dia que recebi a notícia, eu estava lendo "A Droga da Obediência" quando recebi a ligação de Maria Clara aos prantos, dizendo que você se matou. Meu mundo acabou. Perdi meu chão. Não consegui acreditar no que ela dizia, que meu salvador havia tirado sua vida, onde eu estava que não lhe dei o apoio que você me deu? Que não te sustentei como você fez comigo? Não há dúvidas que parte de mim morreu com você, eu realmente não sabia o que fazer sem teu abraço, teu auxílio, sem o som da sua boca cantando Índios do Legião Urbana. Minha vida tinha acabado e você era o culpado, você matou minha alma quando não se abriu comigo, quando se enforcou no lugar que fora retrato da minha felicidade. Eu te amava. E você não se importou.