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Senti os lábios quentes e macios como veludo fazer contato com os meus. Devolvi o beijo instintivamente. Francis lambeu meu lábio inferior e depois enfiou a língua úmida dentro da minha boca.
Meus pensamentos estavam distorcidos, meu corpo estava quente e excitado e eu nao conseguia entender nada.

— Você é tão linda — Francis sussurrou, beijando meu pescoço.

Eu não sabia se gemia, se jogava ela na cama ou se a empurrava para longe de mim. Fiz a terceira opção.

— O que foi? Pensei que você também tava a fim — sussurrou com o rosto corado de vergonha.

— Eu nuca fiz isso — murmurei, sentindo meus lábios formigarem e a calcinha úmida.

— Não tem problema, Aline — ela abriu o notebook, escolheu uma música que eu desconhecia e colocou para tocar baixo. — Vem cá.

Eu caminhei até ela, Francis me abraçou. Era menor do que eu, o corpo magro e esbelto. Eu enrolei o meus braços em volta de sua cintura, sentindo o coração disparado no peito.

— Obrigada.

— Pelo...?

— Pelo elogio. Eu também te acho linda, mas nunca pude nem encostar em você com aquele séquito que você anda.

— Elas são horríveis.

— E por que continua andando com elas?

— São amigas de infância...

— Não são mais crianças, você não precisa andar com aquelas meninas se não se sente mais bem com elas.

Dei de ombros. Eu era popular na escola e gostava disso. Marcela era rica e quando íamos ao shopping eu voltava cheia de roupas, fora quando ela doava suas coisas "velhas". Eu era materialista e gostava de me vestir bem, mesmo sem condição. Esse era meu maior pecado.

— Por que todo mundo fala mal de você na escola?

— Isso começou quando eu tinha treze anos e saí com um cara do segundo ano. Ele queria transar comigo, mas eu não quis. Então eles e os amigos dele espalharam um monte de histórias e elas perduram até hoje. Sou a boqueteira oficial do colégio, mesmo tendo tirado o aparelho ano passado.

Eu não tinha resposta para isso. Abraceia-a mais intensamente como uma forma de consolo.

— As pessoas são más. Principalmente homens quando recebem um não.

Lembrei-me de Marcos quando eu disse que não iria chupar ele enquanto meus pais estavam na cozinha. Me fez sentir um lixo enquanto me chamava de todos os nomes pejorativos que existiam e foi embora sem comer a sobremesa.

—  São sim.

Continuamos abraçadas, sentindo o calor e maciez de um corpo feminino contra o outro.

— Me desculpe ter te beijado daquela forma. Eu olhei sua boca e não resisti. Deveria ser proibido ter uma boca dessas, Aline. — Sorri, mostrando meus​ dentes que foram recentemente clareados.

Reparei quando o clima mudou, os olhos felinos de Francis se dilatando, a boca sendo umedecida por uma língua furtiva enquanto os rostos se aproximavam.

Eu nunca beijara uma garota antes, mas poderia dizer sem sombra de​ duvidas que era o melhor beijo que eu já tivera em toda a minha vida. Não era babado, com línguas ásperas ou rápidos e violentos.

Francis beijava delicadamente, sentindo cada sabor, apreciando cada movimento. Então ia acelerando, criando clima, de repente vinha a língua, mordidas e chupadas no lábio inferior. Ela sabia beijar, nascera para aquilo.

Paramos o beijo com um sorriso sem graça. Parecia que seria apenas uma história que lembraríamos mais velhas como uma aventura juvenil.

— Onde tira inspiração para suas histórias? — perguntou-me e eu pensei na resposta.

— De mim, de um filme, de alguém que eu tenha visto, de um conhecido. De tudo.

— Eu não consigo escrever sobre nada. É como se as palavra fugissem correndo de mim e ficasse tudo em branco.

Sorri com sua declaração.

— Às vezes isso acontece comigo.

— Falta de inspiração? — assenti. — Comigo também. Às vezes fico com uma imagem na cabeça, horas e horas, então quando vou pintar, tudo some, desaparece. Aprendi que devo fazer um esboço, qualquer coisa. Por isso sempre ando com lápis e papel.

— Gostaria de ver seus trabalhos.

— Ah, não, tenho vergonha — admitiu, parando a dança e saindo do abraço.

— Você leu meus contos, é sua obrigação agora mostrar suas obras.

— Obras? Pufth. São apenas uns borrões.

— Francis...

—  Tá, tá.

Ela arrastou um baú para perto da cama e eu me sentei no tapete. Quando ela abriu, havia uma cacofonia de coisas. Algumas estavam enquadradas, outras em rolinhos, algumas folhas com esboços a lápis e outras telas eram realmente apenas borrões.

Apesar dela não querer, olhei a maior parte e elogiei. Ela pintava e desenhava muito bem. Não era realista, os cabelos eram verdes, a pele azul, rosa, os olhos lilás ou amarelos. Francis gosta de tudo muito colorido e do seu modo. Às vezes dava ênfase ao olhar, ora à boca ou o cabelo.

— Okay, já chega — ela fechou o baú e quase perco meus dedos.

— Para, você sabe que pinta bem. Deixe de ser fresca — ela deu um sorriso torto convencido.

Vi a noite chegar e as cigarras​ começarem a cantar no quintal verde. Francis se deitou comigo no tapete e eu a admirei.

Francis - Conto LésbicoOnde histórias criam vida. Descubra agora