Ela queria.
Queria tanto que literalmente coçava suas mãos.
Céus, Lucy estava presa, literalmente atada. Não conseguia sentir sua pele porque faixas sufocavam a mesma, tinha dificuldade em respirar como se as faixas estivessem em seu rosto, apertando suas bochechas e acariciando seu nariz para todo o calor se concentrar ali; e quase, quase podia sentir as lágrimas rolando por seu rosto mesmo que o mesmo estivesse seco como seu coração.
Sua mãe estava ao lado da maca acariciando os cabelos da filha e negando com a cabeça pela bagunça que a menor fez, não no chão, mas em seu próprio coração.
— Mãe, o que eu fiz? — seus lábios secos formaram uma teia quando finalmente os abriu, falando.
— O que você fez? — um riso nasalado, seu hálito estava quente, mas a garota só conseguia sentir frio. — Você está suando e apodrecendo em uma maca, meu amor.
E as pontas de seus dedos passearam pelas ataduras da mão de sua filha, fazendo cócegas despropositadamente, Lucy coçou e seu rosto protestou.
— Dói, não dói?
— Um pouco. — cuspiu fechando as mãos em punho, coçando o pano.
— Você está mudando, querida. — sorriu na bochecha da garota, seus dentes a beijando. — Está sentindo? — apertou os dedos da filha os forçando contra a palma da mão, machucando. O quadril da garota gritou, se mexendo. Seu corpo cantava.
— Eu só sinto dor, mãe. — entre dentes, estridente. Quando olhou para as próprias mãos, era apenas ela mesma que fincava seus dedos no tecido, coçando; sua mãe não estava mais ali, mas sentada no espaço livre de sua cama.
— Minha pobre garotinha... — os cabelos longos de Suze agora faziam cócegas em seu quadril. — Isso é só o começo. — sua filha conseguia ver a ponta de um sorriso em seu perfil.
— Eu não quero.
— Sim, você quer! — gritou em um riso irônico, rodeando a menina. — É por isso que você faz isso. Por isso você se machuca. A dor que está sentindo não é por coçar as feridas em suas mãos, querida. É por alguém estar coçando as feridas que estão ai dentro. — seu discurso acabou com o dedo indicador pressionando o peito de sua filha, e com a enfermeira de Dank abrindo a porta.
— Bom dia, Lucy! — as palmas das mãos de sua paciente se renderam, não coçavam mais, mas onde sua mãe apontou o dedo indicador, sim. O quadril da esquizofrênica novamente se mexeu inquieto, por que seu coração coçava.
Enquanto observava o perfil de Kloe enchendo um copo plástico de água para dá-la com os remédios, Lucy se perguntou por que a enfermeira não só cuidava de seus sangramentos, mas também a fazia sangrar.
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A Esquizofrênica
RandomLucy, uma adolescente de dezesseis anos que vive em uma clínica de reabilitação desde os seis anos de idade. Dez anos de sua vida vegetando em uma maca, amordaçada e presa, rotulada como louca, tendo que se contentar apenas com passeios diários pelo...