5.2 | F r i e n d

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1 dia antes...

A fumaça subiu diretamente para a minha corrente sanguínea uma vez que dei um longo e profundo trago.

Joguei a cabeça para trás, respirei fundo e encarei a porta vermelha bem a minha frente.

Eu podia ouvir a música alta que vinha lá de dentro, era um rock elétrico dos The Killers que fazia as paredes vibrar.

O cheiro forte de maconha se misturando com álcool era enjoativo, até. Mas eu tinha um baseado de ervas entre os dedos e isso me deixava mais resistente para tudo o que estava por vim, embora eu não fizesse a mínima ideia do que encontrar.

Olhei para baixo, meu cabelo castanho caiu pelo os olhos quando o fiz e encarando os meus coturnos desgastados naquele momento, eu contei até três antes de tocar a campainha. Sim, eu sabia que iria me arrepender daquela merda depois, mas eu realmente tinha que fazer antes que eu acabasse enlouquecendo.

Demorou exatamente 3 minutos para que a porta finamente fosse aberta e nesse meio tempo foi grande a vontade de apenas me virar e sair dali, mas infelizmente eu nunca aceitei tão facilmente a derrota.

Meus olhos subiram por uma camada grossa de músculos e fumaça, indaguei a mim mesma se aquele era o endereço certo ou não quando vi aquelas tatuagens negras gritantes em sua pele bronzeada e suada, porém quando os meus olhos encontraram aquelas duas pedras azuis, eu tive certeza de que tinha acabado de encontrar quem eu tanto procurei.

Mordi o canto interno das bochechas quando senti toda a energia dele entrar dentro de mim e um sorrisinho cínico por trás de uma fina camada de pelos loiros em seu rosto surgiu como um clarão no meio da noite escura.

_Jeff... - a voz saiu mais abafada que o normal e eu sequer tive certeza se ele conseguira escutá-la em meio a tanto barulho.

_Charlotte. - a voz grave e rouca de Jeff me deixou arrepiada, porque embora seu sorriso maquiavélico fosse florescente, seus olhos azuis eram um poço infinito de sombras e escuridão como jamais antes. - O que você pensa que está fazendo aqui?

Engoli seco. Seu tom era áspero e não importava o que ele estava pensando naquele momento, não era bom.

_Achei bom vir aqui te ver... - falei brincando com as mangas da minha jaqueta de couro amarrada ma cintura.

_E o que te faz acreditar nisso, pequena?

Jeff segurou no batente da porta e inclinou a cabeça em direção a minha de forma que seus olhos agora ficassem da mesma altura que os meus e seus lábios carnudos e ligeiramente corados a poucos centímetros de distância minha boca cada vez mais trêmula.

Eu podia sentir aquele seu cheiro de menta dentre tantas outras drogas. Mas particularmente, aquele seu cheiro era o meu favorito em meio a tantas outras fragrâncias no mundo.

Apertei o maxilar e mirei em seu olho seriamente. Bem, eu estava ali e não iria me aterrorizar por qualquer pensamento idiota. Ele era o meu melhor amigo ou ao menos fora por um bom tempo.

Eu o conhecia bem para saber que por trás daquelas tatuagens novas e aquele olhar sombrio existia um homem tão grande quanto seus músculos e tão suave quanto aquele sorriso que, apesar de ser envenenado, tinha um jeito suave e único de existir.

_Jeff, hoje é o seu aniversário. Eu não poderia deixar isso passar em branco. Eu realmente precisava te ver.

Suspirei. Eu nunca em toda a vida estive tão desarmada quanto naquele momento e embora estivesse fazendo o papel de idiota, eu não conseguia e nem queria dar para atrás.

Jeff me encarou por alguns segundos com seus olhos duros e as sobrancelhas grossas em uma linha rígida como se me avaliasse lentamente e precisamente.

_Ótimo. Você já viu.

Jeff estava prestes a bater com a porta na minha cara, quando eu segurei a mesma e o fiz parar, agora bem próxima dele.

_Cara, por favor, me escute. - Eu disse olhando para o loiro que me observava impaciente. - Jeff, não é possível que você vai mesmo me tratar assim depois de tanto tempo. Tudo bem que você deve estar irritado comigo, mas caramba, sou eu, sua melhor amiga! Você não pode me tratar desta forma. Eu briguei com Drake só para vim aqui hoje. Eu realmente sinto muito por tudo o que aconteceu, mas... Eu não poderia deixar esta data passar em branco sem ao menos dizer que te amo.

_Já acabou?

A frieza dele nunca me machucou tanto e foi justamente em uma noite de sábado quente que eu me peguei pensando se eu fazia ou não diferença na vida de alguém.

Jeff nunca havia me tratado daquele forma tão rude. E porra, isso machucou como o inferno.

Olhei dentro de seus olhos. Tentei, juro que tentei encontrar qualquer vestígio do meu antigo amigo, mas nada encontrei.

Ele havia se tornado um completo estranho para mim e o pior é que eu nem vi o momento certo em que tudo isso aconteceu.

_Charlotte, você aparece aqui depois de sete meses dizendo que se lembra de mim e acha mesmo que eu irei te receber de braços abertos? Porra, você só pode mesmo ser muito burra em pensar uma coisa dessa. Quando você saiu por esta porta com aquele merda eu disse adeus, esperei profundamente que você tivesse entendido que ele era eterno. Pois doeu por uma infinidade de horas essa maldita palavra que, por noites seguidas penetrou fundo na minha alma e me destruiu. Eu te procurei, eu fiz de tudo para te encontrar, mas onde você esteve todo esse tempo? Onde você esteve quando eu precisei de você, menina?

Nesse momento meus olhos já estavam cheios de lágrimas e eu não conseguia dizer nada por mais que quisesse dizer tudo.

Ele passou a mão pelo o cabelo, respirou fundo e continuou, desta vez com o tom de voz controlado, mas ainda assim carregado de dor e raiva:

_Minha mãe morreu logo depois que você saiu por esta porta me deixando sem chão. Eu pedi mentalmente durante todos esses dias que você viesse aqui me dizer todas essas palavras, mas agora, olhando diretamente para você, tudo o que eu consigo é sentir raiva porque você era a única pessoa que eu tinha no mundo além da minha mãe. A única ilusão real na minha vida de bosta e que da noite para o dia deixou de existir. Talvez realmente nunca tenha existido, não é?

Eu fiquei olhando para ele pasma, sem ter o que fazer ou dizer. Eu queria chorar, mas nenhuma lágrima sequer consegui derrubar enquanto estava de frente para ele.

_Me desculpa... - minha voz não passou de um sussurro. - Eu sinto muito.

_Eu sei que você sente, Charlotte Lohan. E esse é o seu maior defeito, você sempre sente muito tarde demais.

_Por que está me tratando assim?

_Porque você não era só uma amiga, Charli. Você nunca foi só uma amiga para mim.

Foi tudo o que ele disse antes de fechar a porta e me deixar paralisada de frente para aquele apartamento que um dia também fora meu.

Ele bateu a porta na minha cara e me mandou embora sem nem ao menos ter dito adeus e eu nunca me senti tão mal por algo que jamais deveria ter acontecido.

Os capítulos curtos são para recompensar o tempo em que estive fora do ar. Mas já estou de volta, amores!! ❤️

MOMENTSOnde histórias criam vida. Descubra agora