Mint Expresso [PJM] [TERMINADA]

Parte 1

Sound Track pra acompanhar no fim da página <3

Faz dois anos desde que me mudei de Seoul.

Minha mãe faleceu após um rápido avanço no seu quadro de EM. Na tentativa de deixar eu e meu irmão caçula longe das más lembranças, papai conseguiu transferir-se de volta ao Brasil. Passei esses anos fazendo o mesmo que costumava antes de minha mãe morrer.

Estudei.

Assim que ela foi diagnosticada com Esclerose Múltipla, quando eu acabara de completar treze anos, decidi meu futuro inteiro.

– Vou ser médica. Assim vou poder curar você, omma! – Ela riu docemente de meu repentino pronunciamento quando meu pai, saindo para levar Jungmin ao banheiro, me deixou a sós com ela.

A partir daquele momento, minha vida se resumiu a cuidar dela e mergulhar em livros nas horas vagas. Uma cafeteria, perto do hospital em que ela estava internada, se tornou minha segunda casa. Lá virava páginas atrás de páginas ignorando tudo e todos ao meu redor. Quando meu turno acabava e meu pai assumia a responsabilidade por fazer companhia a sua esposa, eu descia a rua até o Café Peach, mochila jogada nas costas, abarrotada de papéis. Pedia meu café expresso com menta de sempre, costume que herdei de minha mãe, e me punha a trabalhar.

Gostava muito daquele lugar. Era calmo o suficiente pra eu me concentrar e movimentado o suficiente para que não me perdesse na calmaria. Pareciam sempre estar a postos com o que eu precisava. Eles costumavam escrever mensagens para seus clientes nos copos que entregavam, mensagens fofas e motivantes. Pra recompensar o atendimento atencioso, sempre deixava uma gorjetinha junto com um post-it agradecendo. Essa foi minha rotina durante os dois anos de batalha contra a EM.

Quando ela se foi e eu me mudei, os livros tomaram seu espaço nos meus afazeres, se tornando a única coisa que me era interessante.

Era esse meu futuro desde que ela adoeceu: Virar médica e ajudar outras pessoas como ela a não sofrerem mais com essa doença. Não tinha tempo para garotos, nem me importava de não ter, sendo sincera. Eu e meus livros éramos suficientes um para o outro.

Eu e meus livros somos suficientes um para o outro.

Hoje é meu primeiro dia de volta a Coreia.

Só de botar o pé naquele solo eu já sinto a presença de minha mãe mais perto de mim.

Quanta saudade eu senti daqui.

O apartamento que aluguei ficava bem perto do mesmo hospital que foi minha primeira casa durante 3 anos. Apesar de não ser lugar das melhores memórias, foi o lugar das ultimas que compartilhei com ela.

Ando por meu antigo bairro procurando algum lugar tranquilo para estudar, torcendo para que o Peach ainda existisse. Ao dobrar a esquina vejo que minhas preces foram atendidas.

Tudo naquele lugar era nostálgico. O cheiro, as mesas, a música de fundo e até mesmo as costas do barista que ali trabalhava. Será a mesma pessoa? Se for, parece que esse lugar se manteve do mesmo jeito esses dois anos apenas me esperando voltar. Essa hipótese, apesar de fantasiosa até demais, me fez sorrir. Acenei para o barista que se virou com o sino da porta. Ele me olhou estranho, mas eu apenas dei de ombros internamente e procurei a mesma mesa daquela época. Organizei minhas coisas e segui para o balcão.

O barista ainda me encarava, mas acho que ao notar que eu caminhava em sua direção, ele conseguiu sair do transe. Me trocou pelas maquinas e ingredientes, seguindo seu trabalho até com certa pressa.

– Oi, tudo bem... – Me esgueirei para o fim do balcão, me debruçando sobre ele até conseguir ver seu nome em um pin em sua blusa – Park-ssi. Eu gostaria fazer meu pedido.

– Café expresso com menta, certo? – Disse ele, me entregando o copo.

– Então era você mesmo? – Cubro minha boca ao rir. – Bem que lhe achei familiar, apesar da cor de cabelo. – Aponto para seu emaranhado de fios rosa claro.

Autoconsciente,  ele leva a mão ao cabelo com meu comentário.

– Pensei que você não fosse lembrar de mim, mas parece que o expresso de minha mãe é difícil de se esquecer – O sorriso que se forma dessa vez em meus lábios é mais de melancolia que de outra coisa. Me viro para minha mesa enquanto leio a mensagem escrita no copo.

Sinto muito por sua mãe.