Mint Expresso [PJM] [TERMINADA]

Parte 2

Mas,
Como assim?

Paro no lugar, processando a frase por um momento. Ao girar em meus calcanhares, me deparo com Park-ssi ainda me observando, perdido em seus pensamentos.

— Como você soube? — Ergo o copo para que ele possa ver novamente a mensagem que escreveu.

O menino, que até agora não havia direcionado mais que cinco palavras a mim, abriu a boca para falar. Estava visivelmente agitado, os olhos mudando de foco em foco, nunca ficando mais de um segundo nos meus, suas mãos pareciam estar em dúvida se era correto ou não se mover, tropeçava em palavras e desistia de frases no meio do caminho de um jeito doce, inocente e atrapalhado. Por fim, conseguiu dizer:

— Eu... eu estudava na mesma escola que você. Esse café é dos meus pais, então eu sempre vinha aqui depois das aulas — Consegui finalmente prender seu olhar por algum tempo. Tinha algo de diferente nele, só não sabia ao certo o que era.

— Quando você começou a aparecer todo dia e faltar com frequência a escola, fiquei curioso. Perguntei para algumas de suas amigas o que tinha acontecido e elas me contaram sobre sua mãe.

Olhei novamente a identificação dele: Park Jimin... Mas é claro! Como não percebi antes que era você antes?

— Eu lembro de você, mas... você não era moreno? — Muito diferente do garoto que costumava me atender, ruivo, tão laranja quanto as paredes do café, o Park Jimin que estudou comigo tinha os fios pretos.  Diferente também dessa pessoa tímida em minha frente, era um poço de sorrisos e risadas com seus amigos em nossa sala. Me pegava os admirando naquela época, contagiada por sua energia, porém sempre a distância, nunca fui de falar muito com garotos. Não por vergonha, como a maioria das pessoas. Apenas nunca me dispus a fazer novas amizades. Permanecia com aqueles que tomaram iniciativa de se aproximarem de mim, que não eram muitos. Essa minha "preguiça" fez com que minha fama de fria se espalhasse e, apesar de eu realmente não ser assim, não ligava para esse boato. Não achava que pessoas que acreditavam em rumores faziam falta em minha vida, então, eles se afastarem de mim foi um bônus.

 — Você muda de cabelo de acordo com o humor, por acaso? — perguntei brincando.

Com essa frase, tentou esconder seu rosto, agora corado, com o ângulo de seu braço, como se pudesse tossir a qualquer momento — Troquei a cor na mesma época que você parou de ir a escola.

Me senti mal por lhe ter constrangido. Esse garoto... Não sei ao certo o por quê, mas ele tem algo... algo que não sei explicar. Me recuso usar o verbo atrair, mas não encontro outro que melhor explique essa sensação. Sim, não nego que ele é fisicamente atraente. Mas não é isso, é algo bem mais complexo. Algo me intriga nele. Essa curiosidade me instiga a continuar perto, tentando descobrir exatamente o que é que ele tem de tão especial.

Mas acho que ele não se sente mais confortável nesse diálogo.

— Obrigada pelo café e pela mensagem — aceno e lhe retribuo com um sorriso. — E eu amei seu cabelo. Você fica bem em todas as cores, pelo que notei. — Vejo o rosto dele quase explodir de tão vermelho e o meu o acompanha. Me acostumei tanto ao modo casual com que o Brasil trata elogios que as vezes me esqueço os efeitos deles em solo coreano. Me volto rapidamente a minha mesa, tentando escapar do clima constrangedor que se formou ali. Melhor coisa que eu faço é estudar, chega de interações por hoje.