PARTE I - Um presente

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Naquela manhã, o detetive Malcolm Graves acordara muito bem-humorado. A noite anterior havia sido uma recompensa para o cansaço dos últimos tempos.

Desde quando ele solucionara o caso Kit Armstrong, as coisas tinham mudado. Para começar, ele deixara de trabalhar com alguém medindo os seus passos — o que por si só já era avassalador. Mas não foi apenas isso. O que o fez comemorar sozinho em seu quarto na véspera de Natal foi o fato de ter sido promovido. Ele tinha, agora, uma sala só para si, além da liberdade de agir como bem entendesse.

Ele se deliciou com esse pensamento por longos minutos. Sabia que seriam raras as ocasiões em que ficaria preso ao escritório, comendo rosquinhas açucaradas e coloridas. Sua alegria de viver consistia em sair pelas ruas, seguir pessoas, fotografar cenas de crime e prender criminosos. Aquilo era empolgante, rejuvenescedor, fazia-o se sentir vivo.

Mas hoje Malcolm Graves só queria descansar. Com um pouco de esforço, espichou-se para pegar o controle da TV. A programação era típica dos dias de Natal: famílias competindo para ver quem tinha os pinheiros mais altos e bem-decorados, a ceia mais invejável e os bonecos de neve mais simpáticos. Nada muito interessante. Graves mudou de canal, à procura de algum jogo ou série a que pudesse assistir, mas nada despertou o seu interesse.

Deixando o controle remoto de lado, ele se levantou preguiçosamente da cama. Sua enorme barriga o guiou pelo caminho até o banheiro, no estreito apartamento que ele alugara quando se mudou para Londres. Os móveis eram simples e baratos. Entre a sala — que também servia de quarto — e o banheiro, havia uma parede fina de gesso que levava a uma cozinha que ele quase nunca usava. Costumava pedir comidas prontas: frango com curry, yakisoba, macarrão à bolonhesa e sanduíches variados. Mas dessa vez tinha que ser diferente, afinal, era Natal. Certamente ainda existiam alguns vestígios de peru recheado na geladeira. Ele poderia esquentar o prato no micro-ondas, abrir uma garrafa de vinho e teria um almoço decente.

Foi com esse pensamento que ele se despiu e esticou o braço para abrir a torneira do chuveiro, ansioso pela cascata de água massagear as suas costas. O banho foi demorado. Graves relaxou e as ideias começaram a vagar novamente, distantes daquele cubículo impróprio para um homem de sua largura.

De repente, o celular tocou. Na mesma hora, ele fechou a torneira do chuveiro e puxou uma toalha para se secar.

"Alô?", atendeu Graves no último toque.

"Feliz Natal, homem! Dormiu bem?"

A voz era do seu parceiro de trabalho, o inspetor Harris. Ele não era do tipo muito simpático, mas se esforçava.

"Feliz Natal. Creio que sim, Harris. Foi uma boa noite. Quais são as novidades?"

"Então, homem... É um caso estranho. Uma velha rica e doente que amanheceu morta no quarto. Tudo indica que foi homicídio. Ela estava realmente muito mal, mas os aparelhos respiratórios que ela usava foram desligados. Parece que ela foi sufocada.", explicou o inspetor.

"Hum", murmurou Graves. "No que eu posso ajudar?"

"Eu gostaria que você fosse comigo até lá dar uma vistoria no local e coletar informações. Se puder, claro", acrescentou Harris.

"Há algum parente?", quis saber o detetive.

"O irmão da vítima, empresário, e sua esposa, um adolescente problemático, uma solteirona que eu acredito ser filha dela e uma menina que deve ter uns 11 anos .", ele respondeu como se já estivesse preparado para a pergunta.

"Certo. Me passa o endereço, que eu já chego aí.", respondeu Graves.

"Piccadilly Street, Mayfair, 202."

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⏰ Última atualização: Mar 27, 2023 ⏰

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