Era mais um dia, talvez comum até demais. Mais especificadamente, seis de junho de 1803. Napoleão avançava triunfante sobre seus inimigos, ninguém podia pará-lo. Os franceses o viam herói, os reis o viam como um inimigo mortal da autocracia. A verdade é que ele unicamente lutava pelos interesses franceses em manter suas terras e se proteger de seus inimigos. Fato era que as condições, se comparadas ao antigo rei, havia melhorando em demasiado. A fome já não era tão comum quanto antes. As pessoas tinham mais direitos, e não estava mais tudo nas mãos do clero e da nobreza. Bonaparte agradava a todos que se visse andando pelas ruas de Paris naqueles anos. A cada nova conquista festejos ilimitados, a cada rara derrota, choro.
Dias bons eram. Bem, a verdade sobre o porquê não me alistei no exército (ou melhor, não fui chamado), é incerta, em tempos onde tudo o que se precisava era de homens com baionetas, montando cavalos e montando as artilharias, todo homem capaz de exercer qualquer uma destas funções, quase que automaticamente estava recrutado. Eu não, durante os primeiros anos de guerra fui simplesmente rejeitado. Acredito que seja por meu passado. Filho de Francis Barréntè, um ex-condenado das galés. Sua má conduta e punição se alastraram sobre mim incontáveis vezes, como um manto sem fim. Vindo de família médio-alta, eu fui prometido à Josefina Hornans, de uma rica família espano-itálica, que buscava prestígio e subir notoriedade francesa. Os Barréntè seriam uma ótima escolha.
Mas como noutras tantas vezes, o casamento que meu avô me arranjou, foi cancelado devido a meu pai. Não o culpo, épocas difíceis, e uma condenação injusta. Foi culpado de assassinar um homem a sangue frio na estrada para Chantilly, mas a verdade é que quem matou o homem, foi seu amigo, que em seguida se matou. A pedido enterrou o amigo ali mesmo, mas ao outro homem queria algo mais digno. Pegou o corpo morto e resolveu carregá-lo até a cidade de Chantilly. No meio do caminho foi parado por policiais, que o levaram sob custódia. Não havendo nenhuma prova de que ele não era (e nem de que era) o culpado, o julgaram e condenaram a cinco anos nas galés. Só isto por si só já mancha um nome por gerações.
Agora me permita explicar. É claro que a pena para homicídio é a morte, por outro lado, carecia de provas e acusações. Todos sabiam disto, dar-lhe a pena de morte faria alguns se revoltarem. Mas havia aqueles que protestavam na pequena cidade por justiça. Para satisfazer a todos, escolheram mandá-los às galés. Meu vô tentou recorrer, pagar pela liberdade. Mas isto só contribuiu para sujar nosso nome.
Voltando a mim. O casamento foi interrompido quase que no dia da cerimônia. Eu já havia conhecido Josefina, não era das mais bonitas que já conhecera, mas gostava de seu jeito, conversa e postura. Me casaria com ela sem problemas. Ficamos muito tristes no começo, mas logo foi superado. Já há cinco anos, isso foi em 1796, quando tinha por volta dos quinze anos, talvez. Pelo menos mais três casamentos planejados como esse não deram certo pela mesma razão. Logo soube que em nenhum casamento arranjado eu teria sorte, e que com nenhuma pessoa que prezasse o status de família, eu me casaria. Ingressei no exército em 1800. Após algumas vitórias contra os austríacos e prussianos, tivemos uma folga para retornar a casa. Descansar um pouco.
Sete anos antes, por volta dos meus inocentes treze anos, conheci uma garota chamada Lorraine Deläplacé, família relativamente influente. Durante a revolução francesa, seu pai financiou muitos revolucionários em Bordeaux. Adquiriu relevância e importância. Apesar de que com a ascensão de Napoleão, D'jean, seu pai, foi posto em patamar mais baixo. Mesmo com isso, ainda era uma influente família de Bordeaux, exercendo-a até mesmo em Marselha. Como nos conhecemos? Nasci em Rennes, passei por pelo menos Brest, Tours, Nantes, Troyes, Nancy, Vézelay e Bourges até nos estabelecermos em Lyon. Isso aconteceu como dito antes, por volta dos meus treze anos.
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Colline Lavandes
RomanceAtravés desta curta narrativa, observaremos parte da vida de Victor Barréntè. Um homem de uma boa família, mas que devido a seu pai, se torna desafortunado. Transcorrida no período pós-revolução, a França é governada por Napoleão, e os países vizinh...