Nightmare guy.

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Abri os olhos, sentindo minha cabeça doer. Havia ignorado meu despertador aquela manhã, e queria prosseguir ignorando o restante do mundo pelo resto da minha vida. Meu corpo inteiro estava tomado por uma moleza absurda, e só de pensar no que me aguardava fora do meu quarto, meus olhos se enchiam de lágrimas.

Meu avô estava morto.

Eu estava sozinha.

Ouvi o barulho da porta se abrindo assim que as primeiras lágrimas ameaçaram escorrer. Me encolhi debaixo do edredom e me mantive virada para a janela, tentando me acalmar. Minhas mãos suavam, meus batimentos estavam mais do que acelerados e eu tentava falhamente repetir que não poderia surtar de novo.

Brooke?

Aquela voz calma e atenciosa inebriou meus pensamentos no mesmo instante. Não podia ser!

Me virei, vendo Cameron sentado ao meu lado, suas mãos retirando alguns fios de cabelo que caíam sobre meu rosto. Abri a boca em um "o" e me sentei rapidamente, analisando o terno preto que ele usava. Ele já estava pronto para o funeral, e provavelmente estava ali para prestar condolências junto com a mãe. Podia ouvir o coro de vozes no andar de baixo, e tinha que admitir que aquilo só me fazia ter menos vontade de descer.

Seus braços envolveram a minha cintura e então me permiti afundar o rosto em seu pescoço, sentindo o cheiro de perfume masculino e sabonete. A ideia de parecer tão vulnerável na frente dele me atormentava, era como se eu estivesse virando uma segunda Madison, mas não conseguia evitar! Aquela maldita dor não me abandonava, e tudo o que eu conseguia me perguntar era se aquilo iria passar algum dia.

— Madison está aqui? — Indaguei baixo, afundando o rosto novamente. Cameron negou com a cabeça.

— Ainda não, mas vai chegar logo. — Me perguntei mentalmente se algum dia ele iria enjoar dela de vez, mas acabei por me contentar com o tom indiferente que ele usava agora ao falar dela. — Não posso sumir por muito tempo, há muita gente lá embaixo. Você também precisa descer e ser forte.

— Não estou pronta para aguentar toda aquela ladainha de que Deus escreve certo por linhas tortas. — Resmunguei, apoiando a mão em seu peito.

— Vai ter que aguentar, Brooke. — Cameron se afastou, me encarando fixamente. — Vai ser muito pior se tentar fugir... Você conhece eles, sabe como irão reagir caso você o faça.

Mordi o lábio. Viver em meio aquela comunidade já era um inferno, mas viver em pé de guerra com todos eles parecia algo ainda pior. Assenti com a cabeça e chutei as cobertas, me levantando enquanto ia para o banheiro. Verifiquei meu rosto por alguns instantes e então ajustei a ducha para manter a água fria, precisava daquilo para acordar. Prendi meus cabelos e entrei de uma vez debaixo do jato d'água, sentindo meu corpo estremecer a medida que eu tentava me conter para não sair correndo dali.

Meus pais estavam mortos.

Meu avô estava morto.

E tudo aquilo parecia ser minha culpa.

Bati a mão contra a parede, eu era a culpada por todas as coisas ruins da minha vida. Se não era minha culpa, as pessoas não hesitavam em joga-la sobre mim. A sociedade, minha avó, o governo. A criança desequilibrada que matou os próprios pais, a garota problemática que causou um ataque cardíaco no avô. Era óbvio que minha avó jamais teria sua parcela de culpa, ela era uma deles! E mais uma vez, eu viveria em um verdadeiro inferno e comeria o pão que o diabo amassou para pagar por um erro que eu não cometi.

Desliguei o chuveiro e puxei minha toalha, sentindo o tecido felpudo roçar contra a minha pele. Enrolei-a em torno do meu corpo por fim e saí do banheiro, vacilando ao encontrar meu quarto vazio. Era óbvio, ele não poderia fugir por tanto tempo, as pessoas iriam desconfiar se os dois sumissem por um longo período. Segui até o meu guarda roupas e tirei um conjunto de lingerie preto, vestindo-o e então jogando um vestido igualmente preto por cima, que eu mal me lembrava de ter comprado. Ia até as minhas coxas, era colado, mas não possuía decote nem mangas. Prendi meus cabelos em um coque alto e firme e usei maquiagem para disfarçar as olheiras. Fiz questão de calçar saltos altos, e então me permiti uma olhada rápida no espelho. Meu avô sabia quem eu era, e se orgulhava de mim do mesmo jeito. Eu não iria me esconder, não mais.

(...)

Mordi o lábio durante aquela maldita missa. Um cara falava diante do caixão do meu avô, mas eu não prestava muita atenção em suas palavras. Havia captado algo como "homem bom", "céu" e "Deus", mas optei por me manter alheia ao discurso repleto de palavras jogadas fora. Ninguém ali o conhecia de verdade — ou se importava de verdade — para estarem fazendo toda aquela cena.

Minha avó caia em prantos ao meu lado e quase sempre tinha que ser amparada pelos outros velhos. Sentia a raiva crescer a cada parte daquele maldito show dela, e por mais que eu também sentisse uma vontade de chorar fodida, acabava por rezar a cada soluço dela para que a velha tivesse um ataque ali mesmo para que pudéssemos enterrá-la também.

O rapaz finalmente se calou e gesticulou para que todos levantássemos. Ergui o olhar, pousando-o sobre o retrato de meu avô logo ao lado do caixão escuro. As lágrimas brotaram nos meus olhos e eu tratei de baixar o olhar quando eles começaram a descer o mesmo, ignorando quando minha avó se atirou — caindo de joelhos — ao lado do túmulo.

Queria arranca-la dali pelos cabelos.

Tudo bem que ela era esposa, mas a vida do meu avô havia sido um inferno nos últimos anos por culpa dela! Ela era a maldita vaca puritana que mal o deixava respirar! Era culpa dela, culpa daqueles amigos falsos que o cercavam e de todo o resto!

Flexionei os dedos, sentindo o ar começar a me faltar. De novo não...

Ergui o olhar, vendo alguns rapazes começarem a encher o túmulo novamente com a terra. Procurei por Cameron em meio a multidão e lá estava ele, com Madison agarrada a sua cintura. Meu olhar encontrou o dela e visualizei claramente quando ela engoliu em seco, se encolhendo ainda mais contra ele. Voltei a fita-lo novamente, só notando que chorava quando minha visão ficou embaçada. Seus lábios se moveram em um lembrete silencioso:

"Seja forte".

Mas eu não queria ser forte. Não mais.

Me virei e abri caminho em meio a confusão de pessoas e cadeiras atrás de mim. Minha maquiagem deveria estar começando a borrar, meu cabelo se soltava e eu podia sentir o bolo cada vez pior em minha garganta, piorando minha dificuldade em respirar. Passei as mãos pelo rosto e acertei alguém no caminho, mas não me preocupei em pedir desculpas. Solucei alto e então senti meu corpo se chocando contra o de outra pessoa. Ergui o olhar.

Um arrepio percorreu minha espinha e meus batimentos aceleraram instantaneamente.

Eu poderia afirmar que ele não era de verdade se não tivesse me chocado contra o mesmo minutos atrás.

Phillip Somers estava a minha frente, os olhos brilhantes fixos em mim.

O homem mascarado dos meus pesadelos.

Undercover | Cameron Dallas ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora