A neve antes tranquila agora caía com agressividade por fora da janela. Alex falava ao telefone ao meu lado enquanto minha mente descontraída voava para todo lugar daquela sala. Me desconcentrei da decoração de natal exagerada que minha mãe havia inventado esse ano quando ouvi Alex dizer:
— Okay, não se desespere, vou buscar ajuda. — Ele murmurou no telefone antes de desliga-lo.
— Quem era? — franzi a testa apertando o botão do controle para retomar o filme.
— George está soterrado na neve.
Engasguei, com o chocolate quente e comecei a rir. Eu havia praticamente acabado de chutar George da minha casa — da minha vida talvez — e eu acho que a própria natureza deu o troco por mim. Não vou entrar em detalhes sórdido, mas ele fez algo muito errado com a minha reputação quando foi pego em um dos vestiários do ginásio da nossa universidade com uma garota que, conscientemente não era eu, sua namorada — agora ex.
Ele me olhou com cara de tédio antes de se levantar e procurar as chaves do carro. Meu irmão vestiu um casaco de pele enorme e colocou uma touca cobrindo as orelhas da tempestade de neve que caia lá fora.
— Vai ficar aí me olhando ou vai se levantar e me seguir?
— Tá brincando? Não vou sair nessa tempestade!
— Você quem sabe, se ele morrer não adianta ficar se culpando depois.
Refleti ainda o olhando. Ele bufou e se dirigiu até a porta. Saltei do sofá chamando a sua atenção e busquei minhas botas de neve ao lado do sofá e as calcei rapidamente. Ele me encarava com os braços cruzados e um sorriso divertido.
— Não, desmancha esse sorriso!
Ele deu de ombros e abriu a porta passando por ela. Minhas mãos estavam cobertas por luvas grossas e meus ouvidos com um protetor de orelhas de pelo. Corri rapidamente entrando no banco do passageiro me prendendo no cinto — caso nós sejamos enterrados também.
— Onde ele está? — perguntei assim que liguei o ar condicionado no quente.
— Na Billiond.
— Sério? Ele estava indo pra casa da Casey?
Ele bufou.
— Não começa, Kate.
Revirei meus olhos. A estrada estava uma bagunça. Não sei se estávamos na rua ou na calçada. A vista pra Alex estava cada vez mais complicada que eu chegava a duvidar se conseguiríamos encontrar George. O celular tocou. Era ele.
— Onde é que você tá Alex? Já estou aguardando a vinte minutos! — Alex ativou o viva voz. A voz de George estava meio arrastada e foi um pouco complicado de entender o que ele estava dizendo.
— Calma princesa, porque não chamou a Casey, já que ela estava mais perto? — brinquei com ele. Ele bufou na ligação e soltei um grito quando passamos por um buraco e o parachoque raspou no asfalto. Alex murmurou algum palavrão antes de abrir a porta e sair do carro, completamente irado. — Parece que nós também vamos precisar de ajuda.
— O que? Como assim? — ouvi George perguntar antes que eu saísse do carro e parar ao lado de Alex.
— Foi o escapamento. Vou precisar de um guincho.
— Podemos esperar o verão não é? — respondi com humor.
Ele revirou os olhos com a piada e bufou.
— Vamos logo.
— O que? — questionei sem acreditar.
— Vamos andando até ele. Ou quer ficar no carro e esperar o verão chegar? — rebateu já irritado.
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Enquanto A Neve Cair (Conto)
Short StoryDurante uma tempestade de neve, George acaba ficando "atolado" com o carro em um enorme banco de neve, e a única opção de resgate que lhe resta é sua ex-namorada e o irmão mais velho.