A Máquina de Lembranças

Cap 2 O Sino

Quando me sentei fiquei procurando posições confortáveis, já que qualquer assento que não fosse um sofá me incomodava como se fosse de pedra. Pensei em deitar, mas sabia que os olhos do Fábio estavam praticamente colados em mim, e que poderia dar mais encrenca que já deu.
Quando meu banco esquentou e me senti confortável, eu vi que havia mais alguém ao meu lado.
   - Ah, olá - disse, numa tentativa falha de obter uma resposta
   -  Olaa? Está me ouvindo?- perguntei novamente, sendo ignorado pela segunda vez. - esta bem, então, antipático.
Minha grosseria mais afasta do que aproxima as pessoas, mas querendo ou não, é a minha mais sincera forma de me expressar.
Quando, de repente ouço uma voz, uma voz leve, calma, tranquila, sem remorso ou peso.
- Desculpa... Nem sei o que falar direito...
- Por que? Só precisava responder: "oi"
- Oi - ele falou, um pouco corado
- Qual seu nome? - Falei, já um pouco corado sem nenhum motivo aparente.
- Por que você quer saber?
- Só responda
- Harry
- Hm... O meu é Darcy, prazer! -falei estendendo a mão para ele, que logo se esquivou e evitou contato
- Tem família aqui? - tentei desenvolver um diálogo, mesmo que breve entre eu e Harry
- Eu não... Gosto de falar sobre isso
- Tudo bem, eu também tenho umas histórias difíceis com a família
- Não é isso, eu... Nem tenho uma família.
- Certo, me perdoe, eu não sabia, apenas estava sem ass---
Ele me cortou, enquanto sua voz foi ficando menos firme e mais aguda
- Minha mãe foi assassinada quando eu era pequeno
- Meus pêsames, mas nã---
- Ela traiu meu pai, disse que o micro-penis dele não a dava a satisfação que precisava, então resolveu ter um caso com outro
- Certo, me desculpe, mas não precis---
- Ele, por ciúmes matou ela e esfaqueou seu amante, que ficou a beira da morte. Agora está preso - falou Harry, já chorando como um bebê, que então agarrou meu braço, como se já fossemos íntimos
- Por que... Me contou tudo isso? Nos conhecemos a minutos e nem lembro seu nome
- Harry.
- Entendi, Harry, por favor, seque suas lágrimas que logo irá tocar o sinal, você não iria querer que todos o vissem chorando que nem criança, iria?
Ele continuou agarrado ao meu braço, como se fosse o único conforto que havia.
- Vamos, passado é passado -disse tentando reconforta-lo.

-"Trimmm"
O sinal bateu, me assustando e me deixando desesperado.
- Harry, já pode soltar, temos que ir a sala
- Sim, desculpe... - secou as lágrimas com a sua manga. - não quero perder a segunda aula tambem