Parte 1

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Parte 1

10 anos

– Niti, você tem que ir lá em casa! Tenho que te mostrar, é a coisa mais bonita que eu já vi! - O Natan, o meu vizinho que morava na casa ao lado da minha e que estudava na mesma escola que eu só que em uma série mais avançada, me chamou todo empolgado já me puxado pelo braço. Ele tinha onze anos, eu dez, e ele era um dos meus melhores amigos.

– O que é? – eu respondi, sorrindo, já me deixando levar para dentro da casa dele. Também não ofereci resistência quando ele me puxou na direção do porão, mesmo eu tendo medo do escuro e as escadas estarem pouco iluminadas. Ele parecia tão feliz, que eu queria ver qual era o motivo da sua alegria.

– Olha! – ele disse ao acender a luz do lugar onde havia uma espécie de estúdio musical improvisado. A gente tinha brincado tantas vezes naquele porão, desenhado nas paredes e no chão com gizes coloridos, e agora não havia mais espaço para brincadeiras, o local estava abarrotado de coisas. E foi para uma delas que o Natan apontou – O meu irmão ganhou uma bateria da vó Natasha, não é a coisa mais bonita que você já viu?

– Ah... É legal sim! Mas não é a coisa mais bonita que eu já vi. – respondi, dando risadas.

Eu estava um pouco surpresa, sempre soube que o meu amigo gostava de música, desde mais novo ele teve predileção pelo Rock, mas nunca imaginei que ele fosse tentar esse instrumento, que me parecia tão grande e tão complicado. E ele já tinha falado antes em violão, inclusive fez algumas aulas e logo desistiu, falou em guitarra também... Mas nunca falou nada sobre bateria.

– Meu irmão me ensinou a tocar um pouco – ele sentou no banco e pegou aqueles pauzinhos nas mãos, que disse se chamar baquetas, e começou a bater nos pratos dourados e nos tambores vermelhos. Até que saiu um som legal. Não reconheci a música, se era mesmo uma música, mas tinha ritmo. – E eu vou fazer aulas com o mesmo professor que ele faz! O pai e a mãe já concordaram em pagar! Não é legal?

– É sim! – eu sorri, era impossível não me deixar contagiar pelo entusiasmo dele.

– Um dia, quando eu crescer, eu vou tocar em uma banda de rock como o Max! E fazer o mesmo sucesso que ele!

Max era o irmão dele, de 15 anos, que fazia parte de uma banda chamada The Oriones. Nossa escola realizava em todos os anos festivais de músicas e no ano passado a banda no Max ficou em segundo lugar, perdendo apenas para uns caras mais velhos do último ano. Mesmo assim, eles faziam sucesso na escola e até já tinha convites para tocar nas festas de 15 anos de suas colegas. Eu já tinha ido a uma dessas festas, a uma que o Natan me levou, e tinha sido bem legal vê-los tocando. Pude me divertir e até dançar com o meu amigo.

– Eu posso cantar! – eu disse, me empolgando, querendo participar da banda dele de algum jeito. Parecia legal.

– Você não sabe cantar. – ele falou, bem-humorado e achando graça de mim.

– E você também não sabia tocar bateria até semana passada. – eu me achei muito esperta na minha resposta – Eu posso fazer aulas de canto!

– Pode – ele falou, ainda com um enorme sorriso. Ele tinha parado de tocar, já que o barulho era alto, para que a gente conversasse – Mas você pode fazer as letras das músicas também. Você gosta de poesia. – ele disse, se referindo a um livro de poesia infantil que eu levava para cima e para baixo. Tinha rimas com borboletas e bailarinas, e eu adorava.

– Poesias não são músicas. – eu retruquei, achando aquilo muito estranho.

– Mas podem virar! Você faz a letra, e eu faço a melodia – ele batucou mais uma vez para mostrar do que era capaz. Então parou com o barulho, aquilo que ele tinha inventado agora não podia ser chamado de música, para falar – Agora eu vou tocar, e você canta.

Rock, amor e amizade (conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora