Sentia as gotas de água caírem sobre sua pele embaixo do chuveiro. Sua mente estava em branco focada apenas naquela sensação, pensava em como seria um banho em uma cachoeira.
Um banho que lavasse tudo que estava dentro de si até não sobrar nada.
Desligou o chuveiro e saiu sentindo frio, lembrou-se do dia anterior.
Havia flagrado seu antigo par saindo com outra pessoa, armou uma discussão deveras imprópria na rua e saiu de lá entrando no primeiro ônibus sem nem ver o destino.
A mente desnorteava, girava e não percebia como podia ter se enganado tanto. Como o amor podia doer tão enlouquecidamente. Decidiu não mais se apaixonar, ao mesmo tempo que nada mais lhe importava. Não queria ir ao trabalho, não queria ver ninguém.
Então o ônibus parou. Percebeu pela primeira vez que o ônibus era na verdade um fretado que levava para uma destas raves durante o dia, toda colorida e da qual nunca tinha sequer sonhado em participar. Mas, já que estava lá por que não se divertir?
Dançou, bebeu, gritou e coloriu com o resto do pessoal. Sem pensar muito acabou por se divertir no momento de sua maior miséria.
Em um momento, sem que percebesse seus olhos cruzaram com os de outra pessoa. Cabelos coloridos e a pele cheia de tatuagens, sentiu-se envolvida pela conhecida atmosfera do cupido mesmo contra sua vontade.
Agora no dia seguinte, saia do chuveiro cabisbaixa. O interlúdio acabou. Teria que encarar sua rotina e vivenciar as consequências.
Como seria este novo recomeço após tamanha decepção e dor.
Saiu do banheiro e ouviu a voz que vinha da cozinha:
- Fiz o café para você, venha logo para comermos juntos.
Talvez não seria um começo tão ruim, mais alegre como as cores de seu novo par que esperava logo ali.
VOCÊ ESTÁ LENDO
DISPERSO
Short StoryColetânea com todos os contos da autora de diversas temáticas. Novas Cores, Agonia, Tramas de Pelúcia... Josy Santos é Escritora, Designer e Ilustradora. www.baratoliterario.com.br