Dez Segundos a Frente do Seu Tempo

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O despertador toca.

É horrível ter que acordar cedo depois de ficar até as quatro da manhã. Ainda mais quando sua melhor amiga te chama no whatsapp pra ficar batendo papo. E a madrugada é o melhor horário para assuntos idiotas de cunho profundo, como as origens do universo, a importância do café, a relação autoflagelativa do ser humano com a pornografia... 

Eu odeio pornografia. É praticamente a mesma cena toda hora de ângulos diferentes. O tenso é que isso toma a mente do ser humano de uma maneira tão intensa que faz o indivíduo querer ver mais e mais, é pior que o vício em coca-cola. E depois fica chorando as pitangas pela perda de um relacionamento ou fica se descabelando porque quer coisar com dez de uma vez, mas sua namorada não quer. E como uma coisa leva a outra, é fácil enxergar a raiz de tantos tarados, mentes sujas, divórcios, relações extra-conjugais (vulgo traição), estupros... Quase todos os males relacionados a sexo se originam na pornografia, concorde você ou não. O pior é que é o que mais vemos hoje em dia, porque é o que "dá ibope". Nisso fecha o círculo vicioso: Mídia-pornografia-pessoa-cio-câmera-mídia. E assim temos esses sites de vídeos para maiores de dezoito, as polêmicas sexuais que passa na tevê, as notícias do último tarado que matou e estuprou (ou vice-versa) não sei tantas mulheres de sabe-lá-Deus-onde, clipes, novelas... Toda a mídia viciada em nudes e alimentando a lascívia pública.

Meu nome é Alexander, mas todo mundo me conhece como Alex. Como podem ver, se eu começar um assunto que domino, pode ter certeza de que consigo chegar até o mais fundo possível no assunto. Tenho essa habilidade de não enxergar apenas a coisa em si, mas ver o todo, cada engrenagem que faz o sistema funcionar. Até me questionam e me criticam severamente, todos os dias, porque eles enxergam apenas o zero-a-zero de tal time no futebol, mas eu enxergo o drama familiar por causa de uma perda de um ente querido que fez o curtidor do couro sintético cometer um erro imperceptível no formato de um dos gomos, fazendo a bola dar tantas curvas no ar que fez com que fosse fácil para ambos os goleiros defenderem todas, visto que estavam motivados pelas cifras que caíram nas suas contas bancárias por causa do último jogo. E o mesmo defeito na curtição do couro sintético fez com que, depois de inúmeros chutes potentes, o couro ficasse mais flexível, fazendo curvas mais acentuadas e cada vez mais longe do gol, terminando o jogo empatado e dando prejuízo a ambos os clubes.

Sim, esses aprofundamentos me atrapalham muito de vez em quando. Espero poder manter o nível no colégio hoje, mesmo caindo de sono. É uma pena não existir uma cafeteira portátil para eu fazer café sem ser na cozinha de casa, para eu evitar de comprar um expresso.

12:30. O ônibus já devia ter chegado... E o Bruno vai virar a esquina agora, pegar aquele bolinho de papel e jogar em mim de novo, acertando minha cabeça cinco segundos antes do ônibus escolar despontar na esquina. Pode vir, estou preparado.

-Ei, nerd idiota!- chegou o Bruno na esquina, o valentão da escola. Por quê raios sempre tem que ter um valentão nesses lugares???

Ele pegou a bolinha, abriu o papel e colocou uma pedra dentro pra dar peso. Amassou o papel e arremessou contra mim no ponto de ônibus. Nem me dei o trabalho de olhar o papel voando em minha direção. Faltando meio metro pra atingir minha cabeça, apenas ergui minha mão e peguei a bolinha em pleno ar.

Vou acertar a lata de lixo. Acertei. Me levantei e Bruno já veio em minha direção querendo briga.

Cinco, quatro, três, dois, um... O ônibus desponta da esquina e eu sinalizo. Bruno acelera o passo, mas estou tranquilo. O timing dele é terrível por ser motivado por um senso de hierarquia que ele está doido para impor em mim. E eu, apenas sei que a porta do ônibus vai fechar e deixá-lo pra trás a um metro da porta, porque o motorista não vai vê-lo para esperar por que ele está vindo dos fundos do ônibus pelo ponto cego.

Sentei no banco e o ônibus partiu deixando ele e seus puxa-sacos para trás, como previsto. Não é preciso ser muito analista pra saber que Bruno e seu grupinho vão chegar bufando de ódio na segunda aula.

É, parece que o dia vai ser bem... Interessante.