Coisas Estranhas

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Quando Diego entrou escoltado por dois policiais civis no gabinete do Delegado Pablo, ele não fazia ideia de como tudo iria acabar. As roupas dele estavam ensanguentadas e cobertas por uma gosma esverdeada. Ele fedia, mas os investigadores não pareciam incomodados. Forçaram-no a sentar numa cadeira de plástico diante da escrivaninha do Delegado, que mascava ruidosamente um chiclete.

Os homens se entreolharam e deixaram a sala em seguida, deixando a autoridade e Diego a sós.

— E então? Por que estou aqui? — perguntou Diego, erguendo as mãos algemadas diante de si.

O Delegado apenas abriu uma das gavetas de seu gabinete e retirou alguns arquivos com fotos anexadas a eles, dentre as quais escolheu três e as posicionou próximas ao preso

Os olhos de Diego inundaram-se de lágrimas. Diante dele, a foto de sua irmã Magda de apenas oito anos. Seus olhos sem vida vislumbravam o teto da sala, enquanto uma poça de sangue sob seu corpo, era alimentada por uma cratera em seu crânio.

— Um tiro de espingarda faz estrago. Ainda mais sendo à queima roupa — disse o delegado. Sua voz era rouca e os ruídos que sua boca faziam ao mascar o chiclete eram odiosos.

— Você ainda não percebeu o que está acontecendo? Não acha que as pessoas estão estranhas? Como se não fossem...

— O quê?

Diego hesitou como se reunisse forças para crer em seus pensamentos.

— Humanos!

O delegado semicerrou seus olhos castanhos e levantou-se de sua cadeira giratória, apontando para ele as duas outras fotos que havia separado.

— E estes, seu merda? E estes aqui? Também não eram humanos?

Diego olhou para as fotos e viu seus pais, mortos, com os olhos arrancados. A língua de cada um pendendo para fora da boca, de onde um líquido viscoso e esverdeado escorria. A foto próxima demais a ele, com uma nitidez alucinante o fizeram reviver cada momento até ali, como se tudo voltasse à tona, desaguando aqueles fatos horríveis diante de seus olhos.

— Então rapaz?! Vai negar tudo? Ou vai me dizer o que aconteceu?

— Você os viu, não foi? O que mais quer saber?

— TUDO! — berrou o Delegado. Quero saber por que você matou seus pais, sua irmã e mais oito vizinhos seus! — vociferou o delegado, enquanto esparramava as trinta e sete fotos que restavam nos arquivos. Eram imagens aterradoras das supostas outras vítimas de Diego, onde se via que todos tiveram seus olhos arrancados e que um líquido verde saía da boca de todos eles.

O delegado estava envolto em um mistério aterrador e sentia um asco nauseante do assassino diante dele. Mas era preciso saber a motivação e ninguém melhor que o próprio Diego para responder-lhe suas indagações. Principalmente sobre a gosma verde encontrada nos cadáveres que os legistas não sabiam informar a natureza.

— Você não iria acreditar. Nem meus pais acreditaram... Só quando já era tarde demais.

—TENTE! — vociferou Pablo Pedrosa, dando um soco contra a sua escrivaninha de mogno. Os arquivos espalharam-se ainda mais e, quando Diego olhou nos olhos do delegado, viu que não teria escolha a não ser falar. E foi o que fez, assim que o delegado ligou o gravador.

— Meu nome é Diego Vasconcelos, tenho 16 anos e sou natural de Belé...

— Pula essa parte assassino! — gritou o delegado pausando a gravação — Quero saber logo como planejou cada morte. O que viu? O que te fez achar que não eram mais humanos? Foram as vozes na sua cabeça de satanista?

A R E C I B OOnde histórias criam vida. Descubra agora