Capítulo 2 - O céu de Colorado

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Quatro dias se passaram desde a nossa vinda para Colorado e como eu havia previsto, o meu pai estava enlouquecido em busca de ideias para preencher as páginas do seu livro. E a minha mãe? Bem... Ela já estava no terceiro quadro.

E quanto a mim? Tudo o que eu tinha feito durante aqueles quatro dias era dormir, assistir TV e jogar games. Já estava enlouquecendo. Precisava ir para a rua, conhecer garotos da minha idade (embora eu duvidasse que naquele lugar eu pudesse encontrar garotos que tivessem algo em comum com a minha pessoa), enfim! Eu queria fazer alguma coisa que me salvasse daquele tédio.

Mas naquela manhã algo diferente aconteceu. Ainda não chegou a ser nada de extraordinário, mas mudou um pouco minhas perspectivas sobre aquele lugar.

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Minha mãe estava pintando um quadro. O terceiro, desde que chegamos ali. Estava na varanda. O quadro chamava-se "O céu de Colorado". Não sei o que ela tanto via no céu de Colorado, que já não tivesse visto no céu de Nova Iorque. Mas, tudo bem. E para ser sincero, nunca me importei muito com os quadros da minha mãe. Era algo tão rotineiro para mim, que às vezes passava despercebido. Por isso mesmo é que estranhei o fato de Luna (ainda irei lhes apresentá-la), que parecia ter mais ou menos a minha idade, mostrar-se tão encantada e perplexa com aquela simples pintura a óleo, em tela.

Ouvia do meu quarto os risos e a conversa agradável que a minha mãe parecia ter com aquela garota, que dizia tanto ter admirado a sua obra.

-Pronto! Era só o que me faltava... Montanhas, solidão e... Garotas que gostam dos quadros da minha mãe.

Pensei.

Imaginei uma garota "nerd" ou algo do tipo. Talvez uma babaca, apaixonada por novelas e livros de romance. Quem sabe tratava-se de uma garota tão , feita e chata, que ninguém a queria por perto, por isso passava o tempo ali, perdida nos quadros da minha mãe.

Feia, chata e tagarela também. Curioso ao saber se, a dona daquela voz, de fato correspondia às minhas expectativas, desci as escadas vagarosamente chegando à sala. Quando abri a porta que dava para a varanda onde as duas estavam, deparei-me com ela: a garota mais surpreendentemente linda que eu já havia visto em toda a minha vida. Luna era o seu nome.

Mas como eu já havia dito, o extraordinário desta história ainda está por vir.

-Oras! Mal chegamos e já temos visitas!

Disse o meu pai, aborrecido e temendo que o seu, tão precioso sossego, fosse ameaçado.

Envergonhado por estar ainda de pijamas e com os cabelos desarrumados, fechei novamente a porta, antes que uma das duas pudesse dirigir-me a palavra. Mas a minha mãe fez questão de chamar a minha atenção.

-Fred! Que modos são esses? Volte até aqui e venha cumprimentar a nossa visita!

Minha mãe não entendia mesmo. Como ela era capaz de me mandar ir até lá, estando eu ainda de pijama?

-Pai! Você precisa ir até lá! Eu não posso cumprimentar ninguém desse jeito!

O meu pai olhou-me dos pés à cabeça e sorriu.

-Tudo bem filhão! Quando eu tinha a sua idade também queria ser bem visto pelas garotas e blá, blá, blá...

O meu pai era uma pessoa maravilhosa, só tinha um defeito: não sabia explicar nada que fosse usando uma simples frase. Não. O meu pai precisava narrar umas quatro ou cinco páginas (grandes) somente para poder dizer à minha mãe que eu não poderia cumprimentar ninguém, usando um pijama. Tudo bem que ele fosse escritor, mas minha nossa! Não precisava escrever um livro, cada vez que fosse falar com alguém.

A casa brancaWhere stories live. Discover now