A Guerra Dos Dois Reinos

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Estávamos no meio de uma guerra no mar. O rei Aaron (meu pai) não conseguiu conter os inimigos do reino da Bridge. Nós fomos atacados com muita força e todos tinha certeza que perderíamos a guerra. Estávamos enfraquecidos, não ouvimos os cantos deles (o que geralmente se ouve, quando um exército sereiano vai fazer guerra), por isso éramos totalmente vulneráveis naquela hora. Meu pai já sabia da derrota, então quis me fazer viver acima dos níveis d’água, onde o vento bate diretamente nos nossos corpos. Queria que eu vivesse com os humanos.

– Abraham, venha aqui. – Ele fez um sinal com a mão me chamando. – Venha logo.

Eu tentei nadar até lá, mas fui atacado por dois tritões guerreiros, acertei a lança em um e usei a calda para joga-lo contra as pedras, ele bateu a cabeça e acabou morrendo, peguei minha lança e fui até meu pai.

– O que foi pai? – Falei logo que me aproximei o suficiente para ele me ouvir.

- Vá para a superfície, salve-se. – Ele apontou para cima na hora que falou: “Superfície”.

– Não, eu sou um guerreiro. – Falei mostrando a lança em minha mão. – Você não pode me mandar embora.

– Posso sim! – Ele se aproximou de mim, quase de um jeito ameaçador. – Como rei e como seu pai.

– Eu vou ficar e lutar! – Me aproximei dele do mesmo jeito, imitando-o.

– Não vai adiantar você lutar e todos morrerem, alguém precisa sobreviver. – Ele abaixou a cabeça nessa hora e eu soube que ele estava certo.

– Está bem pai. – Ele levantou a cabeça e olhou para mim. – Eu vou para a superfície.

– Ótimo! – Ele nadou até o palácio e eu o segui. – Vou pegar a poção para você.

– Poção? – Perguntei ainda o seguindo. – Que poção??

– Essa. – Ele levantou um frasco que tinha um liquido roxo dentro. – Tome aqui, – Botou o frasco na minha mão. – Isso vai te fazer perder a calda e ter pernas por aproximadamente quatro anos do calendário humano.

– Mas pai... – Tentei falar, mas ele logo me interrompeu.

– Mas nada filho, esse é o único jeito. – Fiz que sim com a cabeça e comecei a subir.

Eu tive que desviar de uns três inimigos, mas sou bem rápido e cheguei lá em cima sem muito problema. Quando cheguei lá, logo tomei a poção, fiquei uns 30 segundos consciente antes de desmaiar e então a escuridão invadiu meus olhos.

Acordei em um hospital (a poção foi extraída de um humano, então podemos usar o conhecimento dele, por isso eu sabia que era um hospital) algum tempo depois, uma enfermeira que estava muito feliz, por eu ter acordado, se aproximou:

– Boa noite. – Ela examinou meu rosto e depois minha pernas... MINHAS PERNAS??? – Você está bem? – Fingi não ter me importado com o fato de não ter mais calda, só que estava apavorado.

– Por quanto tempo eu estou inconsciente? – Perguntei para ela e estranhei a minha voz, era muito diferente fora d’água.

– 3 meses. – Ela olhou para mim e eu vi seus olhos... Uau, que olhos lindos. – Até pensaram em sacrificar você, mas eu não deixei.

– Então, acho que você meio que salvou minha vida. – Ela sorriu.

– Sem querer me gabar,– Ela continuava sorrindo - mas eu meio que salvei mesmo.

Eu tive alta do hospital dois dias depois. Segui pela rua, a procura de um lugar e encontrei uma pousada e a mulher gentilmente me ofereceu um quarto de graça no primeiro mês. Subi as escadas (ainda estranhando as pernas) e entrei no meu quarto. Eu tomei a segunda dose da poção, se não tomar a segunda dose até quatro meses depois da primeira, você vira uma sereia (um tritão no meu caso) novamente. Dessa vez demorei mais tempo pra apagar, cerca de meia hora. Alguém bateu na porta um pouco antes de eu chegar a adormecer, mas eu já estava fraco demais para atender a porta, então só fechei os olhos e esperei a pessoa ir embora, ou então eu pegar no sono.

Acordei no hospital novamente, com a mesma enfermeira me examinando.

– Não posso nem te dar alta, que você já faz isso? – Ela estava olhando minhas pernas.

– É que deu saudade de você, – Fiz uma pausa para vê-la sorrir e então falei: - então tive que voltar correndo.

– Na verdade você voltou dormindo. – Ela falou brincando.

– Você me pegou nessa. – Então nós dois rimos. – Qual o seu nome?

– Alice, e o seu é? – Ela esticou a mão em minha direção.

– Abraham. – A cumprimentei.

– De onde você é? – Ela perguntou.

Eu travei, pensei em falar a verdade, mas os humanos não gostam de ouvir a verdade, até quando eles imploram por ela, eles só querem ouvir o que lhes fazem bem.

- Dakota do Sul. – Único lugar que veio na minha cabeça (provavelmente o humano de que tiraram o sangue para fazer a poção, morava lá) – E você?

– Califórnia. – Ela retrucou.

– Ah, que legal. – Dei um sorriso torto para ela, tentando disfarçar o desconforto.

– Então Abraham... – Ela pegou uma caderneta que estava ao lado da minha cama. ­– Por que você tem esses “apagões”?

– Eu não sei bem... – Passei a mão no meu cabelo e percebi que estava muito curto. – Enfim, a quantos dias eu fiquei apagado dessa vez?

– Só umas 5 horas, – Ela falou se aproximando da mim para examinar meu rosto. – dessa vez você não estava com tanto sono. – Eu dei um leve sorriso e ela devolveu.

Guardiões do MarOnde histórias criam vida. Descubra agora