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A jornalista levantou sua gola, arrumou seu blazer e manipulou a posição de seu microfone. Sua presença exalava um forte cheiro de café e perfume importado, misturado com um odor metálico desconhecido. Ela parecia nervosa; checava seu penteado a cada cinco minutos em seu espelho de mão, retocava a sua maquiagem com certa frequência e seus dedos seguravam uma caneta que batia freneticamente contra o roteiro que deveria ler antes, durante e após a entrevista. Lembrou-se do esforço que havia feito para conseguir a entrevista e de quantas pessoas havia manipulado e subornado apenas para transmitir ao público um sabor de revolução ou o fedor dos resquícios de ódio e loucura do estado.

Seu olhar esfumado vagava num horizonte invisível através da cena de correria que ocorria no cenário. Observava os rostos estressados, os olhares preocupados e as testas úmidas pelo suor. Sapatos, saltos e sapatilhas corriam de um lado para o outro, resultando num barulho coletivo e irritante semelhante a uma corrida de cavalos. Pensou nos cavalos, em como eram animais tão belos e fortes, como um dos entrevistados do dia. O outro, poderia assemelhar-se a algo oposto disso. Mais por mais que se negasse a afirmar, a jornalista havia tido mais dificuldades em convencer o maldito adolescente á participar da entrevista do que o próprio presidente que preferiu pronunciar seu esclarecimento num programa de uma emissora muito reconhecida pelo público do estado.

Era o encontro do século, como os telespectadores diriam. Um herói encontrando seu rival, um Deus encontrando o demônio e a luz encontrando as trevas. Mas quem exatamente era o lado do bem? A jornalista havia seus questionários. Pensar como a maioria não a faria chegar num cargo de formação de opinião dado pela emissora. Não se a emissora fosse igual as que oprimem a falta do livre arbítrio e vangloriam o controle mental.

Mas era isso que a emissora era e a jornalista estava sendo instruída a pensar dessa forma.

Ela havia apenas a ilusão de que controlava sua mente.

- Ele chegou! - Uma voz gritou entre o tumulto, fazendo a correria parar por um momento para em seguida recomeçar numa rapidez incomparável. Logo, o cenário via-se limpo de barulhos e sujeira de sapatos; haviam apenas as câmeras ligadas, os responsáveis pela transmissão e outros rapazes relacionados a imagem que iria ser transmitida ao público. O restante dos grupos se encontravam reunidos em suas próprias salas, observando e monitorando cada passo que uma câmera e outra faria, além da iluminação e das incontáveis ferramentas necessárias para uma entrevista digna e visualmente profissional. A jornalista pegou um pano por baixo da sua mesa, batendo contra sua testa suavemente numa forma de limpar seu suor sem remover a maquiagem. Era elegante a forma como seu sistema reagia ao nervosismo.

Logo, via-se homens vestidos em paletós com óculos solar postos sobre o olhar, caminhando em direção ao cenário em passos ameaçadores que expressavam a moral que carregavam consigo. No meio do grupo, encontrava-se um homem com um smoking azul escuro e uma gravata vermelha, deixando exposto seu novo corte de cabelo do qual a nação tanto comentava. E atrás do homem, o acompanhava em passos ligeiros sua secretária com quem havia rumores de um relacionamento secreto por mais que fosse negado pelo próprio presidente, Harry Styles. Fora da emissora havia outros policiais, verificando e analisando cada movimento que ocorria exteriormente. Todo um esquema comum quando se recebe a presença do presidente numa entrevista que iria durar menos de 30 minutos, tempo estimado pelo mesmo.

Havia cinco pessoas para preparar seu assento, para limpar a sujeira de seu smoking e para retocar a maquiagem do homem. O ambiente poderia assemelhar-se a sua personalidade; paredes brancas em contraste com os assentos transparentes enquanto recebiam a imagem clara e exposta de New York por trás, numa janela enorme que servia como suporte ou parede para aquele cômodo do prédio. Um ambiente limpo, iluminador e com o aspecto de santidade, assim como o presidente.

I think i found hell (l.s)Onde histórias criam vida. Descubra agora