Baile dos Mortos

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Ela estava radiante. Nunca havia estado tão feliz em toda a sua vida. As pessoas conversavam alegremente. Não muitas. Apenas seus amigos mais próximos e pessoas da família.

Seu vestido cheio e negro era motivo de muitos elogios. O tema era "Baile dos Mortos". Todos vestiam negro, roxo ou vermelho. Música tocava ao fundo. Havia bebidas alcoólicas e pessoas fumando. Sua festa de 15 anos estava perfeita. Como ela sempre sonhou.

Passa por seu melhor amigo, dois anos mais velho que ela. Puxa o cigarro que está em sua mão e o leva aos lábios. Solta a fumaça devagar e sente seu corpo relaxar. Ela estivera stressada nesses últimos dias por causa da festa tão esperada.

Anda em meio aos convidados e todos sorriem para ela. Está fresco. Foi bom escolher aquela chácara como local da festa. O grupo de convidados acaba, mas ela continua andando. Queria paz por uns minutos. Sempre sorrindo, é claro.

Chega em um lugar onde as árvores altas e finas se separam um pouco. Caminha até uma clareira. Lá, avista um homem. Está vestido inteiramente de preto, de um jeito formal. Parece um de seus convidados. Ajoelhado na grama, encurvado, parece sentir dor. Ela corre até ele, seu sorriso falhando levemente.

— O senhor está bem? — diz da forma mais doce possível.

— Óh, sim. Estou ótimo. — ele rebate, com uma risada seca e baixa, sem humor.

— Venha. Aceita alguma bebida?

— Há um baile, eu soube.

— Sim. Minha festa de aniversário. - seu sorriso quase some. Sente medo e hesita, afastando-se do sujeito.

Ele levanta, calmamente.

— Eu e meus amigos viemos para o baile. — ele ainda não olha para ela. É impossível ver seu rosto, por causa da pouca iluminação do fim da tarde.

— Seus... amigos? — sua voz falha. O medo é evidente nela.

— Sim. Viemos todos para o baile. Soube que é um Baile dos Mortos.

— Sim. É o tema de minha festa.

Ele solta uma gargalhada animada.

— Isso. Baile dos Mortos. Belo nome.

— Obrigada. — ela o fita, tentando ver seu rosto. Não consegue. — Certo... — ele permanece calado com a cabeça caída de lado, olhando para o chão. — E onde estão seus... amigos? — sente gotículas de suor brotarem em sua testa.

— Ah, estão logo ali, esperando que eu os chame.

— Quem vos convidou?

— Nós soubemos. Sempre sabemos desse tipo de coisa.

— Ah...

De repente, o homem olha para ela. Ela nunca sentiu tanto medo e pavor em sua vida. Seu rosto está totalmente deformado. O olho direito lhe falta. Há sangue seco por toda parte, inclusive em seu ombro. Metade dos dentes não está mais em sua boca. Ele ri da situação e aproveita o medo da aniversariante.

*

A vítima está largada no chão. Seu olho direito lhe falta. Há sangue por todo lado, principalmente em seu rosto. Seu nariz está quebrado e há marcas de luta em seus braços e pernas nus. Seu vestido negro fora rasgado na saia. Está descalça. Seus saltos da cor do vestido foram tirados e atirados em algum lugar longe.

O homem causador da morte ri. Aquilo tudo lhe anima. Era a segunda morte que causava desde que a própria havia ocorrido. Passa pelo corpo sem vida seguido por pessoas que ele apelidou de amigos.

Os mortos vão ao baile.

Depois de Meia NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora