Duas vidas e uma Guerra

271 40 32
                                    


Não era uma manhã comum, o dia 07 de dezembro de 1941 entraria para história e Takeo Shiro tinha consciência disso. Mal dormira aquela noite, preocupado com o que seria sua mais importante missão. Levantou-se cedo, sem conter sua ansiedade e logo foi ver como estava o dia.

Era manha de sol, mas haviam nuvens o suficiente para que o plano fosse realizado e com sucesso. Tudo conspirava ao seu favor e a favor de seu país. O Japão conseguiria essa vitória!

Mas, ainda assim, estava consciente que não se faziam vitórias sem sangue. Estava disposto a morrer para que seu país vencesse a batalha! Faria qualquer coisa para ver o Japão como uma potência e para conter as chances dos Estados Unidos investirem contra eles. Sua existência teria valido a pena se morresse garantindo que o plano do Almirante Isoroku Yamamoto desse certo.

Seus colegas compartilhavam do mesmo sentimento. Todos fariam o que fosse necessário!

E foi com essa vontade e essa ânsia por derrotar os inimigos que escreveram uma última carta às suas famílias. Uma carta de despedida que torciam para que nunca chegasse ao seu destino. Shiro começou a rabiscar suas primeiras frases, com uma empolgação que mal cabia em seu peito. Deveria ser um momento emocionante, talvez triste, mas ele tinha certeza que estava fazendo a coisa certa:

"Pai, sabes que sempre foi meu sonho servir ao nosso país. Nesse dia, servirei a ele com todo o meu ser, estou disposto a dar minha vida para que o Japão prossiga crescendo e adquirindo territórios. Não vamos deixar que o povo Americano nos subestime. Mostraremos quem somos e garantiremos um futuro grandioso aos nossos descendentes!"

Terminou a escrita e foi aconselhado por seus superiores a cortar uma mecha de seu cabelo e suas unhas para mandar como lembrança aos seus entes queridos. Se morresse era muito provável que não encontrassem seu corpo e esses pequenos pedaços de si serviriam como um consolo aos que o amavam.

* *

Don Stratton se preparava para mais uma manhã comum no USS Arizona. Era a mesma rotina desde que entrara para a marinha e fora mandado para a base naval de Pearl Harbor, em uma das ilhas do Hawai. Naquele dia, havia acordado alguns minutos mais cedo, justamente para que pudesse levar algumas laranjas ao seu amigo John na enfermaria.

Ainda não acreditava no que o marinheiro fizera no dia anterior. Escalar o casco do navio há metros de altura, apenas para verificar se havia um vazamento de óleo fora loucura. Bem que ele avisara ao amigo que era perigoso. Agora estava o outro na enfermaria, ferido, depois de uma queda de tantos metros no mar gelado.

Pelo menos, John se oferecera para fazer a tarefa. Se ordenassem para ele fazer, não saberia se seria capaz. Morria de medo de altura. E não tinha bravura o suficiente para arriscar sua vida. Precisava se preservar. Sua esposa estava o esperando na Carolina do Norte, e nem imaginava a hipótese de nunca voltar a vê-la.

Sentia falta da mulher da sua vida. Há meses estava em alto-mar, sem contato com nenhum conhecido, além dos colegas da marinha. Sua esperança era receber alguma carta dela nos próximos dias. Faltavam apenas dois para seu aniversário e a esposa era esperta o suficiente para cronometrar o tempo que as correspondências levavam para chegar até ele e programar para que uma chegasse na data comemorativa. Provavelmente, logo receberia uma mensagem dela, com palavras de afeto e carinho que lhe deixariam emocionado.

Muitas vezes pensava em desistir da carreira e regressar para seu país. Aquela não era a vida que sonhava para si, ainda mais visto a perspectiva cada vez maior de uma guerra. Não queria enfrentar tudo isso. Entrara na marinha justamente por achar que seria mais seguro que o exército. Agora não haviam mais garantias e ele não estava preparado para a guerra. Porém, também não poderia abandonar tudo sem um bom motivo. Iam chamá-lo de covarde e desertor. Em seu íntimo, Stratton sabia que era isso mesmo, mas manter uma certa aparência era indispensável.

Duas vidas e uma GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora