E mais uma vez, lá estava eu, sentada na cama, parada, olhando para o nada com as únicas certezas que eu não quero levantar da cama pra viver mais um dia de pura monotonia, não quero sair lá fora e respirar aquele ar impuro, eu não quero viver.
Ouço o despertador tocar, decido que ficar deitada já não me satisfaz, levanto e vou tomar um banho, cada minuto em baixo d'água é um minuto mais perto da minha ida, pensamentos e lágrimas se misturam com a água formando um só, esses pensamentos só me machucam, mas é aquele ditado, antes uma verdade dolorosa do que uma mentira confortante.
Saio do banho, coloco uma roupa normal, blusa, tênis e calça preta, como todo santo dia.
Desço as escadas, cada degrau é um motivo diferente pra tentar faltar a escola hoje, chego no fim da escada e lá está minha mãe, radiante como nunca. Eu não entendo, como as pessoas conseguem viver tão felizes estando em puro caos?
-Bom dia, bebe-Diz minha mãe enquanto me serve o café da manhã.
-Bom dia-Digo sem reação alguma, na esperança de ela pensar que eu estou doente e me deixar faltar.
-Coma tudo, você tem que se tornar uma menininha bem forte e saudável para viver bastante- ela diz enquanto vem em minha direção e me abraça.
Viver bastante, está aí uma coisa que eu não quero, bom, pelo menos não assim.
Apenas dou meu consentimento com a cabeça, pego o lanche eu vou em direção a parada. No caminho encontro com uma amiga que diz estar indo pro mesmo local que eu, eu não quero que ela vá comigo, eu quero ficar só, eu posso mentir, mas odeio mentiras. Eu posso distorcer os fatos.
-Desculpa, não posso ir com você, preciso ir na padaria- dou uma rápida resposta, na esperança de que ela acredite, se é que ainda me resta alguma.
-Eu posso ir com você se você qu...-
-Não, quer dizer, não precisa- digo cortando ela, espero que ela perceba que não quero que ela vá.
-Tudo bem, a gente se vê na sala de aula- ela diz pisando forte no chão enquanto vira as costas e segue seu caminho. Não dou a foda, tenho o que fazer, preciso passar na padaria e comprar algo, como eu disse, eu odeio mentiras.
Compro um pacote de balas e sigo em direção a parada, assim que eu chego na parada lá está o ônibus, merda, eu não acredito que fui estúpida o suficiente de deixar o ônibus fugir, vou perder o primeiro horário, mas afinal, quem liga pra escola? Fico já mais uns 10 minutos esperando o ônibus enquanto escuto música, é tão difícil ser pobre, essa vida de esperar ônibus não é comigo.
Avisto o ônibus vindo, e pra minha alegria, ele está vazio. Entro, comprimento o cobrador e vou sentar lá no fundo, ônibus vazio significa lugar na janela, lugar na janela significa poder fazer clips na minha cabeça, coloco os fones e pego meu pacotes de bala e vou comendo.
Minha vida não é ruim, eu tenho pais que se amam e me amam, amigos que me amam, tenho o que comer, o que vestir, tenho lugar pra morar, só não tenho felicidade, o problema sou eu, não as pessoas que estão em minha volta, a culpa é minha por tudo isso estar acontecendo, por eu me sentir assim, eu estou perdida no mundo que eu inventei, minha própria mente. Me perco nos meus pensamentos, quando o ônibus freia bruscamente, me assusto mas não ligo, reparo que entra um menino dentro do ônibus, ele senta atrás de mim, nunca vi esse menino por aqui antes.
Decido voltar para meu universo e comer algumas balas, quando reparo o menino desconhecido já está do meu lado, mas o que diabos será que ele quer? Por que em um ônibus lotado ele sentaria do meu lado? Já me preparo para o pior, temendo que seja um assalto já retiro os fones e pego o celular na mão, quando vou entregar pra ele, ele diz.
-oi, você pode me dar uma bala, por favor? Ele diz sorrindo enquanto acena pra mim e me olha de uma forma engraçada, vejo que ele é muito parecido comigo em modo de se vestir, seu jeito de falar é engraçado.
Que garoto estranho, gostei...
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Não me deixe só.
Teen FictionUma menina afundada em seus problemas buscando paz interior, conhece um menino que promete mudar sua vida. Lembrando que mudanças nem sempre são boas. -Como alguém que lhe faz tão bem, pode ser tão mau?