Feliz aniversário, meu anjoNão me leve a mal, mas eu meio que fiquei feliz quando você se foi. Provavelmente, não porque isso foi o melhor pra você, e sim porque senti que, talvez, eu fosse um pouco responsável por isso, por você perceber o quão bom é, por, finalmente, ter coragem de seguir o seu sonho.
Mas você sabe, não é? Você sabe que sempre foi tudo sobre mim. Que eu era incapaz de te amar. Que eu me aproximei de você porque você parecia precisar ser cuidado. Eu tenho essa necessidade de cuidar das pessoas. Porque eu sou vazio, e preciso me preencher. Porque eu preciso que as pessoas estejam comigo, que elas me amem. Porque eu não posso sentir, então eu preciso que os outros sintam por mim.
Você sabe. E é por isso que você foi embora e me deixou aqui. Porque eu não sou o suficiente. Porque todos os livros, filmes e toques são para que eu possa me encher com emoções falsas, as quais você não precisa.
Às vezes tenho a impressão de que eu nunca soube como realmente me sentia. Mas isso é, de certa forma, bom. Porque, se meus sentimentos são falsos, eu posso me livrar daqueles que não me fazem bem. Exceto o medo da solidão. Esse é meu castigo e também minha única garantia de que ainda sou humano, que não sou tão doente quanto pareço a mim mesmo.
Mas agora, sentado nessa praia, eu penso que talvez não tenha sido falso. Porque senão eu não estaria aqui. Não doeria tanto olhar pro mar de inverno e me lembrar de quando a gente fugia do dormitório durante a madrugada só pra observar o nascer do sol. Eu sempre tive fascinação pelo pôr do sol, mas nada é mais lindo do que a luz azul da madrugada sobre você. Você se lembra de quando eu te disse isso? Que pra mim vermelho sempre tinha sido a sua cor, mas que olhando você assim, o azul tinha ganhado um novo significado, um significado seu e meu. Eu me sentia dentro de um livro do Haruki Murakami. Tudo era uma metáfora e eu podia quase tocar minhas sensações. Meu corpo nunca esteve tão desperto. Então você cantou pra mim, uma música sobre uma menina chamada Rosemary e sobre pessoas cinzas. Eu não me lembro da letra, e acho que nem cheguei a entende-la completamente. Mas ainda sonho com ela. Eu posso sentir o frio daquele dia e ouvir a sua voz como se você sussurrasse no meu ouvido. E ainda não a entendo. Assim como eu nunca entendi você, embora fosse o que eu mais queria.
Foi nesse dia que eu senti algo extremo pela primeira vez. Foi assustador. Enquanto me sentia feliz por estar ali deitado na areia com você, fiquei em panico, porque você poderia desaparecer a qualquer momento. Ironicamente, foi o que aconteceu. Você foi embora sem ao menos me avisar.
Então eu descobri que eu era o vazio, o cinza. Mesmo que eu quisesse cuidar de você, era você quem estava me curando. Sempre que me falta algo, as coisas invisíveis me saltam aos olhos.
Eu descobri que amo você. Que a minha solidão é muito maior agora, porque só pode ser preenchida por uma pessoa. E descobri que não posso mais te buscar, porque talvez você não venha, porque eu nunca conseguirei ser pra você o que você é pra mim. Ou talvez você venha, mas tenho medo de que você volte a ser triste como era. Você, que sorri tanto agora. E eu não vou suportar que você não sorria pra mim desse jeito.
No final, ainda é tudo sobre mim.
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Esse texto não é exatamente sobre a música. Na verdade ele não tem nada a ver com a letra. Ele é mais sobre como eu me sinto quando a ouço e em relação a algumas outras coisas. Tá muito confuso, mas não importa. Desde que uma única pessoa entenda.