O buquê

O maldito buquê

"Apertei os meus olhos com força e fiz o meu último desejo.
Todos os sons se calaram, exceto pelo barulho dos ventos nas folhas. A porta, ainda terminando o trajeto lentamente, bateu contra a parede. Fiquei onde estava, no chão. Chorei porque meu coração estava se partindo. Não, meu coração estava completamente partido.
Depois de vários instantes, as cigarras mais uma vez emitiram o seu coro apaixonado. Fiquei de pé, cambaleei pela sala, e parei, tremendo, de frente para a porta aberta. Lá fora, a luz da lua iluminava a rua deserta."
- Will? Will, você ainda está aí? - Lágrimas escorriam pelo meu rosto, não posso acreditar no que acabei de pedir. Acabou. Para sempre.
Andei cautelosamente, passando pela porta tentando não fazer barulho com meus passos... O que era quase impossível.
Com o coração apertado e minhas pernas tremendo, caminhei até a garagem.
- NAAAAAÃO! NÃO! NÃO!
Lá estava ele. Deitado no chão. Com seus cachinhos impecáveis e angelicais, sua roupa um pouco suja, mas ainda assim inteira... Assim como ele todo estava, inteiro. Vivo. Bem. NÃO!
- NÃO PODE SER! NÃO EU NÃO VOU AGUENTAR! - continuei gritando enquanto cada vez mais lágrimas escorriam de meus olhos.- PORQUE VOCÊ FEZ ISSO COMIGO?!
Will não estava entrando em decomposição como pensei. Acho que o buquê entendeu bem o meu desejo e o trouxe literalmente à vida. Nunca vou superar. Nunca irei me perdoar... Nunca mais minha vida fará sentido!
- Frankie! - Ouvi alguém me chamando, mas não me importei, não tem mais nada com o que me importar.
- FRANKIE! Frankie! Está tudo bem? - Ouvi a porta de um carro batendo e alguns passos com salto correndo em minha direção. Dessa vez pude identificar a voz, era Yun Sun.
- Frankie!
Eu estava jogada no chão, em cima de Will, e é lá onde pretendo continuar, do lado dele. Para sempre. Porque esse devia ser o nosso final, juntos.
- FRANKIE! Olhe para mim! - Ela gritou enquanto tentava me levantar.
Com uma certa dificuldade, consegui virar minha cabeça para olha-la.
- Frankie...
- Ele... Ele estava vivo!
- Não... Frankie, ele estava morto! Assim como ainda está! E nada disso foi culpa sua...
- Sim, é minha culpa! Na primeira vez, foi minha culpa! Porque fui egoísta, e não quis esperar chegar o momento certo! E agora... Ele podia ter uma segunda chance! E eu acabei com isso, graças a esse maldito buquê! - Olhei para dentro de casa, me lembrando do buquê... Tudo culpa do maldito buquê!
Chorando, consegui me levantar, entrei dentro de casa e peguei o buquê do chão.
- Frankie, o que você está fazendo? - perguntou Yun Sun.
- O que já devia ter sido feito há muito tempo!  - Peguei um isqueiro que estava no balcão da cozinha, acendi e encostei suas chamas em uma das pétalas do buquê, assim que o fogo começou a se propagar, senti um arrepio descendo em todo o meu corpo, uma sensação horrível. Era como se todo o mal, toda a tristeza e discórdia que esse buquê causou nas pessoas estivesse passando por mim, e atravessando meu corpo até que pudessem finalmente se libertar desse mundo.
Observei o fogo atingindo as outras pétalas... O buquê aos poucos se desmanchando em cinzas...
- Frankie... - Ela tentou dizer, mas não permiti. Não quero mais ouvir ninguém. Não preciso mais de ninguém, se não tenho Will, para que viver? Talvez fosse isso que a Madame Zanzibar quisesse dizer, "Se uma árvore cai em uma floresta e ninguém está por perto para escuta-la, mesmo assim ela faz barulho?", a resposta seria sim, porque de qualquer forma, a árvore está lá. Por mais que ninguém perceba, ela está lá.
Assim como o buquê.
Assim como a maldição do buquê.
Saí de casa para distrair minha mente, algo quando destruí o buquê me obriga a fazer algo... Não sei exatamente o que... Apenas devo fazer. Apenas quero fazer.
Caminhei pela Ponte Golden Gate, já eram 23:23, e a ponte estava deserta, não havia ninguém, não havia nenhum carro.
Parei de andar em algum ponto. E fechei meus olhos. Pensei em Will. Lembrei de como era fofo quando ficava nervoso... De como ficava todo sem jeito perto de mim...
- Agora poderemos viver para sempre juntos, Will.
Fechei meus olhos, e me deixei cair.