Kim Seokjin certificou-se pela quarta vez naquele minuto se tudo estava arrumado corretamente em sua mochila do Pokémon ㅡ e, de fato, tudo estava. Agasalhos, dinheiro, roupas, coisas necessárias. E seus videogames. Ele não poderia esquecer seu Nintendo 3DS.
ㅡ Onde você está, Taehyung? ㅡ a voz de Jin era embargada, perdida. Nebulosa pelas lágrimas, sua visão podia enxergar apenas os brilhos cintilantes das luzes dos postes da rua. Deserta. Fria. Ele apertou o casaco contra seu corpo. O trevor dominou sua mente; mas ele não se deixou abalar.
ㅡ Hyung, eu... não venha, sério.
ㅡ Eu cansei de ver suas cicatrizes e não poder fazer nada. Tae, por favor... ㅡ Seokjin suspirou. A voz do outro lado da linha resmungou algo e gemeu de dor. Ele sabia que era de dor. ㅡ E... seu pai. Eu sei que você não quer ficar mais aí.
Um barulho pôde ser ouvido do outro lado. Não era apenas um barulho. Seokjin o conhecia. Era a voz, grave e assustadora, do Senhor Kim, o patriarca. Taehyung, do outro lado, parecia mais nervoso.
ㅡ Ele vai saber.
ㅡ E você acha que eu me importo com ele? Ele nunca se importou com você, Tae. Por favor... me deixe levá-lo pra casa na praia. Vamos morar eu e você, juntos, como você queria que fosse. ㅡ a escuridão diminuía aos poucos. Um barulho de soco pôde ser ouvido e um gemido baixo de dor também. Posteriormente, xingamentos. Seokjin controlou-se para não desligar, enquanto se mantinha atento.
E Taehyung desligou.
Àquela altura, Seokjin já corria seus dedos desperados pelo volante. O medo o guiava para longe. As lágrimas pareciam uma cachoeira interminável, e Jin não poderia mais segurá-las. Suspirou. Seus dedos trêmulos tocaram o botão do rádio. E uma música o afetou, como se apunhalasse seu coração e o desfizesse, como areia. Grãos de areia.
ㅡ Você é mesmo imprudente, Taehyung. ㅡ murmurou. A voz baixa e o ritmo calmo que participavam da música lhe causavam desordem mental. Seus pensamentos divagavam. O cérebro de Seokjin estava confuso e acelerado, mesmo que ele permanecesse tranquilo.
Dor.
Foi o que ele sentiu, quando soltou uma baixa risada ao ver a foto Polaroid que segurava. Nesta, os pequenos Kim Taehyung e Kim Seokjin de treze e dez anos sorriam inocentemente, abraçados um ao outro. Como ficariam ao final.
Seokjin não demorou a sair do carro. A tranquilidade o invadiu aos poucos quando o ar entrou por suas narinas, sendo solto lentamente. Seus passos eram lentos, sem pressa. Ele queria aproveitar a vista. No colo, ele carregava uma bolsa daquelas de câmera fotográfica.
Um clique. A primeira foto era o jardim exuberante e magnífico, voluptuoso entre os portões de ferro.
Dois cliques. A segunda era a estatueta de uma santa padroeira, de braços abertos e feição materna. Virgem Maria, ele reconheceu. Junto d'ela, havia cerca de três estatuetas de anjos pequenos e delicados.
Três cliques. O caminho frontoso de árvores e chão em pedregulhos. Seokjin caminhou mais por este, virando a esquerda. E a direita. E frente. E esquerda. E frente.
Quatro cliques. Ele sorriu. A foto era um close de seus pés próximos à grama acizentada do local. Mal aparada, mas mesmo assim fascinante.
ㅡ Tae...
Cinco cliques. Esta era Seokjin sorrindo, fazendo um pequeno símbolo de paz e amor com as mãos. Os dedos erguidos e o olhar caridoso ocultavam a tristeza e amargura que prevalecia em sua alma.
ㅡ Me desculpe.
Seis cliques. O último.
ㅡ Me desculpe por não ter salvo você à tempo.
Esta foto era significativamente singular. Era uma pedra. Não, era uma lápide. Seokjin sempre gostou do nome lápide, assim como o relicário que estalava em sua língua e se prendia no pescoço. Ele pôs as mãos ao redor deste, retirando o cordão. A foto que se agarrava ao receptáculo de ouro era, novamente, Kim Taehyung e Kim Seokjin. Depositou o colar em cima da terra bagunçada e sorriu. Sorriu de alívio por Taehyung estar livre, mesmo que as lágrimas transparecessem que não precisava ter sido dessa forma.
ㅡ Eu te amo, Taehyung.
E se foi.

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daddy issues {tae.jin}
FanficEu tentei escrever seu nome na chuva. Mas a chuva nunca veio, Taehyung. Então, eu escrevi com o sol.