O teatro da faculdade era enorme. Possuía 3 andares e deveria abrigar cerca de 700 pessoas. Estava vazio e estaria totalmente escuro, se não fosse pela luz amarela na lateral esquerda do palco, que iluminava um piano de cauda preto e um corpo mediano e magro que tocava uma música triste, porém envolvente.
Parecia ser parte de sua alma.
Mesmo à fileiras e fileiras de distância do palco, o jovem que entrara despercebido no teatro conseguia observar que o pianista tocava com olhos fechados, sem nenhuma partitura disposta. Será que tinha composto a música?
As notas graves pareciam encaixar com a batida do coração do jovem à entrada do teatro que observava o pianista. Talvez fossem feitas para se encaixar. O mesmo adentra mais ao teatro e procura sentar-se em uma poltrona, não muito longe nem muito perto. O pianista não desviava o olhar das teclas e tampouco notou a entrada do jovem. Se o mesmo pudesse ficar horas ali, ficaria. Tocar o fazia mais vivo, como um poeta que escreve para aliviar a sua alma, tocar o fazia mais leve, o deixava menos tenso.
À medida em que a música ficava mais intensa, o pianista se entregava mais e mais à sua provável composição. Movimentando-se como se acompanhasse as notas e com a cabeça levantada e postura ereta, recuperando o fôlego. Abaixava-se de vez em quando em direção às teclas e depois voltava, olhava fixo para frente.
De repente, o andamento da música mudou completamente, começando a ficar mais rápida, mais intensa, e as batidas do coração do jovem que observava o pianista ficaram cada vez mais rápidas, como se o seu coração batesse com os martelos do piano. Estava com olhos fixos no pianista e ao mesmo tempo que queria chegar mais perto, pensava que talvez isso tirasse a concentração do outro, o que ele não queria pois, caso o fizesse, esse seria o pecado mais cruel que algum dia poderia cometer.
Enquanto a música diminuía a velocidade, ralentando, o pianista começou a olhar para cima e de repente fecha os olhos como se sentisse dor e os mantêm fechados por uns segundos até abrir olhando para o piano. "O que será que está passando na cabeça do pianista nesse momento?" Talvez ele tenha composto essa música para alguém e se arrependeu, não da música e sim da inspiração. Talvez ele não tenha conseguido reconhecimento pela música e a ressente. Seja o que fosse, o jovem continuaria a admirar a beleza do pianista, não só tocando como a dele mesmo também. O rapaz era de tirar o fôlego. Tinha cabelos loiros e olhos, que com a iluminação, pareciam cinzas. Talvez eles fossem verdes em ambientes mais abertos. O maxilar e mandíbula bem esculpidos, e tem ombros largos que pareciam, pela expressão do pianista ao tocar, carregar um grande fardo.
No fim da música o pianista simplesmente fechou o piano, levantou-se e foi embora pela saída de trás do palco. Deixando dúvidas ao jovem que furtivamente o observara.
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- ... Se você continuar desse jeito, vai reprovar no semestre e nem eu vou poder te ajudar. - disse Shikamaru, enquanto ele e Sasuke jogavam em seus respectivos 3DS's, abandonados no puff da sala de estudos da faculdade de direito.
- Me diz, apenas uma vez, quando eu fiquei em recuperação? - Sasuke retrucou enquanto a ultrapassava o amigo no Mario Kart. - além do que, eu tô com nota máxima em todas as outras avaliações da matéria do Iruka...
- Mesmo assim, pra tudo tem uma primeira vez, né? – O moreno de cabelos preso respondeu a Sasuke que apenas resmungou algo incompreensível. – Além do que, você anda meio aéreo desde aquele dia que você sumiu na hora do almoço... O que você fez que te deixou assim?
Sasuke até pensou em responder, porém, como explicaria ao amigo que há quatro dias vira um pianista loiro tocar e aquilo enchera seu peito de algo quente tão intensamente que tem até o deixado tendo devaneios durante as aulas da semana? Bom, era só ele falar mas Sasuke não conseguia ser assim tão simples, mesmo com seu melhor amigo da faculdade.
A amizade deles poderia ser considerada algo estranho: os dois só se falavam enquanto na faculdade, mas durante esse meio tempo se entendiam e resolviam todas as pendências que uma amizade poderia deixar. Trocavam algumas mensagens durante a semana, mas sempre algo trivial como: "você vai hoje?" "sim" "hm", nada demais.
Ao invés de responder, Sasuke só continuou a partida e nem percebera que estava em segundo lugar, mas já era tarde demais para tentar ganhar. Shikamaru vencera e isso significava que Sasuke deveria pagar um café para o amigo e levantou-se imediatamente, logo sendo seguido.
Caminharam em direção ao café em silêncio e Shikamaru já tinha entendido que não receberia resposta e só deu de ombros enquanto os dois caminhavam.
_______________________________________________________________________________Poderia-se dizer que algo o levou para aquele teatro de novo no momento certo, porém, Sasuke fora no mesmo horário e no mesmo dia da semana que última vez com os dedos cruzados. E de novo o loiro estava lá. E tocando, para seu deleite. Era uma outra música, mas igualmente linda. O pianista não usava o blazer da última vez, estava usando uma camisa polo preta e calça da mesma cor. Seu cabelo loiro estava penteado para trás, preso com uma tiara e ele parecia feliz. Talvez essa música o trouxesse lembranças mais amigáveis do que a outra.
Sasuke entrou e sentou no mesmo lugar da última vez, observando atentamente o pianista que o hipnotizara há uma semana.
A música era linda, num tempo agradável e fácil de se ouvir. Não era uma densa sonata nem uma música que precisa de letra para fazer sentido.
Suas mãos ágeis tocavam com certa rapidez e leveza, parecia automático mas não chegava a ser algo robótico, percebia-se vida naquelas notas. Sasuke não conseguia imaginar como alguém com mãos tão grandes conseguiria tocar com tanta leveza.
A música foi ficando mais rápida e também mais bonita, fazendo parecer que o pianista tinha um padrão para compor. Parecia que a música estava chegando ao seu auge quando de repente ele parou de tocar.
–Caralho!- Ele exclamou e bateu com seu punho no banco em que sentava com agressividade e logo em seguida, coçou sua nuca meio arrependido.
Sasuke quis se encolher com esse "caralho" que o outro soltou, mas jamais admitiria isso em voz alta. O que será que houve de errado?
De repente, ele voltou a tocar, mas não a música e sim algo que parecia um exercício de prática. Uma escala. Ele estava muito concentrado, seus olhos não paravam de focar nos seus dedos e ele parecia incansável e ao mesmo tempo inconsolável. Parecia buscar a perfeição de algo que já era perfeito.
Ao que ele tocou as escalas das tonalidades possíveis, Sasuke levantou-se para ir embora sem ser notado, porém seus planos foram frustrados quando a alça de sua mochila prendeu no braço da cadeira e ele acabou sendo puxado de volta, fazendo barulho, que por sinal, ecoou no ambiente silencioso e a única coisa que Sasuke conseguia pensar era: puta que pariu...
– Oi?.. Tá tudo bem? – a voz do pianista soou e Sasuke arregalou os olhos.
Ótimo, ele vai pensar que eu sou um stalker.
– Sim, eu já estava de saída. – Sasuke o respondeu, endireitando a postura e indo em direção ao longo corredor, dando as costas o mais rápido possível para que o pianista não enxergasse qualquer resquício de vergonha na sua face, mesmo estando escuro.
– Ei, espera! – o loiro gritou, levantando-se do piano e descendo pelas escadas laterais do grande palco. –Você estava aqui há muito tempo? O que você achou? Você não é nenhum veterano querendo copiar minha música para usar na prova, né? Quem é você? – o pianista disparou em perguntas enquanto caminhava apressado na direção de Sasuke que não parara de andar mesmo ao ser pedido para esperar.
Ainda meio confuso da vergonha, Sasuke apenas respondeu:
– Bonito.
Que merda ele vai pensar que eu quis dizer com bonito?
E se retirou, batendo a porta do teatro com força, antes que o garoto pudesse o seguir, dobrando logo na primeira oportunidade e tirando um casaco de dentro da bolsa para se disfarçar caso o outro resolvesse ir atrás dele.
Oi, tudo bom? Primeiramente eu queria deixar claro que essa publicação é um "teste" e que talvez ela não se mantenha por muito tempo. Essa seria a minha primeira fanfic (mas não a primeira tentativa) e qualquer coisa falem comigo (:
Reviews? Críticas?
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