Já se passaram 3 dias desde o incidente no teatro e Sasuke nem sequer passara perto do bloco da faculdade de música, todos os dias pegando o caminho mais longo para chegar no seu próprio bloco, apenas para não esbarrar com o pianista que o deixara sem jeito, o que, na mente de Sasuke, nem fundamento tinha. Seu orgulho só não era maior que sua vergonha e caso encontrasse com o pianista, com certeza se envergonharia e acabaria tropeçando nos próprios pés. Decidiu apressar o passo e só conseguiu respirar direito quando entrou na área monótona de direito.
Não entendam mal. Sasuke é seguro de si, é um homem bonito com seus 1,80 de altura, com traços asiáticos marcantes para combinar com sua clara descendência, cabelos tão pretos quanto os olhos e ele tinha plena noção de toda a beleza em seus traços. Porém, o pianista conseguiu deixá-lo desarmado ao pegá-lo em flagrante no seu pequeno crime pessoal e apesar de se considerar um homem seguro, não deixava de ser um homem envergonhado e a situação toda o deixava corado até o pescoço de tanta vergonha.
Hoje o dia de Sasuke seria praticamente livre, teria aula às oito da manhã e depois somente às duas da tarde e sinceramente, ele até agora não entendia porque tinha ido à faculdade nesse dia. Poderia ter ficado estudando no conforto do seu quarto, mas decidiu de última hora, em um lapso de pura insanidade, sair de casa e abandonar o frio e escuro aconchegantes do seu quarto.
Já estava há quinze minutos na faculdade, sentado no refeitório com fones de ouvido, enquanto lia o artigo para a aula quando Shikamaru sentou na cadeira ao seu lado, estendendo-lhe uma maçã, enquanto ele próprio comia outra.
–Bom dia, Sasuke. – o amigo falou como quem não espera resposta pois, após ter sentido o outro pegar a maçã, ele mesmo retirou os papéis da pasta para também começar a ler – A gente tem que parar de ler as coisas 15 minutos antes da aula.
– Eu já estou lendo há quinze minutos, então tô lendo "as coisas" meia hora antes da aula. – respondeu removendo os fones, já que não ouvia nada mesmo, era só para não o perturbarem e Shikamaru nunca o perturbaria por achar trabalhoso demais e extremamente desvantajoso.
Shikamaru era a pessoa mais inteligente que Sasuke já conhecera, talvez até mais que o próprio irmão mais velho, mas ele nunca admitiria isso. Também era um belo homem que mantinha sempre os cabelos pretos e longos presos em um rabo de cavalo, o olhar de quem está entediado e um maço de Malboro no bolso. Apesar de ser reconhecidamente inteligente demais, era tão preguiçoso e desmotivado quanto poderia ser. Entretanto, toda vez que se comovia a fazer algo, esse algo era extremamente bem feito e sem falhas. O que não era o caso da leitura do artigo para o debate em sala de aula, isso ele faria com descaso.
– Mesmo assim. – deu de ombros.
Os dois continuaram lendo e comendo a maçã até dar o horário da aula, levantaram-se sem pressa e foram até a sala de aula, onde teriam aula de Direito Internacional Privado e debateriam por duas horas sobre arbitragem. E foram duas longas horas que Sasuke pensara várias vezes em abandonar a sala e voltar para casa, mas seu lado consciente falava que ele já tinha ido pra faculdade e então no mínimo deveria ficar até conseguir sua presença.
Quando deu dez horas, com o término da aula e sua devida presença marcada, Sasuke saiu de sala ignorando qualquer pessoa que falasse com ele, colocando os preciosos fones de ouvidos até sentir seu ombro ser tocado por Shikamaru que o chamou para ir até a biblioteca e depois irem almoçar, já que combinaram de assistir a aula da tarde.
Estudaram até meio dia e foram para o Centro de Convivência da faculdade, local onde tem vários restaurantes, bancas, reprografia, etc. Resolveram comer no restaurante de sempre, na verdade, nem sequer escolheram, só foram automaticamente para lá. Um restaurante italiano dentro do campus. Para sorte deles, ele estava meio vazio (o que é incomum para uma sexta). Escolheram um local mais afastado e Shikamaru reparou no quanto o amigo demorou tempo demais olhando o cardápio para no fim, escolher o mesmo de sempre e abaixar a cabeça para o celular. Na hora do almoço, eles sempre conversavam mais que o normal e Sasuke nunca usava o celular à mesa (regras da casa Uchiha). Ter o amigo o ignorando fez Shikamaru se incomodar.
– Sasuke, o que foi? – perguntou entediado, apoiando um cotovelo na mesa para apoiar o rosto enquanto mexia com os palitinhos dispostos com a outra mão sem desviar o olhar dos mesmos. Sabia que para fazer com que Sasuke falasse algo, não poderia demonstrar total atenção porque o mesmo não gostava de tratar o que se passava com ele de forma séria, a não ser que seja extremamente necessário. O que funcionou pois quando Sasuke olhou para Shikamaru, suspirou fundo e falou aquilo que esteve escondendo.
– Tenho tentando evitar alguém. – Sasuke cruzou as pernas, viu que o amigo ainda não o olhava e continuou a falar – Semana passada, quando eu saí da sala, eu acabei me perdendo e fui parar no bloco de música, mais especificamente no novo teatro... – Sasuke fingiu descaso e puxou alguns dos palitos para ele mesmo se entreter – e eu não costumo andar por lá mas notei que era um novo teatro e resolvi entrar. Aí, tinha um cara tocando piano no palco e eu fiquei observando ele tocar até ele ir embora sem me notar. – Shikamaru olhou para o amigo com a sua melhor cara de "tá-mas-e-dai?" – E eu fui lá de novo, nessa semana, só que eu não consegui passar despercebido e quando digo isso, quero dizer "tropecei e paguei mico" e agora tô com vergonha, não quero correr o risco de vê-lo de novo.
Shikamaru não conseguiu responder nada durante um curto período de tempo porque nunca imaginou que Sasuke, logo ele, estava passando por algo tão... Humano.
– Ok, não é característica sua ficar envergonhado por algo assim. Eu já ta vi fazendo coisas despudoradas demais nessa faculdade, pra acreditar que você tá com vergonha de um crush pianista. E talvez nem tenha dado pra te reconhecer, as luzes estavam acesas?
Sasuke o olhou com falsa raiva e logo depois sorriu desviando o olhar e iria responder imediatamente com deboche se não fosse pelo loiro que tinha acabado de entrar no restaurante fazendo com que as palavras ficassem dentro da sua boca semiaberta que fora fechada imediatamente. O restaurante que ele sempre ia e nunca tinha visto o pianista nele em todos os seus anos como universitário...Qual era a probabilidade disso acontecer? Shikamaru imediatamente olhou para onde o amigo encarava e teve que segurar o riso, antes de chamar o seu primo para ir até eles.
– Shikamaru, não. É ele.– Sasuke olhando com ódio diretamente para o amigo que retornou o olhar como quem diz "eu sei" e logo em seguida, soltando os palitos e entrelaçando os dedos da mãos para apoiar seu queixo, desviando o olhar para a parede quando sentiu a presença do loiro chegando cada vez mais perto, tentando pensar em tudo menos na presença dele.
– Naruto, bom te ver! – Shikamaru falou se levantando para cumprimentar o primo e Sasuke imitou o movimento e esperou ser apresentado com o rosto levemente corado, mas a única emoção que exibia era o descaso. – Esse é o meu amigo, que eu comentei, Uchiha Sasuke. Sasuke, esse é Naruto, meu primo de consideração.
– Oi! – o loiro olhou para os dois com animação que só usa quando está perto de alguém que conheça – É um prazer. Shikamaru falou de você pra mim, você é o único amigo dele, né? Como consegue? – Falou olhando diretamente para Sasuke e franziu o cenho, o que fez com que Sasuke tivesse uma quase que imperceptível mudança de expressão. –Eu te conheço de algum canto?
–Provavelmente não, Sasuke não sai do bloco de direito. Acho que esse restaurante é o mais longe que ele já esteve do nosso bloco. E sim, ele é meu único amigo daqui e ele consegue essa façanha por ser tão insuportável quanto a mim mesmo. – Shikamaru falou olhando para o amigo que internamente o agradeceu, deixando-se livre de qualquer resquício de vergonha ao notar que ele nem ao menos lembrava de si. –Senta aí! Aqui a comida é boa e barata. – falou puxando uma cadeira para ele e os três se sentaram e Sasuke internamente de rendeu.
Bom, fosse para conhecer o pianista que o deixara meio desequilibrado, que conhecesse direito.
