C a p í t u l o T r ê s

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A Rainha Má estava cansada, e já não via mais lógica em habitar aquele mundo. Se sentia fraca, incapaz, e talvez fosse esse o motivo que a deixasse mais enfurecida. Precisava falar com Rumplestiltskin, mas o Senhor das Trevas estava preso no castelo da Branca de Neve, o que dificultava as coisas.

Aquele castelo abandonado a irritava: não havia ninguém para ser vítima de suas maldades. A única pessoa que estava contigo era o Espelho, o qual nunca a abandonara e provavelmente nunca assim faria.

Olhava para o jardim morto abaixo de si, já que estava num tipo de sacada do seus aposentos. Apenas podia ver a sua macieira apodrecendo aos poucos, os frutos secando e os troncos caindo.

Reverter aquela situação seria um desafio, já que há tempos Regina não conseguia usar a sua magia. Desde a sua derrota, doze anos atrás, a sua magia esteve incontrolável até a Rainha Má não poder usá-la para exatamente nada. Não sabia o porquê disso, e nem como reativar a sua magia. Por isso precisaria entrar em contato urgente com o seu mestre, e assim poder ter a sua esperada vingança.

A mulher virou-se bruscamente e entrou no seu solitário aposento. Logo se dirigiu ao enorme espelho que se encontrava na parede à frente da sua cama.

— Espelho, espelho meu.... — começou ela, e o rosto do seu Espelho apareceu.

— Está divinamente bonita hoje, Vossa Majestade. — foi o que o mesmo lhe disse.

— Mostre-me a Branca de Neve. — ordenou, com a sua voz imponente, assim como a própria.

— Sim, Vossa Majestade. — dito isso, desapareceu-se o rosto do Espelho e um momento feliz de Branca de Neve veio ao vidro do objeto.

Ela estava com Emma e Encantado, ambos felizes e rindo. Emma tinha neve em suas mãos, tentava fazer uma bola. O Rei estava de mãos dadas com Branca e sorria feliz para a esposa. Aquele era um momento feliz e Regina se irritou mais ainda.

— Feliz aniversário adiantado, mamãe! — dizia a criança loira, desistindo daquela bola gelada e indo abraçar a sua mãe.

— Vamos, Emma. Daqui a pouco teremos um jantar com o Rei Sebastian e sua família! — Encantado avisou, carregando a filha e lhe dando um beijo na bochecha.

— Pai! Eu já sou grande! — a garota lembrou-o.

— Ah, é verdade. Mas você sempre será a minha doce e pequenina Emma. — a colocou no chão. — Está pesada também, tenho que notar.

Emma riu e seguiu com os seus pais andando até o castelo. Nessa hora, a imagem da família Encantada saiu e o rosto do Espelho surgiu novamente.

— Eu tenho que falar com Rumpletilskin. Eu preciso falar com ele. — Regina andava de um lado para o outro, agitada e impaciente.

Não entendia o fato daquela mulher que destruiu a sua vida acabar tendo um final feliz e ela não. Aquilo era injusto. E Regina faria aquilo ser justo, faria ter sentido.

— Esteve tão abalada desde o seu banimento do reino que isso acabou por acontecer, Alteza. Não precisa de Rumplestiltskin. Deixe a coisa fluir em você.

— Desde quando você é um mestre? — a mulher parou e fitou aquele rosto já conhecido.

— Desculpa, Vossa Alteza, mas se não lembra-se, eu já fui um Gênio da Lâmpada, o que explica muita coisa. — teve o cuidado de dizer, selecionando as palavras corretas e verificando se deveria dizer mesmo; tinha medo do temperamento de Regina.

— Ah, sim. Eu sei. — Regina passou a mão na testa. — Tudo bem. Eu vou tentar.

— Um bola de fogo, por favor!! — pediu o Espelho, de uma maneira muito exagerada e dramática. Então percebeu o que fizera, também pela expressão de Regina e pelo silêncio que se fez. O Espelho pigarreou e concertou-se: — Acho mais convincente a Vossa Majestade começar com uma bola de fogo. A sua marca registrada.

Regina posicionou-se, respirou fundo, fechou os olhos, ergueu a mão até a altura da barriga e esperou. Nada. Nem uma mísera faísca. Como poderia tirar a felicidade de Branca de Neve se nem ao menos conseguia criar fogo em suas mãos?

— Lembre-se o porquê de estar fazendo isso, sobre quem destruiu a sua vida e o que essa pessoa fez. A raiva, o ódio. Isso sairá de você, Regina. — o Espelho incentivou-a, e Regina se admirou pela lealdade dele.

Fechou os olhos outra vez e se concentrou. Lembrou-se de como o seu amável Daniel morreu, e quem causou a sua morte. Aquela garota com a pele branca como a neve e um rostinho doce e sorridente. Lembrou da dor de ter perdido o seu amor, e aquilo estava em seu coração mais que tudo, pois ainda doía. Lembrou-se do seu ódio por Branca de Neve, por Encantado e aquela família nojenta de tão feliz que é. Regina também lembrou-se das trevas em seu coração, e lembrou-se que deveria usá-la. Ela precisava daquilo. Vingar Daniel e vingar a sua humilhante derrota de anos atrás.

Então sentiu um pequeno calor em sua mão, e abriu os olhos para ter certeza da sua dúvida. Havia, sim, uma bola de fogo formada, pronta para ser lançada, e Regina abriu um sorriso de vitória. Agora os tempos eram dela, agora ela reinaria onde quer que quisesse.

— Isso! Agora é só praticar. — contou o Espelho. — O que fará agora? Destruir vilas, reinos, famílias felizes...?

— Não importa, porque... — respondera Regina, fitando o Espelho e sorrindo maquiavelicamente. Podia-se ver fogo em seus olhos, e aquilo não só era pela esfera chamuscando em sua mão. — ... A Rainha Má está de volta.

O Espelho sorriu também, pois acreditava no triunfo da Rainha. E aquilo seria muito bom de se ver. Realmente, a Rainha Má estava de volta, e também estava faminta por uma vingança.

As gargalhadas dela foram ecoadas por todo o castelo ou talvez por toda localidade, até a jovem Emma jurou ter escutado uma risada incomum em sua cabeça. Mas desfez-se com a mesma rapidez que viera, e a garota continuou a sua jornada com a sua família até o castelo coberto de neve.

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