0.1.1 《final》

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-Bom tarde, querida. -A psicóloga diz, após trancar a porta e sentar em minha frente. Eu dou um aceno para ela, continuando em silêncio. - Bom, eu vi sua ficha, huh? Maggie Makarov, certo? -Após ver meu aceno, assistindo, ela continua. -Sua mãe está ali embaixo?

Minha boca fica seca. Pela primeira vez, depois de alguns anos, eu penso na mulher que eu costumava chamar de mãe.

-Não. -Falo antes que eu possa me segurar. -Minha sogra. Ela me trouxe.

-Sua mãe, onde está?

-Não tenho. -A psicóloga levanta a cabeça e assente, me observando. -Ela me vendeu quando eu tinha pouca idade.

-Vendeu? -Os olhos da mulher, que antes parecia firme, se estreitam, vejo ela engolir em seco e piscar.

-Sim. Não sei o porquê. Drogas, talvez. Eu vivi em uma casa. -Falo, batucando os dedos em minha perna. A doutora escreve rápido em uma folha.

-Como era a casa? Você é adotada? -Eu a olho sem entender.

-Certamente não sou adotada. Fui vendida. Era um senhor de idade. Eu... enfim, a casa era antiga.

-Senhor de idade?

-Oitenta e sete anos. Todas as sextas tinha um jogo. Me obrigavam a participar.

-Como era o jogo?

Eu respiro fundo. Meu namorado sabia da minha história, sua mãe também, foi por isso que me indicaram a psicóloga, mas mesmo assim, contar me dá arrepios.

-Eu tinha que agradar eles. Sexo. Eu era estuprada. Em média iam vinte homens. Toda sexta. -As lágrimas começam a cair e eu nao me dou o trabalho de secar. Respiro fundo, olhando para um ponto fixo na parede.  -Não sabia onde estava, não tinha como fugir. Iam médicos quando eu ficava doente. Não tinha uma escapatória. Felizmente, um dia, o homem que me comprou chamou uma médica. Ele esqueceu que não podia chamar mulheres, só homens. Ela me tratou, mas eu fiquei desesperada quando vi que era quase hora dela ir embora. Contei tudo. Foram presos na semana seguinte. Caso fechado pra imprensa. A médica é a minha atual sogra. -Eu falo depressa. Tentando fazer com que as lágrimas parem. Olho para a psicóloga novamente, ela tem olhos vermelhos. -Essa é minha história, doutora. Um milhão de homens já passaram por mim. Um milhão de homens me transformaram no que sou hoje. Um milhão de homens me destruiram. Um milhão de homens que foram soltos por comportamento bom. Um milhão de homens que me assusta.

Olho para o relógio da parede, suspiro, me levantando.

-O horário chegou ao fim. Eu sinto muito por te fazer chorar. Também desejei que minha história fosse melhor. Até semana que vem, doutora. Foi bom conversar com você.

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⏰ Última atualização: Sep 12, 2017 ⏰

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