Um whisky, cigarros e nada mais.

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Estava uma noite fria, a casa toda de Josué fedia mofo e cigarro. Melhor dizendo, a casa na verdade era alugada de uma senhora, umas das oito que ela possuía num subúrbio de São Paulo. A vizinhança mal falava com ele, pensavam que era algum tipo de "matador de aluguel" ou traficante barra pesada que estava se escondendo, a barba grande e acinzentada ajudavam a dar aquele tom sombrio, um título que Josué estava longe de ser, mas estava começando a gostar da ideia. Tudo aquilo para ele era maravilhoso.
Não tinha muitos amigos, sua família nem sabia se estava vivo ou morto. Ninguem para ficar importunando sobre a vida medíocre, de merda que vivia. Assistindo porcarias na Tv, bebendo um whisky vagabundo falsificado e fumando um ou dois maços por dia de cigarro barato. Aquela vida para ele havia se tornado a vida perfeita, mas seria estragada naquele dia.
-Josué! Eu sei que você está aí, sinto o cheiro de fracassados de longe. -Um homem alto, negro. Possuía em uma das orelhas um brinco de diamante, comprado com dinheiro sujado de sangue, seu nome era Carlos, um assaltante e sequestrador que teve o desprazer de cruzar um dia. Josué pensava que nunca mais veria esse cara de novo e olha ele ali, no quintal de sua casa, chamando seu nome. O que esse merda quer comigo, pensou.
-Olha ele aí, mal ti conheço meu irmão e já lhe considero pakas. Me dá sua licença. - Entrou e se sentou num banco a minha frente, seu perfume importado batia de frente com o cheiro de mofo da casa. - Como você está, meu velho amigo?
- Estava bem até você aparecer, agora estou até com vontade de me matar. - Pegou sua Glock, arma que comprou quando era policial, a alguns anos atras, época que ele estava lutando pra esquecer, colocou na sua própria cabeca, apertando o gatilho, a arma fez "click". Carlos riu, sua gargalhada dava pra ser ouvida por um quarteirão.
-Não me disseram nada sobre você ser um comediante.
-Quem disse o que pra você? - Perguntou, colocando a arma de volta atrás da sua calça jeans.
- Big King, ele tem pra tratar contigo. Me pediu pra leva-lo ate ele, e caso você negasse ir por sua boa vontade, teria que fazer o que faço de melhor, leva-lo contra sua vontade, meu irmão.
Josué sabia que Carlos era um homem perigoso, era bastante conhecido no sub mundo por ser o mais eficiente sequestrador de São Paulo, seu codinome era Sumidor.  Achava uma bosta de apelido, as vezes até lhe fazia rir, porém era conveniente, ele desaparecia com o sequestrado e só se via de volta quando faziam tudo que ele queria. Pelo menos ele veio me pedir para ser sequestrado, pensou Josué. Não era uma situação muito confortante para ele negar o pedido, os dias sem fazer nada, bebendo e fumando o enfraqueceram.
-Pelo menos eu posso saber o motivo disso tudo, já que eu não faço nada pra vocês a um bom tempo e pelo que me lembro bem, já tinha me acertado com aquele velho gordo filho de uma vaca.
-Você lê jornais, viu alguma novidade atual no nosso país? - Ele encarou toda a casa. - Acho que não. Tome, eu trouxe pra você. - Estendeu o braço  e entregou um jornal, na capa estava escrito " A mais nova sensação do momento".
-Interessante, não sabia que a ciência já havia chegado tão longe assim.
-E quem se importa com a ciência aqui? Nos estamos falando de dinheiro meu irmão, aquilo que faz homens bons se transformarem em animais sanguinários para ter cada vez mais. - Ele parecia entusiasmado com alguma coisa, havia ganho muita grana pra levar Josué até o Big King.
-E você acha mesmo que eu quero essa grana?
-Não, mas você vai querer o que essa tecnologia faz. Ela vai trazer você de volta.
-De volta do que? Minha vida não tem mais volta, você está perdendo seu tempo aqui. Está falando com um homem que não se importa com merda nenhuma por aqui.
-As vezes a vida nos surpreende sabia, uma noite dessas estava em casa, com minha patroa assistindo um filme , alguma porcaria romântica que não vem ao caso. Quando estava passando a propaganda apareceu algo que me impressionou. Um homem, sem estudo nenhum, pobre passou num vestibular de medicina, em primeiro lugar. Seu resultado havia sido espetacular. - Carlos contava de uma forma que parecia que ainda estava impressionado com o que viu.
-Você ta querendo dizer algo sobre trapaça? Sinto lhe dizer que isso acontece todo dia, até presidentes do Brasil são eleitos dessa forma. -Aquilo não fazia sentido para Josué, mas sabia que Carlos era inteligente o bastante pra saber disso.
-Foi uma trapaça, mas não tem nada a ver com burlar o sistema, ou subornar algumas pessoas para votarem em alguém. É algo mais... interessante. Mas por favor, não vamos estragar a surpresa, levante e coloque alguma roupa decente e vamos ver o Big King.
Carlos saiu de casa, mas logo voltou
-Só pra lembrar. - Ele apontou dois homens armados com AKs 47, um na janela e o outro apareceu na porta. - Isso é um sequestro, não tente nada e ficará tudo bem no final.

Havia uma jaqueta preta pendurada na porta, uma das poucas coisas ali dentro que estavam limpas, pegou sua arma que estava em cima da mesa, que foi tomada logo em seguida por um dos capangas de Carlos. Ele notou que na camisa preta que os dois vestiam estava escrito "Policial Federal". Pensou por um momento que aquilo fosse só pra parecerem decentes, mas depois passou pela sua cabeça que eram mesmo federais, trabalhando para o crime organizado. Josué estava começando a crer que quando saísse por aquela porta, as coisas mudaria drasticamente sua vida.
Um carro preto estava estacionado na frente da casa, uma Blazer. Um dos homens abriu a porta para ele, que entrou, seguido por um deles. Carlos e o outro foram pro banco da frente.
-Está se sentindo confortável aí meu caro? - Perguntou Carlos, abrindo uma pequena porta que ligava a parte da frente com a parte de traz do carro, que era separada por uma parede improvisada. Ali dentro era sufocante, as janelas tinham uma película que impedia ver qualquer coisa do lado de fora.
-Se precisar de alguma coisa, peça para seu companheiro de viagem ao lado - Apontou para um dos homens que estava ao lado. - Ele me chamara no rádio. - Droga, pensou, uma Blazer feita com um único propósito, o sequestro. Janelas a prova de som, de bala e que impedia de ver qualquer coisa. Josué estava tentando imaginar com quem estava lidando,  sabia que Carlos era um cara muito perigoso, mas não que ele era inteligente e organizado. Seu mundo começava a mudar, de perseguições a marginais viciados para chefes do crime organizado, sequestradores e políticos corruptos. Ele era apenas um ex policial que fez uma merda muito grande, não estava entendendo ainda porque tudo aquilo.

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⏰ Última atualização: Jun 12, 2017 ⏰

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