Ele não gostava de praia

40 5 3
                                    


Eu não gostava de praia. Areia e mar era uma dupla que não me conquistava. No entanto, vez ou outra, por falta de opção ou por insistência dos meus amigos, eu acaba me rendendo a areia e ao mar. Naquelas férias foi assim: Luiza, minha amiga, resolveu noivar e a festa em comemoração da ocasião seria no apartamento dela em Balneário Camboriu.

Eu gostava de ter minha privacidade e acabei não me hospedando na casa dela, mas em um hostel pertinho de lá. Dez minutos de caminhada e eu cheguei, apertei o botão do elevador e esperei.

A sala de estar do apartamento da Lu estava cheia de gente que eu não conhecia. Cumprimentei a mãe dela, a primeira pessoa que encontrei e ela me indicou o canto da sala aonde a Lu estava com o noivo, o Fernando. Fui até lá e troquei algumas palavras com ela até outro convidado chegar. Então, meio sozinha fui me alojar perto da janela aonde eu pelo menos tinha uma vista para admirar.

No outro extremo da janela, um cara fazia exatamente a mesma coisa que eu. Ele tinha um copo de cerveja pela metade na mão e usava óculos de aro de tartaruga. A camisa jeans dele combinava com a minha. Eu nunca tinha visto aquele cara na minha vida, seria amigo da Lu?

— Bela camisa — eu disse ao me aproximar.

O cara se surpreendeu com a minha chegada. Piscou uma, duas vezes até perceber que eu estava tentando iniciar um diálogo. E então ele olhou para a própria camisa e depois para a minha. E aí sorriu ao dizer:

— Obrigado.

— Então... Você é amigo da Lu?

— Não, do Fê. Estudamos juntos na escola e eu moro por aqui então... Ele acabou me convidando.

— Legal. Eu estou de passagem mesmo.

— É amiga da Lu?

— Sim. De infância. Mas ela demorou para me convencer a vir, mar e areia nunca me agradaram muito.

— Eu odeio praia — dissemos juntos.

Nosso uníssono rendeu algumas risadas. Ele se aproximou e continuamos conversando. O papo dele era bom e o fato de ele ser bem bonitinho ajudava bastante. Alias, ele também odiava praia e usava camisa jeans, algo de bom aconteceria naquele encontro.

Uma hora mais tarde, eu queria beijá-lo. O sol estava mais baixo, já deveria ser umas seis horas da tarde e a sala da Lu ainda estava cheia. Eu não queria agarrá-lo no meio de todo mundo, então olhei para o meu copo vazio e tive uma ideia:

— Quero pegar mais uma cerveja na cozinha, vem comigo?

Ele assentiu e eu o guiei até a cozinha, nos fundos do apartamento. Como eu previa, não havia ninguém por lá. Abri a geladeira, peguei mais uma lata de cerveja e depois de abrir tomei um gole. Ele pegou uma lata também e fez a mesma coisa. Até tomar a cerveja, eu já estava escorada no balcão, esperando. Ele entenderia meu recado.

— Eu não perguntei seu nome — disse ele se aproximando.

— Priscila. E você?

— Frederico.

E dizendo isso, Frederico me beijou. E o seu beijo tinha gosto de cerveja e pasta de dente de menta. Ele cheirava a perfume do Boticário e tinta de caneta (isso é possível?). Embora não fosse aquele estereótipo de galã de novela das nove, ele tinha seu charme e uma pegada muito boa.

Enquanto as minhas mãos deslizavam por de baixo da camisa jeans dele, a mão dele deslizou para de baixo da minha saia. Pose de certinho, mas aquela atitude de safado. Eu não impedi. Fazia algum tempo que não ficava com alguém com uma pegada tão boa e eu tinha que aproveitar. Mas ouvimos alguém chegando e nos separamos. Eu peguei a minha lata de cerveja para disfarçar.

— Ah, vocês estão aí — era o Fê. — Vejo que fizeram amizade.

O Fê me olhou com aquela cara de engraçadinho e eu queria jogar minha lata de cerveja na cabeça dele.

— É, estamos conversando — Frederico afirmou.

— Entendi — disse o Fê, e então abriu a geladeira para pegar cerveja. — Vou voltar lá pra sala.

Ele sumiu no corredor e me deixou com cara de paisagem. Frederico olhou para mim e riu, seu sorriso era muito branco e bonito.

— Tá afim de mais privacidade? — Ele perguntou.

Eu ri.

— Claro. O que sugere?

— Meu apartamento fica aqui na frente.

— A gente pode sair pela saída de serviço e ninguém vai perceber — completei.

Tomei meu último gole de cerveja e depois peguei a mão do Frederico para guiá-lo até a saída dos fundos do apê da Lu. A porta de fechou atrás de nós e eu corri para apertar o botão do elevador.

A Lu me perdoaria por essa fuga.

Eu não poderia deixar passar um cara como aquele. Afinal, ele não gostava de praia. 

Ele Não Gostava De PraiaWhere stories live. Discover now