Histórias de Glóries - O céu de Sky

1- Mirê

   Havia sobre uma colina, nas Terras Brancas, uma cidade chamada Mirê. Seu povo era simples e de grande hospitalidade - como em toda boa cidade pequena. Algumas casas eram feitas com pedras, outras com madeira; mas nada muito extravagante ou luxuoso. Sim, era uma cidade pequena. As ruas eram amplas e não pavimentadas, fazendo com que os sapatos de qualquer um ficassem empoeirados. Era um lugar agradável e todos se conheciam.
   De lá saíram os músicos mais renomados de toda Glóries, como Nell, o errante. Mas também havia um garoto chamado Jhess Grayfield, o flautista, cuja a fama na cidade era imensa. Jhess tinha um meio irmão de nome Sky, o garoto de cabelo azul.
Ele foi encontrado durante o inverno - com cerca de um ano- em meio à neve por Suni. Ela o criou e deu-lhe o nome de sua família: Grayfield. Ela o amou como uma mãe biológica. Ori apoiou muito Suni quando ela decidira criar o garoto e, como não sabiam seu nome verdadeiro, ele escolheu.
- Vejam! Os cabelos dele são azuis! Certamente não é comum, senhora. Que tal dar a ele o nome Sky?
Ori era um homem prático e gentil. Era o servo de Suni. Entretanto, levando em conta que todos em Mirê não eram do tipo que possuíam servos, a situação dele parecia estranha demais. Ele comportava-se de forma muito submissa a Suni. Tanto ele quanto ela e Jhess tinham uma excelente postura que não encaixava com a postura abatida do restante da população da cidade. Pareciam ter vindo de longe... Pareciam nobres.
Sky era completamente diferente deles. Por exemplo, Jhess era um ótimo flautista; Sky - Embora as inúmeras tentativas de dominar um instrumento-, nunca foi bom em música. Jhess era alto e imponente para a idade - ele tinha onze anos,mas seu meio irmão dez; Sky, era franzino. O garoto de cabelo azul percebia que sua mãe e seu irmão não compartilhavam nenhuma semelhança com ele. Mas ele sempre acreditou que aquelas pessoas eram a sua verdadeira família, sua única família. A postura, o cabelo azul... Não havia nenhuma diferença que impedisse o garoto de pensar dessa forma.
Um dia Jhess o chamou para brincar na floresta abaixo. Com sorrisos nos rostos as crianças desceram a colina verdejante, entrando no bosque. As horas passaram guiadas pelo vento leste. Estava escurecendo e Sky temia que a noite caísse enquanto os dois estavam lá. Jhess desdenhou o meio irmão:
- Não seja medroso, Sky! O sol ainda está alto. Parece uma menina.
- Eu não sou medroso e não pareço uma menina! Só estou...
- Com medo? O medo não leva a nada. É o que Ori vive dizendo.
- Não! Só estou cansado, Jhess.
- Ora,Sky! Pare com isso. Você está com medo.
Sim, ele estava com medo. Era um garoto gentil, mas frágil. Era um garoto sorridente, mas inseguro.
- Eu não estou com medo,seu idiota!
- Idiota é você! Você não sabe fazer nada direito! Você não é bom em nada!
- A mamãe vai saber que você está andando na floresta à noite.
- CALA A BOCA! Ela nem é sua mãe! Você não tem nada haver conosco. Esse seu cabelo azul feio... Me deixa em paz!
Jhess virou-se e correu, entrando mais ainda no bosque. Ori fora procurar os garotos e chegou no exato momento em que ele começava a correr. O homem segurou o braço do garoto e o repreendeu. Sky baixou a cabeça e seguiu o servo de sua mãe.
Sua mãe? Não, não era sua mãe. Era alguém que cuidou dele como uma mãe e ele reconhecia isso. Mas agora enxergava que seu mundo fora ilusório. Suas certezas foram abaladas. Quem ele realmente é? Por que seu cabelo é azul? Não entendia como chegou até aquela cidade, aquela família.
- Não façam isso de novo! - Suni dava uma bronca nos meninos, mas suas feições leves não causavam o impacto desejado - Estava preocupada. Nem me disseram aonde iam, meus filhos.
- Não sou seu filho - Sky falava de maneira chorosa - Eu nunca fui...
Suni olhou para Jhess. Não o repreendeu, pois sabia que a verdade viria à superfície algum dia.
- Não... Não sou a sua mãe e nem Jhess seu irmão - ela fez uma longa pausa, enquanto observava o rosto melancólico da criança. Ela o amava muito - Mas eu o amo muito. Eu quero vê-lo crescer, sorrir, viver. Eu quero estar lá quando você precisar. Quero dar a minha vida por você,Sky. Meu Sky - As memórias daquele bebê na neve invadem a mente de Suni e as lágrimas começam a descer de seus olhos. Também era difícil para ela. Afinal, depois de tantos anos, ela acreditou que era a mãe daquele bebê gélido - Eu o amo muito,Sky Grayfield.
Ela envolve o garoto em um abraço quente e cheio de sentimentos.
Sky sabia que ela era, de uma maneira ou de outra, sua amada mãe e não importava o resto.