Capítulo 4 - Antônio

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ANTÔNIO

Meus pais já tinham ido dormir quando cheguei em casa. Estava me sentindo nervoso, sem minha frieza habitual. Sabendo que não conseguiria dormir, fui preparar uma dose de uísque e sentei no sofá com o copo na mão e o olhar fixo à frente. Estava com raiva, puto, furioso. Com tudo. Com minha vida, com minhas escolhas e com minha falta de controle.

Pensei naquela noite, como cheguei doido para ver Cecília e agora, quando a deixei, decidido que fosse a última vez a estar com ela. A realidade tinha caído em cima de mim com força total quando vi meu irmão chegar naquele restaurante e parei de me enganar. Eu não tinha duas vidas nem duas escolhas. Não podia adiar algo que em algum momento teria que ser decidido.

Tomei quase todo uísque do copo, a sensação que tive naquela noite apertando meu peito. Como eu poderia ter certeza que meu caminho era um e mesmo assim me enredar por outro? Em que momento eu assumiria a vida que escolhi e deixaria Cecília para trás? Como, se eu não aguentava nem sair de frente do seu prédio sem me sentir morto, acabado? Em que merda eu fui me meter?

Acabei com a bebida e fiquei lá, sentado sozinho na sala silenciosa. Os olhos dela vieram límpidos em minha mente, brilhantes e sinceros, inocentes, confiando em mim. Depois de tudo que me dissera sobre ter sido traída, eu ainda voltei a procurá-la, mesmo sabendo que a traía também. Não por que queria, por que planejasse. Mas por que queria estar perto dela. Só que isso não deixava de ser traição.

Tinha que me afastar enquanto ainda era tempo. Por que eu tinha minha vida, minhas escolhas e obrigações. E ela não podia ser uma vítima daquilo. O problema era que eu não queria. Não queria me afastar.

Lembrei de Cecília tão feliz naquele restaurante, colocando a minha comida, me servindo e falando de sua família, de como sua avó, tias e mãe cuidavam com carinho dos seus homens. E fez o mesmo comigo, demonstrando com aquele gesto o quanto eu era importante. Naquele momento gelei. Por que vi o que estava fazendo com ela. Era claro que eu sabia, mas hoje a realidade tinha vindo com tudo, com uma força avassaladora e, como um aviso, ainda colidiu com a chegada de Eduardo naquele lugar.

Automaticamente pensei em Ludmila. Nunca tinha se importado em me fazer um carinho ou um agrado. Chegava nos fins de semana com seus livros e roupas da moda, se revezava entre a casa dela e a minha, onde já tínhamos nosso quarto, e ligava para a empregada levar tudo para ela. Acho que nem sabia que a moça se chamava Neide. Duvido que um dia tenha olhado para ela ou perguntado seu nome. Nem queria saber se eu tinha tomado um café ou comido. Simplesmente ficava lá, me servia na cama sexualmente se eu quisesse e fazia uma social com minha família, sempre elegante e perfeita em suas roupas de grife.

Senti uma irritação danada por dentro. Levantei e fui caminhando na sala, deixando o copo vazio no bar, indo até a área aberta do terraço e olhando a praia lá fora. Imaginei minha vida com ela. Seria a mesma merda de agora. Cada um para seu lado, ambos sempre impecáveis e cada vez mais ricos. E vazios, ocos, sem aquela alegria toda que Cecília conhecia e que me doava, me fazia querer.

Passei a mão pelo cabelo, afastando-o da testa, olhando para tudo sem ver. Foi naquela hora que a porta da frente se abriu e eu soube que era meu irmão chegando. Voltei à sala e nos encaramos, enquanto eu parava entre a entrada da sala e do terraço.

Eduardo se aproximou e sorriu, balançando a cabeça.

- Sabia que estaria me esperando.

- Precisamos conversar. – Falei secamente.

Ele se jogou no sofá, tirando os tênis com os pés, se deitando sem se importar se nossa mãe reclamava daquilo quinze vezes por dia. Suspirou.

- Cara, vou te dizer. Eu entendi tudo. Não precisa me explicar nada.

REDENÇÃO AO AMOR - Livro 3 da Série Redenção.Onde histórias criam vida. Descubra agora