Prólogo

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"Todas as coisas levam a gente ao cansaço - um cansaço tão grande, que nem dá para contar"
Eclesiastes 1: 8

Ana - Domingo

Eu fazia tudo às pressas, hoje iria finalmente atender ao pedido de Filipe e ir com ele para a igreja. Ele disse que um grande amigo estaria ali e queria muito que eu conhecesse o pai de Luíza, a garotinha a qual eu simplesmente me apaixonei na festa de seus pais. E a medida que minha amizade com Filipe ia crescendo, mais me aproximava de Luíza, que como afilhada de Lipe, praticamente vivia na casa de dele.

Estava a algumas semanas já sem trabalhar no final de semana, então não teria que faltar ao serviço, porém, havia prometido a minha avó que iria ajudá-la nas compras do mês. Então, fui obrigada a me levantar da cama cedo para ir às compras, mesmo meu corpo implorando por mais alguns minutos de sono. Tomo um banho de cinco minutos, apenas para acordar de fato, e ao sair do banho, pego o celular para ver as horas e me deparo com uma mensagem de Filipe.

“ Oi, tudo bem? Preparada para hoje a noite? Vou te buscar as 17hr. Tenha um excelente domingo”

Ainda me sentia estranha em ter aceitado tal coisa. Lipe passou momentos comigo que nunca imaginei passar com ninguém, e desde a volta de minha mãe, foi quem esteve ao meu lado, me ajudando a passar por tudo. Então, sim, eu tinha depois de séculos alguém que poderia chamar de Amigo.

Enfim, o dia passou super rápido, e quando achei que não, já estava no meu quarto olhando me olho no espelho com um sorriso tímido no rosto, pois me lembrava perfeitamente da última vez que havia ido a uma igreja. Acho que tinha cerca de cinco anos, e como ficava na casa de uma amiga de Rosana, era bastante normal ir ali. Porém, naquela época, eu acreditava em Deus, acreditava que esse ser sobrenatural pudesse de fato existir ou me ajudar em algo. Mas, a medida que o tempo passava, fui entendendo que Deus não passava de um ser mitológico, o qual as pessoas recorriam a fim de que pudessem acreditar em algo que é racionalmente impossível. E agora, estava eu, com um vestido azul marinho, que ia até a altura do joelho, sua saia era um pouco rodada, o que dava ao mesmo uma impressão de princesinha. E só o havia colocado por muita insistência de Lu, que quase pirou de alegria por saber que finalmente estaria colocando os pés dentro de uma igreja.

Caminho para a sala e me sento no sofá, junto a minha avó, que ficou totalmente admirada com o fato de estar usando um vestido princesinha. Finalmente Filipe chega e me manda uma mensagem dizendo que ja estava me esperando. Então, rapidamente dou um leve beijo na testa de minha avó e abro a porta a fechando logo em seguida, e olhar para frente, me deparo com um Filipe completamente social dos pés à cabeça, os cabelos bagunçados que o deixavam com um ar de rebelde. Nunca parei pra observar de fato a beleza de Filipe. Mas tinha que admitir, sua pele clara, seus olhos escuros, os cabelos rebeldes a altura, o ar charmoso que carregava. Ele não possuía aquele corpo atlético e músculo como na maioria dos filmes. Ele era mais um tipo nerd bonito, sabe. Realmente me admirava o fato dele ainda não estar namorando.

Ao chegarmos na igreja, ele começa a me apresentar para várias irmãs e jovens. Que pareciam por sua vez, serem muito simpáticos, e confesso que acho que algumas das senhoras achavam que éramos um casal, o que sinceramente não tinha nada a ver. Vinte minutos depois, nos sentamos na segunda fileira de cadeiras, e logo Filipe se ajoelha para orar, o que me deixa um pouco perdida, então apenas me sento e fico ali olhando para minha próprias mãos, notando que precisava fazer as unhas. Logo uma moça de pele negra, e cabelos cacheados sobe no púlpito convidando toda igreja a se colocar de pé. Faz uma breve oração e inicia o louvor. E por mais estranho que pareça, me senti bem. Era como se uma paz fora do comum me invadisse à medida que a menina cantava. As luzes foram substituídas por outras bem mais leves, deixando o ambiente com menos iluminação, dando meio que um ar de privacidade. E parece que tal ato, fez com que a igreja se entregasse ainda mais trazendo mais leveza ao ambiente .
Estava quase levantando minha mãos para adorar quando uma vontade fora do comum de olhar para trás me consome e acabo cedendo. E sorrio ao ver Luiza na porta da igreja com um vestido azul turquesa, todo florido que ia um pouco abaixo do seu joelho. Seus cabelos soltos em lindas ondas cacheadas nas pontas que iam até metade de sua cintura, e uma sapatilha branca completavam o look da pequena. Ela logo me encontra com o olhar sorrindo, ergue a cabeça para o homem ao seu lado e diz algumas palavras. Então seguindo sua deixa, sigo seus olhos e meu mundo para. Ele olhava para Luiza com um enorme sorriso nos lábios e ao olhar para frente, seus sonhos se encontram com os meus e o sorriso some. Havia anos que não o via. Pra ser exata, fazia nove anos que não o via. Mas aquele olhar eu reconheceria em qualquer lugar. Lúcio.

Lúcio - Domingo

Luiza estava toda saltitante, fazia alguns meses que Filipe a havia apresentado a uma amiga, a qual Lu se apaixonou. Era Ana pra cima e pra baixo. Era como se tivesse encontrado uma melhor amiga. Tanto que um dia, chegou em casa com lindas tranças no cabelo, e não queria tirá-las de forma alguma. A única coisa que a fez tirar foi a promessa de que Ana faria uma outra trança nela.
Então, após muitas horas tentando escolher um vestido a qual agradaria a sua amiga, saímos de casa. Já estávamos atrasados. Mas ainda sim conseguiríamos chegar a tempo de sua apresentação.
Durante o caminho para a igreja, me lembro de Ana, não a amiga de Filipe, mas da mãe biológica de Luiza. Confesso que me arrependo com a forma que obtive a guarda de Luiza, mas não me arrependo de tê-la criado. Ela salvou minha vida quando eu achava que não tinha mais saída. Se tornou a luz que precisava para viver. Porém, sabia que precisava do perdão de Ana. Só não sabia se um dia teria a coragem de fazer isso. Pois poderia perder a guarda de Luiza. E não sei o que faria se a perdesse.
O percurso até a igreja foi rápido, e ao chegar no estacionamento, já podia ouvir o louvor de fora e pelo jeito estava um ambiente delicioso. Ao passarmos pela porta da igreja, Lu olha para frente e seu sorriso aumenta, olha para mim  e diz onde Ana estava sentada. E como não estava nada curioso para conhecer essa tal de Ana. Olho rapidamente para o local onde ela havia falado e quando meus olhos encontram aquele olhar meu mundo congela. A conheceria em qualquer lugar. Ana!




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