CAPÍTULO 3

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  Eu estava tão focada no que estava fazendo que nem percebi minha mãe gritando no andar de baixo. Me assustei pra caramba. Minha mãe NUNCA perde a calma e, em circunstância nenhuma ela grita.
  Desci as escadas tão rápido que tropecei nos meus próprios pés umas três vezes. Vi meu irmão parado em frente à porta, com uma mochila das mãos. Seu rosto estava indescritível. Acho que a palavra que melhor o descreveria seria aterrorizado. Eu não o culpo. Se mamãe estivesse olhando daquele jeito para mim, eu já teria  saído correndo há muito tempo.
  Ele estava encolhido como um ratinho, e apesar de minha mãe ser mais baixa que o meu irmão, ele tinha se encolhido tanto, como se quisesse sumir, que minha mãe já estava mais alta do que ele. Não consegui distinguir as palavras muito bem, mas entendi um “Como você pode!” ou “Nunca tive tamanha vergonha!”
  De algum modo, minha mãe sabia o que tinha acontecido. Dava pra perceber só pelo modo como ela falava. Ela devia ter ligado para todas as pessoas da escola, tentando descobrir alguma coisa.
  Meu irmão não respeita minha mãe há uns seis anos. Fala palavrões. Nunca liga para os compromissos e eventos dela (Como o clube do livro que ela queria fazer). Ele desvaloriza o trabalho dela e gasta todo o nosso dinheiro com bobagens. Acho que todas as mal-criações foram se acumulando ao longo dos anos, até ela explodir, e essa foi a gota d’água. Até meu irmão sabia que tinha passado dos limites. Ele tinha desafiado a tranquilidade da minha mãe muitas vezes, mais vezes do que seria racional desafiar, até ela surtar. E acredite, você não ia querer ver Livia Brown surtar, não é uma de suas cenas mais bonitas. Na verdade, minha professora de ética consideraria isso bem “deselegante”.
  Ela gritou por uma hora inteira, e depois foi se deitar. Sem beijo de Boa noite. Sem despedidas. Eu e meu irmão ficamos como dois bobos, um olhando para a fuça do outro por uns cinco minutos. Até agora não sabia explicar o porque ela estava olhando para mim daquele jeito, como se quisesse me matar. O que eu tinha a ver com aquilo?
  -Parabéns Audrey. Você acaba de provocar uma guerra familiar.
  -Do que você está falando?
  -Não se faça de idiota, eu sei que você contou para mamãe sobre eu ter me mudado por causa do bilhete! E que você respondeu ele só para acabar com a minha reputação!- Ele estava vermelho como um tomate, parecia que ia explodir.
  -Eu NÃO falei para mamãe tá? Ela deve ter perguntando para outra pessoa. E eu respondi mesmo, estou cansada de obedecer você esperando que você me agradeça!
  -Claro que você contou pra mamãe! Acha que eu sou idiota? Obrigada mais uma vez por causar uma guerra familiar!
  -A guerra nunca teria começado se você não tivesse trocado popularidade pela sua família! – eu gritei, e saí correndo para o meu quarto. Tranquei a porta. Eu estava furiosa e cansada de fingir que tudo estava bem, quando na verdade não estava. Liguei para Marie e ela me disse que eu devia ter contado isso à ela antes, e perguntou se eu confiava nela ou não. Eu me senti uma completa idiota por esconder isso dela. Contei a ela sobre a festa do Max e ela deu risadinhas, como se soubesse de alguma coisa que eu não sei.
  -Essa festa vai ser ótima! Estarei lá.- e desligou na minha cara.
  Bom, pelo menos agora eu tinha planos para amanhã à noite. Isso me fazia uma nerd não tão nerd. Talvez até melhorasse minha popularidade. Quer dizer, eu não me importo com isso, mas um pouco de popularidade não mata ninguém. Ou mata?
  Você deve estar pensando se esse é um daqueles livros nerds comuns, em que uma garota não popular tem um crush popular e eles se gostam ou coisa do tipo. Se você ama esse tipo de livro, vá embora. Esse livro aqui não é para você. Eu tinha um crush da escola. Mas, não adianta. Ele nunca vai gostar de mim. E eu absolutamente não quero gostar dele. Ele não me nota, não adianta o que eu faça. Mas ele continuar sendo a pessoa mais engraçada do mundo. O nome dele é Max Russel. Mas parece que sempre que eu estou por perto ele me ignora e não fala nada. Como se eu não fosse digna de suas gracinhas.
Tudo bem, não importa. O importante é que eu vou naquela festa e eu estou proibida de me apaixonar. Festas são lugares em que pessoas se apaixonam facilmente. Vamos evitar choradeira futura.
  No dia seguinte, eu acordei bem cedo, mas Tyler já tinha saído. Eu estava totalmente sozinha ( exceto pelos meus gatinhos). Eu fui para a cozinha e, sem Tyler me atrapalhando, fiz panqueca integral com semente de girassol e manteiga de amendoim em cima. Parece esquisito quando você ouve, mas tipo, qualquer coisa fica deliciosa com manteiga de amendoim. Principalmente geleia.
  Fiz minhas trancinhas habituais e coloquei uma saia plissada cinza, com uma camiseta branca simples e uma echarpe xadrez vermelha. Coloquei meu All Star vermelho. Eu amo moda nerd. É demais. Mas, meu Deus, como é impossível achar coisas desse tipo. Eu compro numa loja online que se chama Collegial Academy. Eu comprei TUDO da loja. Porque tudo é maravilhoso.
  Peguei minha bicicleta verde e fui à caminho da escola. Encontrei Marie pelo caminho, em sua bicicleta cor de vinho. Era maravilhosa. Os pais dela são muito ricos, mas não dão exatamente muita atenção para ela. Eles trabalham o dia inteiro como pesquisadores, e ela já fez de tudo para tentar chamar a atenção deles. Um dia, ela fingiu ter se afogado quando estavam na praia, e ficou fora da vista deles por 5 horas! Eles nem notaram nada. Ela mora em uma daquelas casas vitorianas em que a etiqueta e os modos são muito importantes. Não sei como os pais dela ainda não à expulsaram de casa, porque se você visse o modo como ela é desastrada, diria que ela tem que ganhar um prêmio do Guiness. Ela derruba pelo menos três latas de suco de tomate com beterraba por dia (se você achou a minha panqueca nojenta, imagine o suco dela).
  Chegamos na escola e nosso dia foi totalmente normal. No meio da aula de história, recebi um aviãozinho de pape. Percebi que não era de nenhum dos populares pois nas asas estava escrito “De Marie”. Era uma pergunta. “Você ainda gosta do Max não gosta?” Eu pensei bastante para responder aquilo. Eu gostava do Max? Aquele sorriso, os cabelos dourados, o sorriso, os olhos cor de mel, o sorriso... tomada por uma paixão enorme, coloquei um “Sim.” e lancei de volta. Ele não atingiu Marie. Ao invés disso, atingiu a garota mais misteriosa da sala, Sarah Chadding. Apontei freneticamente para Marie, e ela pareceu entender. Me abaixei para dar um espirro. Meus espirros não soa bonitinhos, como os de uma mocinha deveriam ser. São loucos e escandalosos. Tentei evitar o barulho que ele causaria, e me virei de lado.
  Uma coisa engraçada da nossa escola é que, apesar de todos Não respeitarem ninguém praticamente, nunca, em hipótese nenhuma, leem nossos bilhetes. Isso é demais. Não nos respeitamos na vida real, mas nunca abrimos as cartas uma dos outros. Acho que se a minha escola fosse um reino, quem abrisse cartas seria condenado à pena de morte.
Ela derrubou suas três latinhas e eu terminei a coleção do Sherlock Holmes pela terceira vez. Pode-se dizer que eu sou uma fã dele. Ele é tão incrível! A maneira como ele soluciona os casos parece que ela prevê o futuro ou coisa parecida.  Prever o futuro. Isso parece bem o tipo de coisa que Sarah faria. Por Atena, aquela garota é estranha.
  No intervalo, eu e Marie estávamos discutindo qual popular iria fumar primeiro na festa do Max quando Lea Winnys, uma das garotas populares, a mais estúpida, irritante, e que sempre acha que está certa.
  -Do que estão conversando garotas? Sobre algumas das novas descobertas científicas talvez? – ela disse com um sorrisinho tonto estampado no rosto.
  -Não.- Marie respondeu com firmeza- Se conversássemos sobre isso, você iria se sentir muito inferior.
  Lea fez a cara mais feia que você pode imaginar e disse:
  -Bem, pelo menos eu falo de festas em que eu sou convidada!  
  -Nós também fomos convidadas!- eu disse
  -Ah sim, claro que foram.-Ela disse com uma ironia que me deu nos nervos.
  -Pergunte à Max Russel se quiser, foi ele que nos convidou- eu falei, fingindo indiferença e encolhendo os ombros.
  -Como se Max Russel fosse te escolher quando ele tem à mim!- ela disse, meio desesperada.
  -Dá pra entender porque ele escolheu a Drey...- Marie disse.
  -Ele gosta de mim!- agora ela estava realmente desesperada.
  -Sério mesmo? Não é o que parecia quando ele LIGOU para Audrey para convidá-la. Como ele te chamou? Enviou um torpedo? Ah não, ela não gastaria dinheiro com você! – Marie disse. Agora minha boca estava dormente de tanto ficar aberta. Tenho que dizer, eu me surpreendi com ela naquele dia. Foi aí que um pensamento me ocorreu.
  -Você não foi convidada, não é Lea?- Parecia que ela estava prestes a chorar. Era óbvio que Max tinha convidado Halsey para ir na festa, e ela tinha pedido para levar Lea. Assim como eu tinha feito com Marie. A único diferença era que Marie não estava nem aí pra isso. Ela preferia mil vezes ficar em casa lendo do que ir à uma festa. Mas isso era muito importante para Lea. Quase senti dó daquela garota irritante e popular por sua chatice. Quase.
-Claro que fui! Não pense que eu sou impopular como você Audrey Brown!- e saiu rebolando com seus saltos de oncinha pelo corredor.
  Assim que ela tinha se afastado bastante, eu e Marie olhamos uma para a cara da outra e começamos a rir descontroladamente. Não sei porquê. Começou do nada. Aquele foi um momento único. Um momento em que tínhamos vencido uma batalha. Uma batalha contra uma garota cruel, que faz muita gente perder a autoestima à ponto de saírem correndo e chorando. Mas nós tínhamos vencido. Não sei Marie, mas me senti demais.
  Ei, o que era uma festa para garotas que venceram Lea Winnys em uma discussão? Nada. Moleza. Sem me apaixonar? Confere. Sem deixar me empurrarem na piscina? Confere. Autoestima alta? Confere.
  -Drey, vamos para a minha casa nos arrumar. Posso pedir para o motorista buscar suas roupas de festa.
  -Tá bom. Vai ser demais! Vamos enerdizar a festa!- segurei o riso por o que me pareceu uma eternidade, sustentando o olhar de interrogação de Marie, ainda não entendendo a piada. Então suas sobrancelhas se arquearam e nós duas começamos a rir.

                                                   

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⏰ Last updated: Jul 09, 2017 ⏰

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Audrey AuroraWhere stories live. Discover now