O sótão da Solidão

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  O som era calmo. Nossos passos rangiam o piso velho de madeira, ecoando em toda a casa.

     Estávamos no saguão, perto da entrada. As escadas eram enormes, porém empoeiradas e sujas. O corrimão apresentava um brilho fraco, como o teto espelhado.

     Chegamos na parte de cima da casa. Haviam dois corredores, todos com várias portas em seus lados. Caminhamos pra o corredor mais escuro.

     Ao final dele, uma parede limpa e pintada de beje. Estava totalmente conservada, diferente das outras, que estavam sujas e descascadas.

    Sem entender aquela diferença, olhamos ao redor do corredor estreito, encontrando uma pequena porta no canto dá parede.

    Puxei a corda, que revelou uma escada, que ia até nossos pés.

- Quem se arrisca? - A garota de olhos escuros e cabelos claros disse.

     Subi as escadas, na frente dos outros integrantes do grupo.

     No final das escadas, um sótão escuro. Aqui, diferente do resto da casa, tinha um som estranho. Som de água caindo, rangidos de portas.

     Observamos cada canto daquele cômodo. As paredes escuras, o chão gasto. Não era possível ver o fim, mas conseguimos ouvir um choro.

      Era calmo. Parecia estar longe.

    Caminhamos mais um pouco, e junto com o choro, os barulhos se tornaram mais altos e intensos.

    Encostada em uma parede, uma garota chorava, abraçada a seus joelhos. Não parecia estar bem. Seus olhos inchados, cabelos bagunçados. Estava pálida, com os lábios escuros e secos.

- O que aconteceu, garotinha? - Disse, chegando mais perto. Ela continuou chorando. Outro choro foi ouvido. Olhamos ao redor, vendo um garotinho, também chorando.

    Os choros se tornaram desesperados, mais crianças foram vistas, muitas, muitas e muitas. A cada parede, uma palavra diferente era escrita com tons de vermelho. "Solidão", "Abandono".

     Os sons eram ensurdecedores e macabros. Começamos a correr. Quanto mais corríamos, maior ficava o lugar. Corremos para o outro lado, mas quanto mais corríamos, mais alto eram os barulhos.

       Era enlouquecedor. Nos sentamos em um canto, chorando desesperadamente. Quanto mais choravamos, mais baixo eram os sons, mas se pararmos, os sons voltariam, piores a cada hora.

     Ficamos ali, com as cabeças​ baixas, chorando para diminuir os barulhos.

     E então ouvimos um som de vozes. Eram outras crianças, subindo pelas escadas e entrando pelo sótão. Sem poder avisa-las, continuamos chorando, e com uma tinta quente e vermelha, escrevemos na parede uma frase, para nos ajudar nessas décadas de sofrimento.

"Cuidado, o choro pode te levar a lugares perturbadores."

-Luiza Gulin

Onde qualquer flor floresce - ColetâneaOnde histórias criam vida. Descubra agora