Capítulo 3

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"Akai Ito é uma lenda chinesa muito antiga. Nela, acredita-se na existência de um fio vermelho que une através do tornozelo duas pessoas que estão predestinadas a ficarem juntas. Não importa tempo, lugar, circunstância ou quantos relacionamentos você tenha na vida, a verdadeira experiência do amor será somente com a pessoa que está no outro extremo do fio vermelho. Mas lembre-se: quanto mais emaranhado o fio estiver, mais difícil será o caminho até sua alma gêmea."

LUÍSA

Akai Ito era a única coisa que se passava pela minha cabeça assim que coloquei os pés em Madrid.

Akai Ito era a única coisa que meu consciente gritava quando encontrei Gareth Bale no sábado.

Akai Ito. Uma maldita lenda chinesa que eu sequer sabia pronunciar o nome direito.

Akai Ito.

Não me lembro ao certo quando escutei a história do fio vermelho pela primeira vez, assim como não me lembro quem me contou ou o por que, entretanto, recordo-me muito bem que essa pequena coisinha, vinda de tempos milenares, foi capaz de modificar completamente minhas decisões sobre o futuro.

Eu tinha criado meu próprio clube da luta após o ocorrido com Gareth Bale. Sentia-me estúpida demais por deixar um ocorrido momentâneo tirar meus sentimentos dos eixos que, de forma repetitiva e com caneta marca-texto, fiz meu cérebro gravar três regras básicas de sobrevivência:

Número 1: não trabalhar ou se envolver com qualquer tipo de atleta;

Número 2: certificar-se se a pessoa é solteira antes de qualquer envolvimento;

Número 3: Jamais, em hipótese alguma, usar fantasia de diabo novamente;

Óbvio que minha intenção não era acabar como Edward Norton no final do verdadeiro Clube da Luta, mas nessa altura do campeonato, seria muito melhor ter imaginado tudo que de fato ter presenciado.

Foram com essas regras estúpidas que sobrevivi perfeitamente durante quatro anos. Elas definiam a faixa etária de pessoas que eu tratava, as bocas que eu beijava no sábado à noite e sobretudo, a forma como eu me divertia. Nada de festas muito bizarras ou casamentos.

Mas, se a lenda de Akai Ito é realmente verdadeira, então os deuses do amor começaram a mover seus pauzinhos para que eu encontrasse mais uma vez o outro lado do meu fio vermelho e mandasse para o espaço minhas leis.

Começou com Jack Wilshere, seu histórico infinito de lesões e a regra número um indo ralo abaixo. Até hoje eu não faço ideia de como ele foi parar em minha sala, porque céus, minha especialidade eram crianças. Eu tinha até uma gaveta com pirulitos e um papel de parede infantil! O cara não pode ter errado a porta e simplesmente se sentado em minha cadeira! Entretanto, aconteceu e eu fiz seu tempo de recuperação cair de cinco para três meses, mesmo que o desgraçado continuasse se machucando depois disso.

Foi quando David Luiz apareceu frustrado em meu local de trabalho que eu percebi: os opostos não se repelem, se atraem. Eu e jogadores de futebol somos opostos. Merda de lei da física. Merda de força de atração e repulsão.

Depois disso eu não faço a menor ideia do que aconteceu, como tudo em minha vida. Recusei proposta de Wenger para ajudar seu time e só tive noção do quanto reduzir o tempo de recuperação de um jogador era lenha na fogueira do futebol, quando Florentino Perez me telefonou. Ele precisava de mim já que seu departamento médico estava lotado e eu tinha a varinha mágica para resolver isso.

Love is not for everyoneOnde histórias criam vida. Descubra agora