Júpiter

61 5 14
                                    

Deitar no gramado do quintal, e observar as estrelas,sempre foi um habito. Contemplar cada brilho, enquanto me imagino pulando em cada uma delas. Não sei quando minha vida começou a piorar, com as traições dos meus pais, ou quando meus avôs morreram.

Meu pai trabalha na área politica - se posso dizer assim -, enquanto minha mãe passa boa parte do seu tempo escrevendo e cuidando da casa, meus dois irmãos mais novos, não possuem nenhuma obrigação além de ir a escola. Já eu, sou o menino exemplar da família, todos me veem como um santo, como se ninguém tivesse seus pecados escondidos, como se nenhum deles tenham feito coisas sombrias na adolescência. Não sei se me sinto arrependido, ou se me sinto vitorioso por ter dado tudo de mim para chegar onde cheguei. O engraçado, é que por mais que ninguém diga, cada um tem seu demônio interior, e não seria diferente comigo.

- Archie, vamos se atrasar - grita minha mãe, enquanto confere mais uma vez a roupa de Valentina.

Cada nome de uma irmã minha tem um significado, e o motivo de meus pais terem colocado esse nome na minha irmã mais nova, é que durante o parto minha mãe teve grandes dificuldades por estar a cima do peso. Sendo assim, quando Valentina nasceu ela não chorou, e nem mesmo respirou. Os médicos conseguiram reanimá-la, minha mãe a chamou de valente, valente por seus primeiros segundos na terra terem sindo tão difíceis.

Minha mãe sempre foi pontual, principalmente quando o assunto era ir ao culto de domingo, já meu pai nem tanto, porém por um milagre, ele e minha irmã Rebeca - a caçula dos irmãos - já estavam no carro. Coloco minha mochila nas costas e desço as escadas.

- Desculpa, não tinha achado meus sapatos - sorrio, enquanto sinto toda a mentira me embrulhar o estomago. É como se a mentira já fizesse parte de mim, ao ponto de se tornar verdade.

- Por que a mochila? - pergunta.

- Vou dormir na casa do Dylan hoje - asseguro - lembra que te falei que temos que terminar um trabalho? - minto novamente.

Ela me olha de cima a baixo, como se eu estivesse escondendo algo, e estou.

- Então... - é a unica coisa que sai da minha boca.

A buzina do carro corta o assunto, e dou graças a deus mentalmente. Abro a porta enquanto minha mãe vem logo atras com Valentina no colo.

Cerca de vinte minutos depois chegamos a igreja, meu pai entrelaça seus dedos a mão de minha mãe como se fosse a coisa mais comum, porém não é. Vejo Dylan mexendo no equipamento de som, vou a seu encontro e sou interrompido por Alba - sua namorada -, ela me da um forte abraço que é retribuído um pouco sem jeito, por minha parte.

- Quanto tempo - anuncia com um sorriso largo no rosto - estava morrendo de saudade, não sabia que voltaria - da um pausa enquanto me analisa - Deus sabe de todas as coisas - continua.

- Sim - pronuncio, mostrando um pouco dos dentes.

É a unica coisa que digo segurando sua mão, não quero cortar seu barato dizendo que só vim hoje como visitante, ou que muito menos pretendo voltar.

Ela se despede, e sigo meu caminho ao encontro de Dylan.

- Eae, tudo bem? - estico minhas mãos para cumprimentá-lo.

Ele estica a sua mão e me puxa para um abraço breve.

- Tudo sim, trouxe ? - questiona.

O Espaço entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora