505

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Minhas mãos suadas escorregavam direto do volante. Mesmo assim, fazia esforço para continuar mantendo-as no mesmo local, controlando a direção do carro. Eu dirigia para voltar direto para o 505, onde ela com certeza me aguardava ansiosa, em seu lado da cama deitada de lado com as macias mãos entre as pernas e um sorriso.

Ouço o toque de meu celular. Vejo no visor que é Karen e recuso. Provavelmente apenas vai falar uma desculpa qualquer para ter me ligado, mas no fundo eu sei que ela apenas gosta de ouvir o som de minha voz, como ela mesma diz.

Continuo dirigindo em linha reta naquela estrada sem fim, mas meus pensamentos continuam nela. Sua boca, suas curvas, deus toques. Tudo era feito com a maior delicadeza que eu era incapaz de compreender.

Ouço mais uma vez o toque incessante de meu celular. Irritado, atendo.

-Oi, meu amor. - Digo, tentando passar uma voz animada.

-Oi, baby. Como você está? Não vai furar nosso encontro mais uma vez, não é? – Karen pergunta do outro lado da linha.

-Você sabe que eu não vou. Por volta das 22:00 eu estarei aí. – Digo com certeza, já que meu relógio marca 18:30.

- Ok, estarei te esperando com uma surpresinha. – Ela diz com uma voz sexy.

- Já estou animado. Vou continuar dirigindo e depois te ligo, beijos!

-Beijos, Mo! – Ela diz e desliga.

Coloco o celular de lado, sem tirar uma das mãos do volante. Finalmente, avisto o velho motel na beira da estrada. Estaciono o carro e desço, acionando o alarme do mesmo logo em seguida.

Entro no velho estabelecimento. As paredes empoeiradas e o cheiro de mofo não escondem a provável última vez que esse pequeno prédio foi limpo. Ando até a recepção, onde uma senhora com seus cabelos brancos me atende.

-505.

-Ela já está lhe esperando. - Ela responde sem alterar sua expressão neutra de sempre.

Subo alguns degraus de escada, impaciente pela falta de um elevador no local. Continuo nervoso, indo até ela como uma criança encantada com seu brinquedo novo. Começo a ficar excitado apenas pensando em seu corpo perfeito e seu toque.

Finalmente, chego no quinto e último andar, que conta com apenas cinco quartos. Bato de frente ao último e leio atentamente as escritura em sua porta: "505".

Respiro mais uma vez antes de abrir a porta. Ela está lá exatamente do jeito que imaginei. Seus cabelos curtos e negros bagunçados, seus olhos enormes me observam atentamente. Ela abre um sorriso.

- Achei que não viria mais. – Ela diz em um sussurro.

- Você sabe que eu nunca deixaria de vir... Alexia... –Dou mais alguns passos e a tomo para mim. Um beijo molhado e quente, como sempre passo noites em claro imaginando fazer.
Sinto lágrimas molhadas na face de minha garota e separo nosso beijo. Eu desmorono completamente quando ela chora.

- O que houve? – Ela olha em meus olhos antes de pronunciar as palavras.

- Só não quero dizer adeus novamente.
- Você sabe que nunca é adeus. Eu sempre volto. – Tomo ela para mim mais uma vez, rezando para que Karen não descubra.

505Onde histórias criam vida. Descubra agora