90 dias a teu lado

1º Capitulo

1º Capitulo
[Oiçam: http://www.listenonrepeat.com/watch/?v=q_9sd6kGRuk] 

Bem, era agora. Agora era o meu momento decisivo. Com apenas um mês a faltar para completar os meus 18 anos, caminho pelos corredores do hospital. As minhas mãos tremem e suo frio. Todos os meus erros e feitos me passam à frente dos olhos. E se tudo acabar? E se eu não poder mais ajudar a minha mãe? E se eu não conhecer o homem perfeito para mim? Se eu não tiver filhos, uma casa, gatos? E se tudo acabar dentro de pouco tempo? Essas eram as perguntas que me faziam tremer. Eu segurava o choro, porque bem, eu ainda não tinha motivos para chorar.

- Bom dia – sorriu amavelmente para a senhora idosa, por detrás do balcão.
- Bom dia, jovem. O que te traz aqui hoje? – sorriu.
- Bem, vim falar com o doutor Silva.
- Oh, sim. Espera só que te chamem pelo nome. Não deve demorar muito – sorriu.
- Obrigada Dona Magda – sorri.
- Não tens de quê. Como está a tua mãe?
- Está melhor, obrigada – sorri e fui-me sentar.

Brincava nervosamente, batendo a ponta dos dedos uma nas outras. Deixei a minha cabeça pender para trás e por momentos o tecto pareceu-me realmente interessante. Eu divagava no meio dos meus pensamentos quando recebi uma mensagem.

#Mensagens ON#
Juh: Então bitch, já sabes alguma coisa? X
Eu: Não, mal saiba ligo-te ou mando mensagem. Amo-te. X
Juh: Amo-te e acredita, tudo vai correr bem.
#Mensagens OFF#

Quem me dera que ela tivesse razão mas as probabilidades de eu ter eram de 89%. Como eu teria a sorte de 11%? Eu tenho tudo menos sorte. Inspirei fundo e expirei com força. A minha perna tremia e lembrei-me da minha mãe dizer “Pára de abanar a perna! Controla-te! Devo ter de pedir à médica qualquer coisa para te acalmares” e uma gargalhada era solta dos seus lábios, fazendo-me rir em seguida. 

- Querida Inês, já te chamaram! – ouvi a Srª Magda chamar por mim, cutucando-me no braço.
- Oh desculpe, estava distraída. Até já.
- Que Deus esteja contigo! – ela abraçou-me, sorrindo-me.

Assenti, tentando sorrir e caminhei lentamente pelo corredor. Seria agora. Estalei os dedos maiores e em seguida os polegares, como sempre fazia quando estava nervosa. E juro, nunca estive mais nervosa do que estou agora.

- Bom dia, Drº - sorri nervosa, entrando no consultório.
- Inês, minha querida – abraçou-me – Como tens andado?
- Com os pés – ri-me minimamente.
- É bom saber que continuas com o teu bom humor – disse no meio de uma calma gargalhada – Senta-te – apontou para a cadeira à frente da sua secretária e sentou-se na sua cadeira e eu obedeci, sentando-me.
- E então? – perguntei cada vez mais nervosa. 

Os nervos consumiam-me por completo. Eu suava frio, as minhas mãos tremiam descontroladas e as pernas balançavam. Eu precisava de uma resposta.

[Oiçam: http://www.listenonrepeat.com/watch/?v=7maJOI3QMu0] 

- Bem, fizemos as análises sanguíneas – mexeu em alguns papeis – e a biópsia à medula espinal para que não houvesse opção de o exame estar errado... – mexeu em mais alguns papeis e eu assenti.
- E quais foram os resultados?
- Bem, na análise ao sangue – respirou fundo – os teus glóbulos brancos estão em muito pouco número e a existência de plaquetas é quase nula e na biópsia foram detectadas células que não devíamos encontrar – reparei que as suas mãos tremiam enquanto mexia nos papeis.
- O que isso significa? – eu senti-a os meus olhos marejarem. Eu sabia o que aquele significava, apenas queria ouvir da boca do médico.
- Lamento querida. É positivo.

O meu mundo simplesmente desabou. Senti as minhas pernas pararem de tremer e levei as mãos à cara. Eu não conseguia chorar. Não conseguia. 

- Quanto… - respirei fundo –quanto tempo tenho?
- Temo que não mais de… – eu juro que podia perceber a sua voz falha, como se se controlasse – não mais de 3 meses, querida.