Capítulo 3 - Lembranças vagas

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Era uma noite um bocado fria, a minha ideia era ficar longe de casa o maior tempo possível. Meu pai não parava de beber e ficar se lamentando pela morte de minha mãe. Tudo bem que temos o nosso tempo de luto, mas aquilo era lastimável, ele deveria estar se recompondo, mas a cada dia que passava ele ficava pior. Era triste e terrível. Ele deveria ser meu porto seguro, mas eu quem estou sendo o dele.

Bom, se você quem está lendo ainda não percebeu, mas estou contando sobre a noite em que eu saí depois da cafeteria, duas semanas depois da morte de minha mãe, e fui parar num barzinho de esquina. Onde eu supostamente conheci Alberto, pelo menos esse é o meu palpite.

Para falar a verdade, eu nem me recordo muito sobre esse dia. Ou deveria me referir a essa noite, quando realmente era noite... Enfim, eu não me recordo de muito, mas o que eu me "lembro" tentarei contar:

Estava me perguntando o que estava fazendo naquele lugar, nos dez minutos que se passaram e não me deixavam nem sentar na cadeira do quiosque, sabe aquelas altas que giram? Então quando estava saindo do local, uma voz rouca me chama:

-Hey, bonequinha! –disse e acenou com a mão grande e ele sorria de jeito solicito.

Eu fui.

-Você tá querendo beber? –tossiu de jeito estranho, enquanto me convidava para sentar com eles, uns quatro a mais, todos barbudos e com jaquetas de couro.

Me sentei.

-Você bebe Chopp, pequena? –disse quase em tom de desafio.

-Sim, bebo sim. Meu tipo preferido de bebida! –nunca tinha bebido.

Ele riu alto e os outros bateram sobre a mesa e eu me assustei, mas ri também, saiu uma risada forçada.

Um deles acenou para a garçonete e ela veio logo em seguida, olhou para mim com desaprovação, mas nada fez.

-Nos traga Chopps! –sorriu e logo olhou para mim. Esse tinha a barba ruiva e os olhos azuis.

Quando chegou aquelas canecas enormes, que mais tinham espuma que líquido eu sorri, mas queria mesmo era rir. Eu nunca tinha bebido, e quase estava saindo dali, mas precisava daquilo de alguma forma. Acho que era quase um desafio para mim.

Eu tinha 16 anos naquela época e estava tentando me embebedar para poder esquecer o quão meu pai estava desolado e, para também, provar para mim mesma, que a vida continua mesmo perdendo a única coisa que me motivaria continuar, nas piores circunstâncias possíveis. Pensando no sorriso de minha mãe, peguei aquela caneca, assoprei a espuma de forma a estranhar a tonalidade da mesma. Os goles que dei foram rápidos e a bebida estava gelada demais, quando passava pela garganta é que eu conseguia sentir aquele gosto amargo, mas gostoso de algum jeito. Terminei de tomar naqueles mesmos goles. Coloquei a caneca vazia sobre a mesa, fazendo um pouco de barulho com o impulso.

Eu ouvi gritos de euforia assim que a minha caneca vazia foi colocada sobre a mesa e eu ri também.

-Diga aí, bonequinha! Você nunca tinha bebido, não é mesmo? –o ruivo perguntou me cutucando com o cotovelo e eu ri.

-Nunca! Mas essa não vai ser a última! Manda mais que eu aguento! –digo batendo na mesa para acompanhar a euforia dos camaradas enjaquetados.

Talvez eu já estivesse um pouco afetada pelo álcool...

O ruivo fez o mesmo gesto para a garçonete pedindo outra rodada e dessa vez não foi nada demorado, mas uns dois ainda estavam com seus copos cheios de líquido.

Um dia escrevi...Onde histórias criam vida. Descubra agora