Seu amor me pegou

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Era oficial. Eu estava fodido. Muito fodido. Demitido e fodido. Com a mensalidade da faculdade atrasada e fodido. Passando fome e fodido, despejado e muito fodido.

Estava quase trinta minutos atrasado para meu turno na lanchonete do senhor Yakov, e ele havia me prometido que mais um atraso era rua. Mas o que eu poderia fazer? Era final do semestre e eu estava estudando madrugada a dentro, já que eu trabalhava até as onze. Fazer dois turnos no trabalho estava me matando.
Entrei pelos fundos e corri para colocar meu avental, cheguei ao balcão às pressas querendo me explicar o mais rápido possível. Encontrei o Sr. Yakov no caixa.

— Senhor, me desculpe, eu sei que não deveria me atrasar mais. Eu realmente sinto muito, mas eu fiquei... - Fui interrompido pelo velho.

— Tudo certo, Yuri, o Sr. Altin ligou e disse que você teve um imprevisto. Não tem problema o seu atraso. Agora leve este pedido até a mesa oito e este à dez. - Me entregou os pratos que retirou da janelinha que dava para a cozinha e voltou a atenção ao caixa.

Maldito Otabek riquinho de merda. Ele podia enfiar a influência dele bem no cu. Eu não iria admitir que ele me ajudasse, pra depois eu sair com fama de interesseiro. Por mim ele podia ir a merda, ele e toda a merda de dinheiro dele.
Eu havia batalhado muito para estar onde estava.

Sair da Rússia sozinho, me mudar para a América sem nem falar o inglês fluente, tinha conseguido entrar na faculdade de biologia que eu tanto sonhava e tinha conseguido esse emprego em um restaurante Russo. Tudo sem a ajuda de nenhum riquinho de bosta. Eu podia me virar sozinho.

Tentando ignorar esses pensamentos, segui com meu trabalho. Eram apenas oito e meia, eu tinha que trabalhar até o meio dia e correr para a faculdade que começava às treze. E depois tinha que voltar ao restaurante às dezenove. O dia era corrido, e eu mal tinha tempo pra respirar.

Quando o relógio bateu onze e meia o movimento do café da manhã já era quase nulo e as mesas eram preparadas para o almoço. Eu ajeitava os pratos em um armário que ficava em frente aos banheiros, então nem notei quando alguém me empurrou em direção os mesmos e me prensou contra a porta recém fechada.

— Eu não aguento mais ter que te encontrar assim. Como se estivéssemos cometendo um crime. - Beka sussurrou em meu ouvido enquanto passeava suas mãos por meu corpo.

— Eu não quero que as pessoas pensem que eu estou com você por interesse, não tenho culpa de você ser um mauricinho do caralho. -Virei-me para encará-lo - Por quê você ligou pra cá, Beka? Eu preciso arcar com as consequências por me atrasar.

— Porque não é justo, não é justo você ser demitido por trabalhar até tarde e ter que estudar de madrugada.

Ele voltou a me prensar contra a porta, desta vez beijando-me os lábios de forma voraz, eu retribui. Não é como se eu não o amasse. Eu só tinha meus ideais.

— Eu preciso do dinheiro, eu não conseguiria pagar o apartamento somente com o sálario do segundo turno.

— Aquele quarto não pode ser chamado de apartamento Yuri, você pode vir morar comigo. Meu apartamento é grande e a gente não ia precisar se esconder mais.

— Nós já falamos sobre isso, Beka. É o seu apartamento. Que você conquistou com o seu dinheiro. Você consegue entender que eu também quero conquistar as minhas coisas? - acariciei seu rosto e fiz um bico dengoso, sabia como contorná-lo quando aquele assunto surgia.

— Porra, Yura, estamos juntos há dois anos. Dois anos. Eu não sei mais o que fazer pra você entender que eu te amo e que não importa o que os outros vão dizer. Eu quero você perto de mim. Quero te ajudar, e quero que você me ajude. Nós podemos rachar as despesas se você sente essa necessidade. Mas você sabe que esse dinheiro que ganho com as lutas não é tão suado quanto o de um emprego de verdade. Vem fácil. Promete que vai pensar?

K.OOnde histórias criam vida. Descubra agora