Capítulo um – A Marcha Imperial
Era possível avistar, além das chapadas do Norte, que um pelotão de soldados do Império Tyranus aproximava-se de forma desorientada, tendo como objetivo seu encontro com o Palácio Bonaparte, a quem eles dariam a vida. Visto isso, os Guardas-Tyranus, ainda em seus postos, correram imediatamente ao gabinete onde ficava o informante do Imperador Arthur, relatar o testemunhado.
E eram milhares deles, sobre seus cavalos galopantes, calorosos, inesquecíveis para quem já foi vítima de uma visita dos soldados do Império. Os soldados do pelotão imperial marchavam firmemente, sem distrair-se com os movimentos dos cidadãos errantes quando entraram na Capital, Nova Moscou.
O informante, Igor, correu mais veloz do que um leopardo, em direção à sala particular do fiel carrasco do Imperador Arthur, Tales. Ao chegar, a porta permanecia trancada, mesmo depois de tantos murros que ele dava.
- O que houve? – perguntou Tales, da forma mais arrogante possível, ajustando seu roupão sobre o corpo. Era visível que ele estava no banho.
- O senhor tem que avisar o Imperador Arthur que seu pelotão está vindo... E, aparentemente, eles estão trazendo más notícias, pelo padrão de velocidade – disse, ofegante.
- Oh, meu deus – exclamou. – Céus, o Perpétuo Imperador ficará uma fera quando souber disso! Tenho de fazer alguma coisa urgente!
- Então faça, ou não dará tempo de fazer alguma coisa caso a notícia for algo grave.
Tales fechou a porta, pulando as cadeiras flutuantes a base de magnetismo, aflito por atenção do Imperador que deveria estar em mais um dos fartos jantares que costumava dar para sua pequena família.
O Imperador Arthur não tinha filhos, nem esposa; era um velho arrogantemente inepto a regalias, rígido, mas tinha um carinho especial pelos sobrinhos e sua viúva irmã, Clara. Aliás, sentia-se diferente diante deles. Ele não expressava amor, nem compaixão, todavia tinha fortes sentimentos por eles.
Jacobe, o mais velho, era um apaixonado. Carecia de inteligência realista, mas amava sua esposa tão desejada, Mariane, e seus dois filhos gêmeos: Amanda e Benjamin, ambos de dez anos. Mas no fundo de seu coração estonteante, ele guardava entre entranhas uma sinistra paixão e vontade de vê-la... Aquela excêntrica personagem que lhe serviu mais do que como amor, e sim amiga. Ela tornou-se um tabu na sociedade.
Além de Jacobe, o Imperador Arthur possuía mais dois sobrinhos: Luxemburgo e Alicia, ambos solteiros e que juntos, formavam uma perigosa gangue. Diferente do irmão mais velho, Jacobe, e sua mãe, eles tinham vocação para o mal, não tão distintos de seu tio.
E, em meio ao jantar cheio de vinhos tintos das mais caras marcas francesas, Luxemburgo reclamou:
- Sinto que quando este vinho fora produzido, Robespierre estava guilhotinando as cabeças nobres... – disse com seu sotaque forçado; aquela voz vibrante, não tão pior quanto a fina voz de Alicia.
- Mas é essa a graça dos vinhos: quanto mais velhos, melhores – respondeu Jacobe, apertando as mãos de Mariane logo em seguida.
As portas de ferro abriram-se tão rápidas quanto a velocidade da luz, revelando Tales e mais dois Guardas-Tyranus atrás dele, um de cada lado, com seus escudos de letalidade máxima por conta do campo eletromagnético que combatia qualquer objeto inimigo.
- Perpétuo Imperador, o pelotão está vindo – exclamou, tentando fixar seu olhar nos olhos sem expressão de Arthur. – Temos que tomar alguma atitude, ou será tarde demais!
- Como disse, Tales?- ele perguntou, levantando-se de sua cadeira no final da enorme mesa de jantar, coberta por todos os tipos de comidas.
- Vamos fortalecer nossas ordens militares. Sinto que algo de ruim está para acontecer, Imperador Arthur.
- Irei me retirar – disse para sua família. – Fiquem aqui, pois será perigoso sair.
Eles obedeceram sua ordem, por respeito e também por temerem algo de ruim.
O Imperador Arthur andou solenemente atrás de Tales, ficando entre eles e os Guardas-Tyranus, mas ainda assim mantendo sua pose. Eles estavam dirigindo-se à sala de controle militar, onde todas as estratégias de guerras eram feitas, com a altíssima tecnologia bélica e informática. Também havia uma mesa no coração da sala, localizada naquele enorme complexo, onde eram feitas as reuniões no caso de algum problema detectado ou para resoluções de diversos assuntos sobre segurança.
Arthur posicionou-se em sua cadeira, onde sempre sentava nas reuniões. Já faziam dias que ele não comparecia ali, e não tinha nenhuma previsão de ataques ou conflitos, então desconfiou de muitas coisas.
Tales abriu na tela aérea – ou seja, era uma imagem que pairava no ar, sem suporte algum – e deixou que o General Edwin Rommel, que escolheu seu nome militar em homenagem à um dos maiores líderes nas batalhas da África durante a Segunda Grande Guerra do século XX, fizesse as análises da então situação.
- Quero colocar em pauta as dificuldades que estamos tendo quando vamos fazer as configurações da placa mãe de todo o sistema tecnológico nacional.
- E acerca do que estão com problemas, General Rommel? – Arthur questionou.
- Há uma configuração secreta, que só pode ser obtida através de um complexo cálculo que não tem uma fórmula definida. Ela é uma junção de derivadas e anti-derivadas da matemática, e há somente uma pessoa no mundo todo capaz de ajustá-la e fazer com que nosso trabalho progrida, pois só ela é capaz de fazer o cálculo e orientar essa configuração secreta.
- Ah, nada que nos desafie.
- Mas não é qualquer um gênio da matemática, Perpétuo Imperador. Não estou me referindo à algum professor ou doutor em Física... Estou fazendo referência à quem projetou e construiu todo esse país, seu sistema de tecnologia.
- Isso é uma afronta! – protestou Arthur, levantando-se da cadeira imediatamente. – Como ousa tocar em seu maldito nome?
- Não citei nomes ainda, Imperador.
- Mas irá! Ela não. Ela está fora de cogitação. Há 100 anos venho tentado apagar ela da história do país, e agora vocês vêm com a ideia de revivê-la novamente? Vocês já têm tanta tecnologia, têm um conhecimento vasto, são inteligentes. Por que têm dificuldades em resolver esse maldito problema vocês mesmos?
- Porque isso é algo que ninguém, mesmo com toda a tecnologia e inteligência conseguiria. Exceto ela.
- O General tem razão, Perpétuo Imperador – murmurou Tales à Arthur. –Nós precisamos dela. Sei que não queremos, mas infelizmente precisamos.
Ele ficou em silêncio, com a carranca dirigida à mesa de aço flutuante a base de magnetismo. Após alguns segundos, encostou os punhos sobre ela, parecendo estar ponderando sobre o assunto de forma prostrada.
- É necessário. Podemos usá-la em silêncio, o povo não precisa ficar sabendo, senhor Imperador – comentou Rommel.
- Quero que chequem se Fausta Feodorovna está pelas redondezas. Não importa onde ela está morando, quero ela aqui até amanhã ou pelo menos alguns dados sobre ela que facilitem em sua busca – ordenou o Imperador.
- Sim, senhor.
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Fausta Feodorovna
Science FictionA suprema inteligência de Fausta Feodorovna, contemporânea natural do século XXI, tornou possível que tabus científicos, tais como a viagem no tempo, imortalidade e armas com base à eletromagnetismo, fossem quebrados, assim tornando possível que hum...